ATÉ NOS QUINTAIS VAI HAVER FARTURA DE ARROZ

O Ministério da Agricultura e Florestas prevê um crescimento da produção de arroz em todo o país de mais de 70 mil toneladas em 2025. Isaac dos Anjos assumiu, recentemente, a pasta e não resistiu a fazer mais uma mão cheia de promessas. Nada de novo, portanto. Aliás, já fora ministro da Agricultura e do Desenvolvimento Rural entre 1990 e 1997 e vice-ministro da Agricultura entre 1987 e 1990.

A produção do arroz é assegurada, actualmente, por 1.244 produtores espalhados por todas as províncias, sendo uma das culturas prioritárias definidas pelo Executivo (há 49 anos, recorde-se), no âmbito das políticas que visam atingir a segurança alimentar.

De acordo com dados da Associação Agro-Pecuária de Angola (APPA), a produção de arroz quintuplicou em dois anos, passando para 50 mil toneladas no corrente ano, contra dez mil toneladas produzidas em 2022.

A APPA indica ainda que, no período em referência, as importações deste importante cereal na dieta dos angolanos tem vindo a recuar, tendo passado de 545 mil toneladas em 2022, para 270 mil toneladas em 2024. Isto, é claro, num contexto em que 20 milhões de angolanos são pobres e em que o Executivo do MPLA continua a tentar ensinar o Povo a viver sem… comer.

No dia 22 do mês passado, o Presidente general João Lourenço, voltou a registar mais uma obra-prima do anedotário nacional, ao dizer que o país “tem tudo para dar certo” no sector da agricultura, mas precisa de melhor organização e de políticas que maximizem os recursos disponíveis, como água abundante e terras aráveis. Ou seja, se o “país deu certo” no sector da agricultura no tempo dos portugueses, tem tudo há 49 anos (com excepção de competência) para voltar a dar certo.

O general que, por sinal, para além de ser Titular do Poder Executivo é também Presidente do partido que está no Poder há 49 anos, afirmou que “o nosso país tem tudo para dar certo neste domínio da agricultura, tudo ou praticamente tudo: terras aráveis, água abundante, bom clima, gente com vontade de trabalhar, as famílias, sobretudo”.

Falando no Palácio Presidencial, após conferir posse aos novos ministros da Agricultura e Florestas, Isaac dos Anjos, e do Ensino Superior, Albano Vicente Ferreira, considerou que a agricultura familiar “está a crescer a olhos vistos”.

“Existe muita produção no campo, de praticamente todos os bens essenciais ao consumo, precisamos é de organizar melhor, de ter políticas que possam maximizar os recursos disponíveis neste sector”, referiu o general João Lourenço, certamente chateado por não poder no sector agrícola (como em quase todos os outros) demonstrar que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500.

Para João Lourenço, as fábricas de fertilizantes do Soyo e de vacina animal do Huambo, em construção, são investimentos de que o país precisa para dar o “tão esperado salto” na produção agrícola.

A Isaac dos Anjos (que substituiu António Francisco de Assis, nada lhe adiantando dizer que “João Lourenço é um diamante raro em Angola), o chefe do executivo pediu “mais ambição”, numa altura em que, notou, se fala da necessidade do “combate à fome e à miséria” (20 milhões de pobres, recordamos) e da necessidade de se garantir a segurança alimentar.

Em declarações aos jornalistas, Isaac dos Anjos garantiu trabalhar para que a agricultura angolana seja a “arte de enriquecer alegremente”, considerando que o país precisa de “discutir o conceito de segurança alimentar” para se “diversificar a oferta”.

A agricultura familiar compreende 91,5% das explorações agrícolas em Angola, sendo 66% ainda feita com recurso a enxadas e meios manuais (muitos alugados por falta de produção nacional), sendo as restantes de empresários.

Em 2023, Segundo o director nacional da Agricultura e Pecuária de Angola, Manuel Dias, a agricultura nacional encontra-se “fortemente alicerçada” na agricultura familiar de subsistência, “que não garante cabalmente a segurança alimentar e nutricional da população em Angola”.

A situação “obriga a recorrer grandemente à importação de alimentos”, disse o responsável, quando falava sobre o desenvolvimento da agricultura sustentável em Angola, no Simpósio Relação Brasil – Angola, que decorreu em Luanda.

