A (a)MPLA amargura de Irene Neto

O filho do empresário luso-angolano Carlos São Vicente, Ivo São Vicente, foi agora constituído arguido, revelou a sua mãe, Irene Neto (filha do herói do MPLA, Agostinho Neto). O “massacre” continua, diz Irene a partir da capital colonial (Lisboa) de outros tempos.

“Penso que não é necessário estar a afirmar certas coisas, quando nós estamos numa posição em que temos o marido preso e temos um filho constituído arguido”, afirmou numa entrevista à Lusa, em Lisboa, a filha do primeiro Presidente de Angola, herói do MPLA e “pai” dos massacres de 27 de Maio de 1977, Agostinho Neto, e esposa do empresário Carlos São Vicente.

Segundo Irene Neto, da notificação que Ivo São Vicente recebeu não se percebe porque foi constituído arguido, o que é normal no sistema de “justiça” “made in MPLA”. “Não sei, mandaram uma notificação a dizer para apresentar-se [em Angola], porque foi constituído arguido. A data [da carta] acho que é de 30 ou 31 de Dezembro, mas só nos chegou agora”, sublinhou.

Porém, garantiu que o filho, a viver em Lisboa já há algum tempo, não se irá apresentar à justiça angolana, “a não ser que o venham buscar”, afirmou a médica angolana, nascida em Portugal, e que desde Julho último também vive em território português. Embora sendo o reino do MPLA um paraíso, o melhor mesmo é viver no “inferno” que é a antiga potência colonial, usando para isso o direito de terem nascido (ou serem familiares de quem nasceu) num território então considerado português.

A notificação para Ivo São Vicente “é muito lacónica, apenas diz que ele tem de se apresentar no dia seguinte a ter recebido a carta. Obviamente, que não dava para se apresentar em Luanda. Até porque nós não temos meios para pagar bilhete de passagem para Angola e, muito menos, local onde residir [no país]. Porque a nossa habitação também foi apreendida [pela justiça angolana]. Portanto, nós não temos para onde voltar. Praticamente somos exilados em Portugal”, explicou.

Irene Neto admite duas hipóteses na origem da notificação do filho. Uma delas é o facto de este ser gestor de empresas do pai ou que integravam o grupo por ele criado. A outra, para si mais plausível, tem a ver com o facto de Ivo São Vicente “ter estado a dar entrevistas”.

“Como um jovem que é, defende o pai com alguma veemência e poderá ter dito algo que não tenha sido muito bem aceite. Portanto, isto pode ser considerado como uma forma de represália, de pressão sobre o pai, que está lá preso e fica sabendo que o filho foi constituído arguido”, afirmou.

No entanto, e apesar da colaboração judicial entre Angola e Portugal, Irene Neto não receia que o filho possa vir a ser detido em Lisboa. Mas, “nestas circunstâncias, ficamos um bocado reféns do que possa ser exercido como meio de pressão daqui para frente”, frisou. E frisou bem. É que, como se sabe, por regra os governos portugueses fazem tudo o que o MPLA quer, numa atitude bajulação constantemente alimentada. Recorde-se que o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou João Lourenço pela sua vitória nas últimas “eleições”, mesmo antes de os resultados oficiais terem sido divulgados.

Para já, em Portugal, a família de Carlos São Vicente tem algumas das contas congeladas pela justiça, apesar do recurso que interpôs no ano passado para que fosse levantada a medida.

“Estamos insistindo”, sublinhou. Porque já houve uma resposta ao recurso, a instrução do juiz “foi no sentido de descongelar as contas de voltar a abrir, algumas delas”, não todas, só que o banco não cumpriu. E o banco não cumpriu porque a sua decisão está dependente das ordens superiores do… MPLA.

Por isso, “nós temos que resolver a situação”, afirmou, porque o dinheiro é necessário, não só para a família, mas também para Ivo São Vicente manter as empresas que tem em Portugal.

Segundo o despacho que determinou a prisão preventiva do empresário Carlos São Vicente, este teria levado a cabo “um esquema ilegal” que lesou a petrolífera do regime/MPLA, a Sonangol, em mais de 900 milhões de dólares (cerca de 763,6 milhões de euros).

De acordo com o despacho, o empresário angolano, que entre 2000 a 2016 desempenhou, em simultâneo, as funções de director de gestão de riscos da Sonangol e de presidente do conselho de administração da companhia AAA Seguros, sociedade em que a petrolífera angolana era inicialmente única accionista, terá levado a cabo naquele período “um esquema de apropriação ilegal de participações sociais” da seguradora e de “rendimento e lucros produzidos pelo sistema” de seguros e resseguros no sector petrolífero em Angola, graças ao monopólio da companhia.

O ano passado, Irene Neto afirmou-se vítima de um “massacre judicial e mediático” e apelou à libertação do marido, que disse estar “preso injustamente”.

