NUAS EM DEFESA DA JUSTIÇA

As mulheres dos activistas angolanos condenados (pelo MPLA) em Setembro, por suposta desobediência e resistência, queixaram-se hoje da falta de apoio e prometeram marchar nuas, em Luanda, em protesto contra a “prisão injusta”, pedindo a intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, que para além de ser quem manda na “justiça” é, igualmente, Presidente do MPLA e Titular do Pode Executivo.

Esta posição foi apresentada hoje em conferência de imprensa, convocada por mulheres activistas, onde intervieram as companheiras dos jovens detidos há mais de dois meses, por terem tentado (o MPLA traduz “tentar” como sendo “desobediência e resistência”) participar numa manifestação em Luanda, em solidariedade com os moto-taxistas.

As mulheres de Gilson Moreira da Silva “Tanaice Neutro”, Adolfo Campos, Hermenegildo André “Gildo das Ruas” e Abraão Pensador, os quatro activistas presos, lamentaram as condições em que estes se encontram, “sem alimentação e assistência médica”, referindo tratar-se de uma prisão “injusta”.

Yared Bumba, que fez a leitura da nota de imprensa, disse que os activistas foram condenados sem oportunidade de revisão das penas, acrescentando que estes estão detidos em estabelecimentos distantes sem direito a visitas de familiares e outros activistas o que, entenda-se, na tese do Poder vigente (do MPLA há 48 anos) é uma demonstração inequívoca do respeito pelos direitos humanos.

Segundo Yared Bunda os advogados interpuseram recurso, que foi indeferido pela juíza da causa, dando nota que um novo recurso “está engavetado há quase um mês”.

“Nós, mulheres activistas, junto com os familiares dos nossos irmãos vamos agora dar cinco dias para o Governo angolano se pronunciar, o mais rápido possível, se não quiser ver as mulheres nuas no Largo 1.º de Maio ainda na próxima semana”, prometeu.

Rosa Mendes, esposa de Adolfo Campos, criticou a “condenação injusta” dos activistas, que lutam pelos direitos humanos em defesa do povo angolano, referindo que os filhos estão privados dos pais, que são os provedores das respectivas famílias.

“Estamos já aqui dispostas a dizer ao senhor Presidente (da República), João Lourenço: você é pai, tem filhas com os seus maridos, mas eu não, durmo e acordo sozinha porque o meu marido está a dormir no chão, com bandidos altamente perigosos”, lamentou.

A activista prometeu ainda que o grupo das mulheres dos activistas vai processar a juíza que indeferiu e “engavetou” o recurso e querem protestar defronte dos ministérios do Interior e da Justiça e Direitos Humanos em prol da libertação dos activistas.

“De seguida, nós iremos com as nossas famílias a estes ministérios e, logo a seguir, nós iremos nuas, porque é isso que vocês querem”, atirou.

Grávida, a esposa de “Tanaice Neutro” também deu o seu rosto e voz na conferência de imprensa, reiterando que os activistas “foram presos injustamente pelo Governo angolano” e prometeu lutar nas ruas pela sua libertação.

“Não conseguimos visitar os nossos maridos porque o Governo angolano pensa que é dono do país. Viemos aqui denunciar tudo quanto está a passar-se com os nossos maridos e não importa se vamos morrer, mas nós vamos sair para pedir que soltem os nossos esposos porque nós estamos cansadas com este Governo”, afirmou Teresa Cawanga.

Teresa exibiu também, na ocasião, fotos sobre o estado de saúde de Tanaice Neutro, referindo que este está impedido de fazer uma cirurgia de que necessita por estar privado da sua liberdade.

Um recado ao Presidente angolano, João Lourenço, foi ainda deixado por Lemba Paulo, esposa do activista Abraão Pensador, pedindo que o chefe de Estado se pronuncie dentro de cinco dias, reiterando que se isso não acontecer vão sair à rua nuas em protesto.

“Presidente da República, um recado para si, tens cinco dias para te pronunciares, caso não o faças garanto-te que vais ver aquilo que não querias ver, não vamos derrubar nenhum património público, mas garanto que o nosso corpo nu o senhor (Presidente da República) verá”, assegurou.

A conferência de imprensa decorreu na conhecida “Biblioteca Despadronizada”, no município de Viana, em Luanda, espaço de leitura improvisado debaixo de uma passagem pedonal sob responsabilidade de activistas.

Folha 8 com Lusa

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