Justiça dos EUA investiga negócios de João Lourenço

Um empresário norte-americano que financiou e apostou fortemente na campanha de Donald Trump para a Presidência dos EUA usou a sua aproximação com o novo inquilino da Casa Branca para fazer negócios com Angola em troca de vantagens para o país e seus dirigentes. João Lourenço é citado em investigação, segundo o jornal The New York Times.

O jornal The New York Times, na sua edição de 25 de Março, relata como Elliot Broidy tenta “caçar” negócios usando a sua aproximação a Trump.

Além de outros casos citados, o jornal escreve que, “numa carta datada de 3 de Janeiro de 2017 e enviada por email a oficiais de topo do Governo angolano, Elliot Broidy indicava que procedia ao envio de um convite para as celebrações da posse do Presidente Trump, bem como uma proposta para a Circinus (empresa de que é dono) prestar serviços de segurança em Angola”.

João Lourenço, na altura ministro da Defesa e já candidato presidencial do MPLA, terá recebido uma carta mais tarde de Elliot Broidy a pedir uma resposta até 9 de Janeiro daquele ano, já com o documento assinado de um acordo de 64 milhões de dólares e válido por cinco anos.

O jornal acrescenta que três dias antes da posse de Donald Trump, a 17 de Janeiro, “os angolanos efectuaram um pagamento de seis milhões de dólares à Circinus”, mas, ainda segundo o The New York Times, citando fontes próximas de Elliot Broidy, o pagamento terá ficado aquém do combinado.

Promessas

Ainda de acordo com o jornal norte-americano, João Lourenço terá sido inclusivamente convidado para o resort de Donald Trump em Mar-a-Lago (ou Casa Branca de Inverno, um dos locais de eleição de Trump desde que tomou posse), na Flórida, mas o agora Presidente angolano nunca respondeu.

Depois da posse de Donald Trump, o empresário de Los Angeles, que apoiou o pré-candidato republicano Ted Cruz até que este desistiu da corrida à Casa Branca, ofereceu-se na altura para conseguir encontros entre João Lourenço, ainda ministro da Defesa, com autoridades americanas.

“Vários preparativos foram feitos para receber a sua visita, incluindo reuniões adicionais no Capitólio (Congresso) e no Departamento de Tesouro”, escreveu Elliot Broidy num dos emails, enquanto noutro pedia “por favor, processem o pagamento imediatamente”.

Encontros na Casa Branca

Mais tarde, depois da posse de João Lourenço como Presidente de Angola, o apoiante de Donald Trump voltou a disponibilizar-se para promover uma maior aproximação entre os dois países, prometendo, inclusive, encontros com o Presidente e o vice-presidentes americanos.

João Lourenço, ainda de acordo com o jornal, não respondeu às propostas nem o Governo de Angola fez qualquer pagamento adicional.

O The New York Times descreve Elliot Broidy como um empresário que tem usado a sua aproximação ao Presidente americano para atrair políticos, na sua maioria de países com um elevado nível de corrupção e de falta de transparência, que depois usam fotos e pequenos apertos de mãos com Donald Trump para ganhos políticos nos seus países.

Na investigação agora publicada são citados, entre outros, o presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso e responsáveis da Roménia, Tunísia e países árabes.

Angola na Imprensa dos EUA

Os jornais norte-americanos The New York Times e The Wall Street Journal publicaram no dia 22 de Agosto de 2017, véspera das eleições angolanas, reportagens que abordam a corrupção em Angola, que “coloniza” Portugal para lavar dinheiro.

“O colonizador passou a colonizado”, lê-se na reportagem do The New York Times, intitulada “Portugal dominou Angola durante anos. Agora os papéis inverteram-se”. A extensa peça começa em Cascais, no Estoril Sol Residence, luxuoso bloco de apartamentos na marginal que atraiu a elite angolana – segundo o jornal, o prédio já é conhecido como “o prédio dos angolanos”.

Um dos proprietários da luxuosa Estoril Sol Residence mencionados pelo The New York Times é o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, que terá pago cerca de 2,8 milhões de dólares pelo 9º andar com vista para o mar. Lembre-se que Manuel Vicente é suspeito de ter corrompido o procurador Orlando Figueira para que arquivasse dois inquéritos, um deles o caso Portmill, relacionado com a alegada aquisição deste imóvel de luxo no Estoril.

De caso em caso, o jornal norte-americano vai sustentando a existência de uma elite angolana, que acumulou fortunas e que está a lavar dinheiro em Portugal. Entre os exemplos dados pelo The New York Times, também consta o de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola e (ainda) presidente do MPLA, que foca a sua actividade num escritório discreto de localizado ao lado da Louis Vuitton da Avenida da Liberdade, em Portugal. “Isabel dos Santos tornou-se uma das figuras mais poderosas de Portugal, ao comprar posições importantes na banca, nos media e no sector da energia”, escreve o diário.

Já o The Wall Street Journal, que foca o seu artigo na Operação Fizz, considera que se criaram condições perfeitas em Portugal para a lavagem de dinheiro angolano. Ao ficar rica em petróleo, Angola beneficiou do boom do ouro negro, enriquecendo a liderança de José Eduardo dos Santos. Os angolanos passaram a poder comprar o que os portugueses, que sofriam de uma crise financeira, não eram capazes de adquirir.

O “poderio” da elite angolana e a “permissividade” portuguesa foram a tempestade perfeita para a corrupção em Angola. “Os portugueses sabem como os angolanos são proeminentes a alegadamente afunilarem milhões de dólares em imóveis de luxo, apesar dos cidadãos angolanos serem dos mais pobres do mundo.

“Angola está frequentemente no topo dos países mais corruptos do mundo e Portugal destacado pela sua permissividade no combate ao branqueamento de capitais e à corrupção, particularmente em relação aos angolanos, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico”, escreve o diário norte-americano. Ao jornal norte-americano, Ana Gomes, deputada do Parlamento Europeu, diz que Portugal é conhecido em Angola como “lavandaria”.

Folha 8 com VOA

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