Falando em representação do secretário de Estado do sector, Manuel Dias sinalizou que, do total da área cultivada a nível nacional, as explorações agrícolas empresariais contribuíram apenas com menos de 9%. As famílias contribuíram com 91,5% do total da área cultivada na campanha agrícola 2021-2022, acrescentou.

Em relação à preparação das áreas agrícolas segundo as diferentes fontes energéticas de mecanização, o responsável afirmou que 66% da agricultura em Angola ainda é feita manualmente, 22% por tracção animal e 6% por mecanização.

Para o director nacional da Agricultura e Pecuária de Angola, a vulgarização e expansão da mecanização agrícola, regadio, sanidade vegetal e animal, fabrico de factores de produção, como equipamentos agrícolas, fertilizantes, pesticidas e vacinas em todo o território constituem desafios para a cooperação entre Angola e o Brasil, no sentido do “fortalecimento” da agricultura familiar.

Considerou, ainda, que o investimento brasileiro directo para a produção na agricultura, o reforço da capacidade de melhoramento e certificação de sementes, melhoramento genético dos diferentes tipos de gado e investigação agrária constituem também desafios da cooperação entre Luanda e Brasília.

Em Junho (2023), na cidade do Uíge, o Presidente da República, general João Lourenço, confirmou (palavra de rei), o que já tinha dito o Presidente do MPLA (João Lourenço) e o Titular do Poder Executivo (João Lourenço), as potencialidades do solo angolano, salientando (coisa espantosa!) que o mesmo possui os condimentos necessários para garantir produtos alimentares para sustentar o mercado nacional. Ou seja, disse que era possível em 2023 fazer o que os portugueses faziam em 1974/75. É obra…

O general convidou, por isso, os produtores a empenharem-se com maior afinco e dedicação às actividades agrícolas. “No Bailundo [província do Huambo] as enxadas estão a ser alugadas à hora para se poder cultivar”, afirmou em 2022 o então ministro da Agricultura, que agora passou de bestial a besta, António Francisco de Assis.

“Pelo que acabei de ver, o Dom Caetano tem razão: O nosso chão dá tudo. É uma questão de nos empenharmos e trabalharmos, que estaremos em condições de alimentar o nosso mercado nacional”, afirmou o Chefe de Estado e do partido que está no Governo há 49 anos, no final da visita à Feira Agro-Pecuária.

O mesmo já dizia Diogo Cão, Norton de Matos ou António de Oliveira Salazar. Mas…

Aos jornalistas, no final da visita, o Presidente João Lourenço elogiou a organização do evento, salientando que uma das coisas que mais marcou a sua atenção na exposição foi ao constatar várias iniciativas tecnológicas de alguns jovens expositores.

“Refiro-me, por exemplo, a algo que nunca imaginava que pudesse ser possível: produzir bolacha a partir da farinha de mandioca”, indicou com rara e emblemática perspicácia o Chefe de Estado, que prometeu apoiar os jovens promotores da iniciativa como forma de estender a experiência noutras regiões do país.

Recorde-se que o ex-ministro da Agricultura e Pescas, António Francisco de Assis, afirmou no dia 18 de Março de 2022 que agricultores do interior do país disputavam enxadas e catanas, por falta de produção local, considerando que este é um dos factores que limita o desenvolvimento do sector. Nem enxadas nem catanas. Coisas da crise… que já dura há 49 anos, não é senhor general João Lourenço? O melhor mesmo é pescar com enxadas e semear com anzóis. Ou, então, fazer como faziam os tugas – plantar as couves com a raiz para baixo…

Para António Francisco de Assis, a falta de fabrico interno de meios de produção agrícola, nomeadamente catanas, enxadas, carros de mão, agulhas e de fertilizantes e pesticidas condiciona o fomento da produção agrícola, levando os agricultores a disputarem estes meios.

“A nível de Catabola [província do Bié] encontrar sementes e pesticidas é difícil, nas principais regiões onde se produz não há enxadas e no Bailundo [província do Huambo] as enxadas estão a ser alugadas à hora para se poder cultivar”, contou António Francisco de Assis…

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