Quarenta e seis anos depois, 19 em paz total, só falta quase tudo para chegarmos ao paraíso. Quando o Presidente da República, João Lourenço, esteve em Nova Iorque (EUA) numa das suas muitas viagens de “trabalho”, reconheceu que “são legítimas as reclamações de alguns sectores da sociedade que não viram ainda concretizados as suas expectativas de vida”.
Com a sua oratória mais brilhantina do que brilhante, afirmou na altura que em dois anos não se fazem “milagres” e “o que não se fez em 44 anos, ninguém pode esperar que se faça em dois. Seria ingenuidade”. É verdade. Hoje pode dizer o mesmo, bastando substituir “dois anos” por “quatro anos” e “44 anos” por “46 anos”. Ainda por cima porque em 46 anos de independência o MPLA só esteve no Governo… 46 anos.
Foi com gosto que registamos a concordância de João Lourenço (nós compreendemos, Presidente, que tenha omitido o nosso nome) com as teses defendidas pelo Folha 8 quando, por diversas vezes, escreveu que para fazer o que não foi feito em 46 anos o MPLA precisa de estar no Poder mais 54 anos.
O Presidente da República, tal como o Folha 8, defendeu uma “efectiva e proporcional punição” daqueles que cometem crimes de corrupção, referindo que “não basta apregoar aos quatro ventos o combate à corrupção, é necessário a existência de uma efectiva e proporcional punição.”
João Lourenço, o mais alto magistrado do país, tenta convencer-nos que é diferente, que com ele tudo será diferente, que tem as mãos limpas. Acreditamos. E porque acreditamos tomamos a liberdade de perguntar por onde andou nas últimas décadas o general João Lourenço? Claro. Claro. Só cá chegou em… 2017.
Segundo os nossos dados, nunca é por de mais dizê-lo, existem dois cidadãos com o mesmo nome: João Manuel Gonçalves Lourenço. Um sempre foi um homem do sistema, do regime. 1984 – 1987: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico; 1987 – 1990: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela; 1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo; 1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA; 1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA; 1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA; 1998 – 2003: Secretário-geral do MPLA; 1998 – 2003: Presidente da Comissão Constitucional; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamentar; 2003 – 2014: 1º Vice-presidente da Assembleia Nacional.
O outro é o actual Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Presidente da República, que chegou a Angola há pouco mais de quatro anos com a nobre, emblemática e divina missão de nos levar (nunca é por de mais dizê-lo) para o paraíso.
Além disso, os angolanos gostariam de conhecer a declaração de rendimentos do “primeiro” João Lourenço, bem como do seu património, incluindo rendimentos brutos, descrição dos elementos do seu activo patrimonial, existentes no país ou no estrangeiro, designadamente do património imobiliário, de quotas, acções ou outras partes sociais do capital de sociedades civis ou comerciais, carteiras de títulos, contas bancárias a prazo, aplicações financeiras equivalentes.
Gostariam de conhecer a descrição do seu passivo, designadamente em relação ao Estado, a instituições de crédito e a quaisquer empresas, públicas ou privadas, no país ou no estrangeiro.
Gostariam de conhecer a declaração de cargos sociais que exerce ou tenha exercido no país ou no estrangeiro, em empresas, fundações ou associações de direito público.
Isto é o essencial do ponto de vista político, moral e ético. O acessório é tudo o resto. E até agora, tanto quanto é público, João Lourenço (o “primeiro”) só deu a conhecer o… resto. Esperamos, por isso, que o outro João Lourenço ordene que seja tornada pública a declaração de rendimentos do seu homónimo, evitando assim que os angolanos (nós incluídos) sejam tentados a confundir o Diabo (o primeiro) com Deus (o segundo)…
José e João, as duas faces da mesma moeda (furada)
O Presidente da República do MPLA (se fosse de Angola teria, necessariamente, outro comportamento), João Lourenço, qualificou no dia 23 de Maio de 2018, em Luanda, José Eduardo dos Santos, famigerado “escolhido de Deus” e “arquitecto da Paz”, como exímio diplomata, “que conduziu, com mestria e saber, o processo de reconhecimento, pela comunidade internacional, do Estado angolano, fundado a 11 de Novembro de 1975”.
João Lourenço discursava na 8ª Reunião de Embaixadores de Angola no Exterior, que pretendia alicerçar uma diplomacia mais eficiente e virada para a promoção da boa imagem do país, para a captação do investimento privado estrangeiro e para a sua eleição como destino turístico.
Nesse discurso, o Chefe do Estado do MPLA enalteceu, também, o seu antecessor, em toda a sua acção, “que permitiu à Nação angolana sobreviver perante a hostilidade do regime do apartheid e dos seus aliados e afirmar-se como Nação solidária com os povos oprimidos da África austral e do resto do Mundo”.
