Está visto que não adianta chorar

Ontem, 14 de Janeiro, o Novo Jornal apresentou aquilo que a meu ver é um texto magnífico, escrito por Mário Afonso d’Almeida “Kassessa”, e intitulado “As minhas elucubrações: Tinha de ser assim?”.

Por Carlos Pinho (*)

Caro Mário Afonso d’Almeida “Kassessa”, acredito piamente que o senhor tenha escrito aquele texto do fundo do seu coração. Repito ainda, eu acredito piamente que o senhor acredita piamente naquilo que escreveu. Aliás, quem sou eu, um simples desconhecido, que apesar de ter nascido em Angola, trago para os genuínos o anátema da minha ascendência portuguesa e o opróbrio da cor da pele, para fazer julgamentos morais acerca da sua pessoa e daquilo que escreveu.

Mas sabe, há uma frase mortal e que tem mais de 20 séculos, que está aqui a bulir no meu cérebro, “à mulher de César, não lhe basta ser séria”. E aqui está o busílis da questão. Este seu texto é de uma limpidez e clareza notáveis. Finalmente alguns daqueles a que eu chamo os constituintes do MPLA 4 (ver meu artigo na edição do dia 26 de Dezembro de 2020 no Folha 8), e no qual eu considero que o senhor se incluí, começam a pôr as mãozinhas de fora e colocam, se bem que de um modo porventura tímido de mais, a boca no trombone.

Tudo o que o senhor diz no supracitado artigo, é verdade, claro e límpido como a água cristalina que nasce das fontes lá pelas serranias de Angola. Mas quanto à mulher de César, o tal MPLA, tenho muitas dúvidas.

Porém, voltamos ao mesmo, o querido MPLA continua lá como referência intocada do seu texto. Aliás, possivelmente, de outra forma não poderia ser. Seria para si e outros que pensam como o senhor, uma desgraça enterrar de vez o partidão, a quem parece que todos os naturais de Angola, passados, presentes e futuros, irão eternamente dever a liberdade e independência do país.

Claro que refere os disparates e atrocidades que se fizeram nestes 45 anos (muito pela mão do MPLA, embora a FNLA e a UNITA também tenham sido parceiras não despiciendas nas ditas poucas vergonhas), mais ainda, pelo que eu tenho lido parece-me ser a primeira vez que alguém que tão acima esteve (ignorância minha, não sei se ainda está) na hierarquia do partido, acabe por reconhecer publicamente que a Angola que vocês encontraram quando a ela retornaram em 1974 ou 1975 tinha um elevado grau de desenvolvimento. A verdade é que custa ao partido que se considera proprietário do país e das gentes que nele vivem assumir tal evidência.

Sei que é difícil a quem recebeu o poder em Angola de mão beijada, por via de favorecimento de alguns elementos do antigo dominador colonial, os quais, como a história tem vindo a demonstrar à saciedade e à sociedade, estavam mais interessados em justificar as suas opções ideológicas do que a garantir condições para que Angola continuasse na senda do desenvolvimento, assumir a barbaridade de tais procedimentos.

É evidente que o tal desenvolvimento que vocês encontraram e passo a citar o seu texto no Novo Jornal “Em 1973, o País tinha atingido um desenvolvimento económico e financeiro superior ao da “metrópole” e de todas as outras colónias: era já auto-suficiente”, estava baseado em muita desigualdade, opressão, racismo, mas fazer tábua rasa de tudo, destruir tudo alegremente, continuar uma estratégia de compadrio e nepotismo, agora virada exclusivamente para os “camaradas”, mas seguindo as metodologias erradas do Estado Novo, redundou um completo desastre.

E o senhor lá continua com as loas ao Agostinho Neto, esquecendo-se que foi essencialmente por instruções dele que se impediu o retorno de muitos portugueses a Angola, logo após a independência, porque queriam voltar a pegar nos seus negócios, fazendas, empresas, em suma continuar a sua vida num país que se queria novo, não só novo na idade, mas novo de mentalidade. Haveria que fazer correcções! Com certeza! Mas destruir tudo? Entregar tudo a quem não tinha capacidade e competência para dirigir? Entregar tudo aos “camaradas”? Aliás, volto a citá-lo, “E, assim, progressiva e paulatinamente, fomos descambando para a desgovernação, a partidarização do Estado, o compadrio, a bajulação, a direcção autocrática e o suborno corruptivo (os dez/trinta por cento); uma economia errática e baseada na exploração petrolífera, desleixando-se os outros sectores do desenvolvimento ao “deus dará” por de menor valia. Tal situação levou ao descrédito e ao descontentamento da maioria da população, sendo frequente ouvir-se frases saudosistas como estas: “quando é que acaba a independência”; “éramos felizes e não sabíamos”; “uma cambada de corruptos” e de “ladrões”.”

É evidente que depois apareceu o saudosismo insensato e irrealista, mas tal deve-se agradecer ao MPLA, aquele a que eu chamei o MPLA 2 (volto ao meu artigo na edição do dia 26 de Dezembro de 2020), o da malandragem, da gatunagem. O qual aliás, para que conste, está muito bem de saúde e de finanças, e que como tal se recomenda.

Agora, não tenha ilusões, a grande maioria dos jovens, que frequentou o Sistema de Ensino do MPLA, ao qual eu gosto de chamar, “A máquina de fabricar imbecis”, está bitolada pelo MPLA. Não por culpa deles, jovens, pobres coitados, mas por culpa do partidão. É sempre mais fácil controlar uma massa ignara. Dá-se-lhes umas cervejas, umas sandes, umas camisetas amarelas, uns bonés encarnados, e lá ficam eles homens e mulheres a cantar hossanas à dicotomia povo-partidão. Haja música! Olhe, a vice Damião lá do partidão é um caso paradigmático, embora, verdade seja dita, já não seja tão jovem assim. Mas é um exemplo do produto acabado da tal máquina educativa.

