João Lourenço, candidato do MPLA à presidência angolana, por sinal já Presidente do MPLA e da República, bem como Titular do Poder Executivo, voltou hoje a falar da corrupção como ponto central do seu discurso, elogiando (é claro) os “fortes” que tiveram a coragem de combater este problema, ao contrário dos que acreditavam na autodestruição do partido.
João Lourenço, líder do MPLA (partido no Poder há 47 anos) e que se recandidata a um novo mandato como Presidente da República de Angola, discursou na província onde nasceu, Benguela, onde apresentou as requentadas linhas mestras do programa do governo e as suas realizações no actual mandato, que está prestes a terminar.
Insistiu na coragem de ter combatido a corrupção, como se alguém acreditasse em alguém que disse não ser ladrão apesar de ter visto roubar, ter participado nos roubos e beneficiado dos roubos, num discurso cheio de recados aos adversários da UNITA, que não nomeou, mas que disse terem esfregado “as mãos de contentes” quando se decidiu a combater este crime. Adversários com os quais teve medo de debater frente a frente, revelando a sua genética capacidade de ser forte com os fracos e muito fraquinho com os fortes.
“Olha, começou a autodestruição do Movimento Popular de Libertação de Angola, pensavam, erradamente. Pensavam que os mais de três milhões de militantes do MPLA eram corruptos? Isso é possível, é credível, será que os três milhões ou mais são corruptos?”, questionou os seus apoiantes, durante um comício no âmbito da campanha eleitoral.
“Corruptos são alguns, não se pode considerar que somos todos, senão não seríamos nós próprios a ter a coragem de corrigir e combater a corrupção”, salientou, num brilhante raciocínio capaz de ombrear com qualquer símio, mesmo que estes possam… votar.
“Eles viram a determinação com que se começou a combater a corrupção e bateram palmas, embora cá fora digam que é uma farsa e que não estão a combater a corrupção, como se eles estivessem… Porque eles também têm corruptos no seu meio e não fazem nada”, acusou. Não está mal. Não justifica, mas lembra a todos os angolanos, que o MPLA é (talvez a nível mundial) o partido com mais corruptos por metro quadrado.
Antes pelo contrário, disse João Lourenço: “Nós saímos muito mais fortes pelo facto de termos tido a coragem de ser nós a tomar as medidas que se impunha, de dizer “basta”, fomos nós que o fizemos”. E o que fez enquanto foi figura privilegiada (dirigente do MPLA, ministro de José Eduardo dos Santos, invertebrado “yes woman” de Isabel dos Santos) na gamela do erário público? Nada.
O líder do MPLA voltou a apelar ao voto no 8, posição que o partido ocupa no boletim do voto onde existem oito escolhas partidárias, e que corre pela continuidade para voltar a assegurar o governo de Angola que domina desde a independência, em 1975.
“Nós somos poder, os outros não são poder, e pelo facto de sermos poder temos obra a apresentar, a mostrar e essa obra é de grande dimensão”, frisou, elogiando o executivo que tem feito “bastante” em prol de Angola e dos angolanos. Desta vez, apesar de 47 anos de governo, João Lourenço não falou da “Califórnia de Benguela” nem do Caminho-de-Ferro de Benguela que, recentemente, disse deve voltar a funcionar bem… “tal como no tempos colonial”.
João Lourenço congratulou-se ainda com a realização de cultos ecuménicos em prol das eleições, elogiando as igrejas e a sociedade civil: “A verdadeira sociedade civil, não aqueles lúmpenes, não aqueles bandidos a quem eles chamam de sociedade civil – essas sim, têm uma postura patriótica” para que as eleições gerais decorram num clima de paz e estabilidade.
E por falar no CFB, criado (obviamente) pelo MPLA…
O Estado investiu mais de dois mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros) na reabilitação e modernização do Caminho-de-Ferro de Benguela, anunciou em Setembro de 2021 o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu.
Segundo o ministro, o investimento visou a reabilitação e modernização das infra-estruturas e meios circulantes do corredor do Lobito, para torna-lo disponível para os agentes económicos e população, bem como para os cidadãos das vizinhas República Democrática do Congo e da Zâmbia, bem como permitir uma cada vez maior integração regional e intercontinental das economias desses países.
“Estamos certos do factor decisivo para o aumento da competitividade global dos produtos de exportação da região e para a redução do custo de vida das populações dos nossos países, que operação eficiente e segura do corredor do Lobito pode trazer”, referiu.
O governante angolano sublinhou que o concurso então lançado “está baseado nas melhores práticas e requisitos internacionais e no mais estrito respeito pela legislação e regulamentação em vigor, por forma a garantir pela sua relevância mundial o binómio de atractividade e segurança jurídica para os entes participantes privados e em simultâneo a legítima defesa do interesse público nacional e compensação económica directa e indirecta para o Estado angolano”.
A linha férrea de Benguela, salientou Ricardo de Abreu, tem um potencial grandioso que ultrapassa os limites de Angola, sendo um marco regional, que gera muitas expectativas no continente face ao elevado número de consumidores na região por onde vai circular, no interior do país, e na RD Congo e, futuramente, Zâmbia.