Em comunicado, Irene Neto lamentou a falta de solidariedade dos camaradas de partido, sobretudo – calculamos – daqueles que ajudaram o seu pai a massacrar milhares e milhares de angolanos do genocídio de 27 de Maio de 1977, e afirma estar actualmente sem meios para pagar as suas despesas quotidianas, depois de ver as suas contas congeladas.

Em relação ao marido, detido por suspeita dos crimes de peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influências (acusações estranhas já que, até agora, só envolveram figuras do… MPLA), afirma ser “um cidadão honrado e cumpridor das leis angolanas” que está preso apenas por ter tido “sucesso”.

Irene Neto tem razão. Carlos São Vicente “cumpriu as leis angolanas”. Tal como Isabel dos Santos e todos os dirigentes do MPLA que se limitarem a fazer o que a lei do partido permitia, até porque está no seu ADN. Ou seja, roubar o erário público, fazendo da corrupção a mais nobre qualidade de um partido revolucionário.

Irene Neto acusa as autoridades (do MPLA) de alimentarem “um circo mediático” contra a sua família e diz que o marido é vítima de um julgamento “criado artificialmente e alimentado por sectores bem identificados”… do MPLA.

Estamos em crer que, nesta altura, Irene Neto (tal como a Fundação Agostinho Neto) já terá apresentado mais uma queixa à Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) contra o Folha 8, acusando-nos de liderarmos o “massacre mediático” contra o clã Neto.

No episódio anterior, que agora pode ser reeditado quase “ipsis verbis”, o Folha 8 foi alvo de uma queixa da Fundação Agostinho Neto junto da ERCA por alegadamente instigar “o ódio incendiário” e ofender o primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto, tendo o regulador considerado que as nossas práticas editoriais atentam contra “a honra e dignidade dos obreiros da independência nacional, nomeadamente do Presidente – fundador da República de Angola António Agostinho Neto”.

Em causa, na deliberação do Conselho Directivo da ERCA do MPLA, estava a “ocorrência de alguns factos susceptíveis de esclarecimentos como a comparação do antigo Presidente a personalidades consideradas defensoras da escravatura, feita pelo Folha 8”.

O alegado artigo do Folha 8 onde Agostinho Neto teria sido apontado como escravocrata, não passou de um post (publicação) no Facebook publicado no dia 17 de Junho de 2020 em que não é feita qualquer referência directa a Agostinho Neto.

O ‘post’ diz que “vários países estão a retirar dos espaços públicos as estátuas de assassinos, ditadores e defensores da escravatura. Em Angola está a demorar para que isso aconteça” e foi publicado ao lado de uma foto com um busto do primeiro presidente onde se lê “Assassino Agostinho Neto”, tendo uma grua como pano de fundo.

Na queixa, a Fundação alega que “há mais de 30 anos” o Folha 8 acusa, sem provas, Agostinho Neto de criminoso, ditador e assassino, pretendendo “impor a sua narrativa tirana, desrespeitando a figura do primeiro Chefe de Estado e violando a lei aplicável sem qualquer reacção da ERCA nem do Governo”. Por aqui se vê como o clã Neto está dotado de poderes divinatórios. Repare-se que, apesar de só termos (quase) 26 anos de existência, “há mais de 30 anos” que acusamos Agostinho Neto. É obra!

“O Folha 8, com rigor, não faz jornalismo e, por esse facto, urge aplica a lei e ser imediatamente encerrado”, pediu a Fundação na queixa dirigida à ERCA e assinada pela presidente do Conselho de Administração, Irene Alexandra Neto, filha do ex-presidente falecido em 1979.

“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse nos seus tempos áureos o pai de Irene Neto. “É legitimo que a Fundação defenda o seu patrono e que o MPLA defenda o seu presidente, mas é também legítimo que as pessoas que não se revêm em Agostinho Neto assumam que não lhe reconhecem os valores humanistas de grande libertador e combatente da liberdade”. É igualmente legítimo que Irene defenda o seu marido, pai e filho e que tente, segundo as suas palavras, evitar que lhe façam o que o seu pai fez a milhares e milhares de angolanos – o massacrem.

Por sua vez, das três “acusações” que supostamente o Folha 8 fez ao sogro de Carlos São Vicente (assassinos, ditadores e defensores da escravatura) o Bureau Político do MPLA só contesta a terceira. Assim, dá como provadas e inquestionáveis as duas primeiras: Assassino e ditador. Finalmente.

Folha 8 com Lusa

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One Thought to “A (a)MPLA amargura de Irene Neto”

  1. Observador

    O mpla pode pagar bilhete de passagem ,se nao tem lugar para residir e melhor ir direito a cadeia da Viana esperar a sentenca. Agora a filha do REI DOS DENTOLAS de angola que mostrar que e vitima.
    Se nao comparecer o MANDATO DE CAPTURA sera emitido para facilitar o scenario.

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