Há os felizardos, filhos de figuras gradas do partidão que vão para o estrangeiro aprender novos mundos. Ou que por outros acasos da fortuna também conseguem sair dessa camoniana apagada e vil tristeza. E os honestos, conseguem enxergar a verdade e se voltam, quando voltam, regressam revoltados. Mas infelizmente não chegam. Até porque na verdade os mais pragmáticos bazam de Angola. E muitos dos filhos dessas tais figuras gradas, são tão patifórios quando os seus progenitores, senão piores.

Mas sabe, o sistema propagandístico do partidão é tal que aqui em Portugal a pressão dos controleiros desse malfadado partidão sobre aqueles que por cá estudam é brutal. E mais não posso explicar porque iria colocar gente boa e jovem em risco.

Em suma, vai ser necessário esperar sentado até que haja jovens em quantidade suficiente para futuramente mudar Angola. O meu medo é que antes disso Angola desapareça na voragem rapinante dos seus governantes.

O senhor, pergunta, aliás logo no título do seu artigo, “Tinha de ser assim?”. Pois eu acho piamente que sim, tendo em atenção o tipo de gente que dominava o MPLA. A história é bem clara nesse aspecto.

E mais, tendo em atenção o tipo de gente que continua a dominar o partido, e consequentemente Angola, vai continuar a ser assim. Se por muitas gerações, ou poucas gerações, não sei. Mas o que sei é que o caminho que escolhemos seguir no futuro depende sempre muito do caminho percorrido até ao presente, e os 45 anos de história de Angola não auguram nada de bom.

Oxalá eu me engane!

De qualquer modo, obrigado pelo seu artigo, lavou-me a alma! A menos das loas ao Agostinho Neto, é claro!

(*) Professor da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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One Thought to “Está visto que não adianta chorar”

  1. observador

    Nao me interessa , so sei que em portugal so existe professores e engenheiros .
    Esta terra Angola a sua independencia foi golpeada e cobicada por portugueses do SAUDOSISTAS E SEQUELAS do Salazar , FASCISTAS e EXTREMISTAS RADICAIS E RACISTAS do PARTIDO COMUNISTAS PORTUGUES . Deram o golpe como o IAN SMITH fez na antiga Rodesia , eles conseguiram o fazer em angola , Usaram A.NETO e o mpla e alguns SARCOPTIC MANGE angolanos negros para continuarem com a neocolonizacao ou o mpla destes 45 anos estabelecer o ANTIGO SISTEMA DE CORRUPCAO DA ANTIGA BABILONIA EM ANGOLA para beneficiar portugal . Nao chorem com lagrimas de crocodilo , Portugal falou alto quando os Cubanos instalaram se em angola , em LISBOA HAVIA LETREIROS A DIZER ” CUBANOS FORA DE ANGOLA ” Isto nao era favor , mas era a NOSTRALGIA , RAIVA , REMORSO ODIO , etc para regressarem em angola para recoperar o que nao conseguiram no tempo da colonizacao . Quem mata angola e portugal , no apio a UNITA , para recrudescer a guerra na pessoa de MARIO SOARES e por outro lado do MPLA os vampiros do PARTIDO COMUNISTA PORTUGUES , e SEQUELAS DO FASCISMO PORTUGUES na sua propaganda etc . Antes e depois da assinatura de ACORDO DE BISSECE Portugal ja era a sede da CORRUPCAO , os corruptos ditos angolanos roubaravam e fugiam em portugal onde perdiam os tracos , Recordem o caso Sao Vicente a roubar desde 1975 na escuridao . Vem o CASO ZECA SIBERIA a maioria implicada sao descendentes destes sequelas portugueses que fugiram em berco portugal , As eleicoes de 1992 ai portugal mostrou a sua face como em 1975 , portugueses vieram em apoio ao MPLA na REPRESENTACAO DA TROICA na pessoa de DURAO BARROSO que fez declaracoes sem provas ,que INCENDIARAM , OU EXCITARAM O RETORNO DA GUERRA , Foi ele que o SALAZARISMO apontou para confundir a opiniao nacional e internacional que a culpa era da UNITA que nao queria aceitar os resultados eleitorais , Hoje existe evidencias de outras eleicoes seguintes da FRAUDE ELEITORAL . Por traz de tudo o plano era manter o mpla no poder em troca de somas astronomicas ao JUDAS DURAO BARROSO , o ACORDO foi trazer de volta os engeheiros e doctores portugueses como INTERNACIOLISTAS em materia de CORRUPCAO , e isto ajuda do CAVACO SILVA . E verdade nao e conscidencia desde que o DURAO BARROSO subiu como mandao daUNIAO EUROPEIA a corrupcao em angola atingiu o se AUGE , Todos casos de CORRUPCAO EM ANGOLA tinha e tem a sede em portugal , entre a BURLA , EMPRESAS ATIFACTICOS , que ate 2019/2020 o jovem portugues publicou a EXPLOSAO DO KAMBALACHO E TUDOO VEIO A TONA . jose eduardo dos santos , ee filhos , sao vicente m manuel vicente , isabel dos santos , dino kopelipa , kundi paihama , e TODOS SARCOPTSES ,LAMBOES , CORRUPTOS encontra na tela e ate hoje ninguem esta preso porque o proprio presidente tambem e o VERDADEIRO PROTECTOR E PROMOTOR no trespassado seguia na mesma SENDA . Agora o que me dizes ? TODO O DINHEIRO DOS ASSALTANTES PORTUGUESES ROUBADO EM ANGOLA ESTA EM PORTUGUAL .

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