“Este é o momento de provarmos a nós e aos nossos irmãos de que o investimento feito na reabilitação e modernização do Caminho-de-Ferro de Benguela não foi em vão e vai, brevemente, dar os seus merecidos frutos. Uma linha férrea em Angola, mas ao serviço de toda uma região, que, ao iniciar no Porto do Lobito, poderá chegar a Dar-es-Salaam, Tanzânia, bem como depois da prévia conexão com a Zâmbia atingir Moçambique”, destacou.
A linha férrea que liga o Lobito ao Luau é a maior de Angola, com uma extensão de 1.344 quilómetros e liga o Porto do Lobito, na costa atlântica, à povoação fronteiriça do Luau, província do Moxico.
Actualmente, a principal fonte de rendimento do Corredor do Lobito está assente no transporte de produtos minerais provenientes da exploração na região do Copperbelt (englobando a RDCongo e Zâmbia) no sentido descendente (Luau/Lobito) e com destino à exportação para o mercado internacional.
O transporte de combustíveis no sentido Lobito/Luau, com vista a suprir as necessidades de importação para consumo nacional na Zâmbia e RD Congo, bem como o serviço de transporte de carga geral de âmbito essencialmente regional entre os principais pontos de troca comercial ao longo da extensão do corredor constituem também fontes de rendimento do Caminho-de-Ferro de Benguela.
Uma questão de memória dos “matumbos”
No dia 13 de Outubro de 2020, João Lourenço “descobriu” que o país tem condições para ser uma potência agrícola no continente africano, o que ainda não aconteceu porque falta “formar o homem”. Há quem diga que o seu trabalho de casa foi ler o que, antes de 1975, os portugueses fizeram por cá…
As declarações foram proferidas no Malanje, após a inauguração do Instituto Superior das Tecnologias Agro-Alimentares de Malanje (ISTAM), que resultou de uma parceria com França.
Apontando o país europeu como “uma potência agrícola”, João Lourenço, destacou que se Angola souber tirar proveito desta colaboração “é muito provável que Angola também venha a ser uma potência agrícola no continente africano”.
Para o chefe do executivo angolano, que respondeu a perguntas relacionadas com a sua visita ao Malanje, este “é um sonho realizável”.
“Temos condições objectivas para poder alcançar este sonho, temos boas terras, abundância de água, precisamos é de formar o homem e o que se vai fazer nesta instituição é precisamente formar o homem”, no quadro da cooperação com França, indicou.
João Lourenço referiu que a instituição de ensino superior “vem cobrir uma grande lacuna” relacionada com a necessidade de transformação dos produtos do campo, que exige conhecimentos técnicos especializados.
O Presidente afirmou que o país começa a ter já alguma produção agrícola “mas, lamentavelmente, não apenas devido às dificuldades de escoamento, mas sobretudo devido à falta de indústrias de transformação e processamento dos alimentos, muito produto se estraga”.
Mas adiantou que o governo tem dado uma atenção particular à educação e ensino, sobretudo ao ensino superior, que se materializa neste caso no ISTAM, onde os jovens vão “aprender as técnicas mais modernas para transformação dos produtos do campo”.
Deixou também uma mensagem aos investidores que queiram investir no agronegócio e na agro-indústria de que terão os quadros técnicos que precisam para a transformação dos produtos locais.
Segundo João Lourenço, o objectivo é replicar o projecto noutros pontos do país onde existam “candidatos a formação”, com realce para outras províncias com potencial agrícola próximo do de Malanje, como o Uíje e o Cuanza Norte.
Embora saibamos que também João Lourenço prefere ser assassinado pelos elogios do que salvo pelas críticas, vamos continuar a tentar salvá-lo. E no caso presente, republicanos o artigo de Carlos Pinho, angolano, Professor da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, publicado no Folha 8 em 6 de Julho de 2020, sob o título “Antes havia. Hoje não há, culpado há só um”:
«Caro Senhor Presidente João Lourenço. Gostei de saber que V. Exa., na altura da inauguração do novo Instituto Geológico de Angola, em Luanda, tenha referido, no seu discurso que Angola tem muito mais recursos minerais além de petróleo, gás natural e diamantes.
Pois tem, e mais ainda, tem, ou devia ter outro tipo de recursos, tais como agrícolas, silvícolas, pesqueiros, turísticos e humanos. Mas a fixação nos recursos naturais minerais é uma fixação mórbida. Como dá imenso trabalho actuar noutras áreas, nesta dos recursos minerais é só escavar e há sempre estrangeiros dispostos a tal. Portanto toca a cavar.
