O economista-chefe do banco pan-africano Afreximbank (Banco Africano de Exportações e Importações) considerou que Angola é hoje um caso de estudo no processo político de combate à corrupção e elogiou as reformas feitas pelo Presidente João Lourenço. Como o combate à corrupção é, até agora, um nado-morto e como as reformas ainda não foram além de um caderno dia (boas) intenções, as afirmações de Hippolyte Fofack correspondem a um frete comercial.
“Angola foi sempre um grande destino de investimento. Lembro-me de lá ir quando estava no Banco Mundial e ver uma série de jactos. Mas isso não era investimento certo”, recordou Hippolyte Fofack, em declarações à Lusa, à margem dos encontros anuais do banco que decorreram em Moscovo.
Esse investimento era muito direccionado para o “capital intensivo sem impacto na população”, algo que Fofack acredita que vai mudar: “A indústria em que estamos a insistir é de trabalho intensivo que ajuda a reduzir a desigualdade”.
“Acreditar que vai mudar” não significa que já tenha mudado. E assim sendo, o dirigente do Afreximbank está, deliberada e conscientemente, a confundir o corredor de fundo com o fundo do corredor. O que, aliás, não é novo e faz parte das negociatas que se fazem com regimes e partidos que estão no Poder há dezenas de anos, como é o caso do MPLA.
A desminagem do país vai permitir uma maior aposta na agricultura e existem projectos de indústrias locais, até na área farmacêutica, considerou Hippolyte Fofack, quase parecendo que descobriu a pólvora ou a roda.
Em 2015, quando os preços das matérias-primas baixaram, “muitos que viviam em Angola saíram por causa da falta de liquidez”, afirmou Hippolyte Fofack, mostrando o óbvio. “Os investidores foram em massa para Angola quando o petróleo subiu e depois fugiram quando o preço baixou. Isso é gente que quer o dinheiro rápido, mas nós preferimos o investidor paciente”, acrescentou como se de facto fossemos todos matumbos.
Mas nos últimos anos, “alguém [José Eduardo dos Santos], que foi Presidente durante 40 anos, escolheu pessoalmente outra pessoa para lhe suceder [João Lourenço]. E o actual Presidente “não precisou que [José Eduardo dos Santos] morresse e está a lutar contra a corrupção sabendo que a corrupção está, de algum modo, ligada a quem o nomeou”, resumiu, certamente com o pensamento nos empréstimos que o seu banco vai fazer a Angola, pouco importando – como no passado – se isso vai ou não reduzir os nossos 20 milhões de pobres.
Folha 8 com Lusa