“Quero, por isso, realçar o facto de que, ao longo de toda a nossa história, ter sido crucial o papel desempenhado por exímios diplomatas angolanos, dentre os quais quero destacar a figura do Presidente José Eduardo dos Santos”, disse o Presidente João Lourenço, 41 anos depois do ingresso de Angola na ONU.
Custa a compreender a dificuldade que o mundo tem em reconhecer o papel único – como muito corrobora João Lourenço – de José Eduardo dos Santos, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Esperemos que, tão rapidamente quento possível, a Academia Sueca não se esqueça de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz. Sua majestade o general do Exército presidente do MPLA até não é, nesta matéria, esquisito.
Ao excluírem sistematicamente o “escolhido de Deus”, o “arquitecto da Paz”, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando regime do MPLA, sob comando do general João Lourenço, espirra o mundo apanha uma grave pneumonia. O MPLA através das suas impolutas sucursais (caso do Tribunal Constitucional) vai com certeza – se acaso ela se voltar a esquecer – declarar a Academia Real Sueca “persona non grata”, prevendo-se a promulgação de um decreto, com efeitos retroactivos, em que se corta todo o tipo de relações com aquela instituição.
Todo o mundo sabe, ou devia saber, que José Eduardo dos Santos foi a figura africana do ano durante 38 anos, assim como João Lourenço já tem o mesmo estatuto há quatro anos.
A Academia Sueca parece, contudo, esquecer pontos fundamentais, tão assertivamente evidenciados por João Lourenço: “O Presidente José Eduardo dos Santos não governou Angola durante 38 anos. Ele foi o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos”;
“José Eduardo dos Santos foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado. José Eduardo dos Santos só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos”.
E nestes quatro anos já será possível, e justo, dizer que:
– Foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar;
– O divino carisma de João Lourenço já o tornou o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela, Martin Luther King e até mesmo Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi.
Também concordamos que, em alternativa e em função do que já fez nos últimos quatro anos, João Lourenço merece um Prémio Nobel que, contudo, ainda não existe. Ou seja, um Nobel que distinga quem é o principal responsável por Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países menos corruptos do mundo, por ser um dos países com melhores práticas democráticas, por ser um país sem assimetrias sociais, por ser o país com o menor índice de mortalidade infantil do mundo.
Escrever sobre João Lourenço abordando tanto a sua divina e nunca vista (nem mesmo pelo Vaticano) qualidade de Presidente da República como a de simples, honrado, incólume, impoluto, honorável e igualmente divino cidadão, tem tanto de fácil como de complexo. Fácil porque basta conjugar o verbo elogiar. Complexo porque não há qualificativos que cheguem…
Por outras palavras. Fácil, porque se trata de uma figura que lidera o top das mais emblemáticas virtudes da humanidade, consensualmente (desde a Coreia do Norte à Guiné Equatorial) aceite como possuidora de uma personalidade até hoje acima de qualquer outra.
Não admira, pois, que seja considerado com toda a justiça não só pai da nação do MPLA, de África, do Mundo e de tudo o mais que se vier a descobrir nos próximos séculos. Isso foi mais ou menos o que João Lourenço disse de Eduardo dos Santos, dirão os leitores. É verdade. Mas se ele disse isso do anterior Presidente, imaginem o que dirá de si próprio quando se olha ao espelho…
A complexidade de se escrever sobre João Lourenço resulta, afinal de contas, da soma dos factores que já o tornam unanimemente como a mais carismática, impoluta, honorável divina etc. etc. etc. figura da história da humanidade.
Quem com ele conviveu na infância e na juventude reconhece-lhe o mérito de, ao longo dos anos, se ter mantido fiel a si mesmo, mostrando já desde pequeno (talvez até mesmo antes de nascer) a sua faceta de futuro cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.
Dizem os muitos milhões de amigos que tem espalhados por todo o universo conhecido, que sempre foi amigo dos seus amigos, que nunca esqueceu de onde veio e muito menos de onde nasceu e com quem conviveu nos bancos da escola.
Sempre disponível para ajudar quem a si recorre nas mais variadas circunstâncias, João Lourenço é o rosto da generosidade, da determinação, do carisma que caracterizam um ser impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.
Mas há mais. Para além da sua faceta enquanto cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. e figura da história da humanidade, é igualmente um homem (talvez o único) de paz e de uma só palavra, discreto a ponto de se recusar a dar ordens para que seja escolhido como vencedor do Prémio Nobel da Paz, preferindo passar os louros da sua excelsa, impoluta e honorável governação para os seus colaboradores.
A sua dedicação à família, caso a merecer estudo científico por ser único desde a pré-história, é assumida sem grande alarido, mas com uma total devoção.
Homem de uma só palavra, cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade, João Lourenço carrega consigo o segredo de ser amado por 99,6% dos angolanos….
Embora seja um cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade, dizem os seus impolutos colaboradores que é uma pessoa normal, de carne e osso.
E é aqui que reside o busílis. Assim não será eterno.