Pois lá no antigamente, no tempo colonial, havia maior disparidade de recursos, a começar pela gente, que apesar de serem uns patifórios colonialistas, olhavam para Angola com outros olhos. Refiro-me ao que se passou de 1961 a 1974, por força da guerra colonial, pois, como já disse em escrito anterior, os governantes coloniais, em pânico porque iam perder a jóia da coroa, meteram pernas a caminho. Foi um esforço inútil para se conseguirem os objectivos de controlar e manter a tal jóia da coroa, mas foram esforços bem conseguidos para o bem-estar dos angolanos. Sim, com muitas contingências sociais, económicas e rácicas, ou seja, um interesse oportunista do regime colonial. Mas quando houve a oportunidade de se corrigir o tiro foi o disparate que se sabe. Sei que estou sempre a dizer o mesmo, mas sabe Senhor Presidente, eu tinha e tenho a esperança que água mole em pedra dura…
Mas a persistência obstinada do partido que governa, melhor dizendo, desgoverna o país, já para mais de 45 anos acaba por levar a situações caricatas e vergonhosas.
Continuando nisto de “há mais do que petróleo, gás natural e diamantes” gostaria de relembrar a V. Exa. que:
– Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café;
– Angola em 1974 era o quarto maior produtor mundial de algodão;
– Angola em 1974 era o primeiro exportador africano de carne bovina;
– Angola em 1974 era o segundo exportador africano de sisal;
– Angola em 1974 era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe;
– Angola em 1974, por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;
– Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;
– Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME;
– Angola em 1974 tinha pelo menos, que eu saiba, três fábricas de salchicharia;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas;
– Angola em 1974 tinha, que eu saiba, pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;
– Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor;
– Angola em 1974 tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande. Sendo que, como estas fábricas depois começaram a criar ferrugem por culpa dos malandros dos colonos que se foram embora, os amigos cubanos do MPLA lá as empacotaram e as levaram para a terrinha deles. Corrijo, deixaram as paredes. Vá lá, sempre deixaram algo;
– Angola em 1974 era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.
E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e… Bom, acho que já chega!
Mas Senhor Presidente, a rapaziada do seu partido, capitaneada por esses dois patifórios que foram os dois primeiros presidentes do país, desbarataram alegremente esta malfadada herança colonial da qual, foi por mim, nos parágrafos atrás referida uma parte não despicienda. Deixei propositadamente de lado a parte da educação e da saúde, simplesmente por razões humanitárias da minha pessoa em relação a V. Exa. e à digníssima colecção de mandraços que constitui o Bureau Político do MPLA, doravante designada por BPMPLA, já que a prosa vai longa e custa-me escrever um palavrão assim tão complicado.
É que eu queria falar-lhe do BPMPLA, já que V. Exa. fez por lá, na abertura dos últimos trabalhos do dito BPMPLA, um discurso choroso, sobre os mauzões que malham, malham, sem respeito por tais augustas pessoas. Mas então V. Exa, após ver o rol do “há mais do que petróleo, gás natural e diamantes” que acabei de enunciar, ainda acha que os que malham, malham é que são os malandros? Não se convenceu do que os mauzões são outros e que andam de paredes meias consigo?
Então eu passo a explicar! Mas olhe que não preciso de ir ao Folha 8, vou apenas ao Correio Angolense e refiro unicamente duas das suas mais recentes crónicas. Uma intitulada “MPLA inaugura precedente revisionista da História” e outra intitulada “Em Lisboa e Porto a “farra” está no ponto”. Para já, vou começar pela segunda. Neste texto está mais do que provado e explicado por onde anda a malandragem que vem impunemente saqueando Angola. A fonte é por demais conhecida, e por isso não me alongo mais. O partidão está para durar!
Mas o primeiro texto, Ah! O primeiro texto! Que depois até foi publicado pelo Folha 8. Aí subiu-me a mostarda ao nariz.
Então os senhores do BPMPLA, e já agora do MPLA como um todo, e os seus simpatizantes, e cantadores de loas, não têm um pingo de vergonha na cara e votam ao ostracismo mais abjecto, o Viriato da Cruz e o Mário Pinto de Andrade? A coisa é tão nojenta que a esposa do Viriato da Cruz, em desespero de causa pediu ao Governo Português que lhes dessem passaportes para que pudessem sair da China, onde estavam retidos por ordens da direcção do MPLA. Ao que os senhores do MPLA chegaram, mormente o A. A. Neto e sua pandilha para levaram a senhora a pedir socorro ao regime colonial. Que falta de humanidade! E o Mário Pinto de Andrade que teve na Guiné-Bissau a dignidade que lhe foi recusada por Angola?
E podia ainda falar do tratamento que o A. A. Neto deu ao Dr. Hugo Azancot de Menezes, mas a conversa já vai longa. Isto é uma espiral infinda de maldades e esquecimentos propositados que só mostra a falta de nível daqueles que se apoderaram do poder em Angola
Só um à parte, para haver justiça a Universidade de Luanda devia ter sido baptizada como Universidade Viriato da Cruz, enquanto aquela do Huambo se devia chamar Universidade Mário Pinto de Andrade. Mas a vida é o que é, e a falta de vergonha dos homens é por demais conhecida.
Concordo consigo, Senhor Presidente João Lourenço. Em Angola “há mais do que petróleo, gás natural e diamantes”, e há principalmente muita gente muito ordinária que não merece o mínimo de respeito e consideração. E segundo o artigo do Correio Angolense “Em Lisboa e Porto a “farra” está no ponto”, eles pegaram no seu pé. Não vai sacudi-los? Ou será que o senhor está conivente com eles?»