O diário Washington Post obteve hoje o prémio Pulitzer pelo melhor trabalho de jornalismo nacional, enquanto o jornal Tampa Bay, da Florida, ganhou o melhor trabalho de jornalismo de investigação. E então o Jornal de Angola?
Sobre o trabalho do Washington Post, o Conselho dos Pulitzer destacou a sua “reveladora iniciativa de criar um registo nacional para ilustrar como muitas vezes os polícias disparam para matar e quem são as vítimas mais frequentes”.
O Tampa Bay obteve o prémio de melhor jornalismo de investigação por um trabalho sobre a violência nas instituições mentais da Florida, juntamente com o Sarasota-Herald Tribune, que também ganhou o prémio por um trabalho sobre escolas públicas falidas.
No âmbito dos trabalhos jornalísticos de reportagens internacionais, o Conselho do Pulitzer premiou o The York Times por mostrar a crueldade com que convivem as mulheres no Afeganistão.
Na categoria de fotografia, foram premiadas as da cobertura da crise dos refugiados na Europa e a sua tortuosa viagem à procura de asilo do The New York Tomes e da agência Reuters.
No que se refere à melhor cobertura de notícias de última hora, o Pulitzer foi entregue ao jornal L.A. Times pelo trabalho feito durante a matança de San Bernardino, Califórnia, ocorrida em Dezembro e que provocou a morte a 14 pessoas.
Os Pulitzer premiaram também a música de Henry Threadgill “In for penny, in for a pound”, a poesia do norte-americano de origem arménia Peter Balakian, a narrativa de não ficção de Joby Warrick pelo livro “Black flags and the rise of ISIS” e a obra de ficção “The Sympathizer”, do vietnamita (refugiados nos Estados Unidos desde 1975) Viet Thanh Nguyen.
O prémio de drama musical foi entregue ao norte-americano, de origem porto-riquenha, Lin-Manuel Miranda pelo seu “Hamilton”.
O conselho dos prémios Pulitzer recebeu 3.000 candidaturas para os prémios de jornalismo mais famosos do mundo e que são anunciados todos os anos na Universidade de Columbia.
Uma tremenda injustiça para Angola
Mais uma vez o Pulitzer escapou ao Pravda, Boletim Oficial ou Jornal de Angola. Trata-se de uma, mais, uma afronta ao regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos.
Todos os dias, em todos os textos, o JA mostra o que é a democracia mais evoluída do MPLA e ensina ao mundo o que é o verdadeiro e único jornalismo.
Diz o pasquim do regime que os órgãos de informação privados nada mais são do que um “Cavalo de Tróia que vomitava do seu seio a subversão dos mais elementares valores que regem o jornalismo.”
Dando como adquirido que tal como José Eduardo dos Santos está para os angolanos (e não só) como Deus está para os cristãos, e que o JA está para o jornalismo como o MPLA está para Eduardo dos Santos, todos os jornalistas do mundo são obrigados a aceitar a superioridade moral, ética, deontológica e o que mais por aí houver deste legítimo filho do Pravda, o principal jornal da União Soviética e órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética entre 1918 e 1991.
Diz o JA que no seu reino, e certamente com o beneplácito do Comité Central do MPLA, que em Angola “a liberdade de imprensa convive com abusos repugnantes e os novos jornais até começaram a servir para crimes de chantagem e extorsão”, para além de que ”quase sempre são palcos de intrigas, veículos de ataques pessoais, mananciais de insultos, calúnias e difamações.”
Crê-se que um desses crimes tem a ver com o 27 de Maio de 1977, uma purga que os jornais privados dizem ter sacrificado milhares de angolanos mas que, na verdade e certamente segundo a análise do JA, nem sequer existiu.
Diz o JA que “o Presidente da República é o alvo privilegiado dos jornais privados. Há entre eles uma competição estranha que consiste em ver qual deles fere mais a honra e o bom-nome de José Eduardo dos Santos. O mais alto magistrado da Nação é tratado como um pária ante a indiferença dos órgãos de Justiça, das organizações dos jornalistas, das associações patronais e, pasme-se, do Conselho Nacional da Comunicação Social.”
Mais um ponto a favor do Pravda. Perdão, do Jornal de Angola. Estão todos conluiados para denegrir a imagem do impoluto Presidente da República, não compreendendo que estar há 37 anos no poder sem nunca ter sido nominalmente eleito é a mais sublime prova da vitalidade democrática do regime angolano.
Da brilhante (como sempre) análise do JA resulta que “de 2008 para cá as coisas melhoraram”. Isto é, “os jornais privados que mais se destacavam na calúnia e no insulto ao Chefe de Estado abandonaram esse caminho. Mas em compensação outros redobraram os crimes de abuso de liberdade de imprensa. Sabe-se agora porquê.”
O jornal não explica, certamente no cumprimento das mais puras e transparentes regras éticas e deontológica, a razão pela qual alguns jornais abandonaram esse caminho. Também não precisa de explicar. Todos sabem que foram comprados e ou silenciados pelo regime.
Escreve o JA que “o “Folha 8” é o órgão oficial da CASA-CE e dá uma mão à UNITA, nas suas investidas contra o Estado Democrático e de Direito. O “Novo Jornal” é o suporte de “manifestantes” que têm uma única mensagem à sociedade: insultos grosseiros ao Presidente da República e o objectivo de derrubá-lo.”
Em cheio. Não há dúvida. Nenhum jornal no mundo bate o Jornal de Angola. É que não só analisa como dá notícias em primeiríssima mão. Então não é que Angola é um Estado Democrático e de Direito? Ora tomem!
Ao fim e ao cabo, todos os jornais “se encarregam de fazer alastrar a mancha da calúnia e do insulto. Com mais ou menos competência. Mas seguramente com resultados catastróficos para o jornalismo angolano.” Valha-nos ao menos a existência desse paradigma de nobreza e altruísmo, verdadeira catedral do jornalismo, que dá pelo nome de Jornal de Angola.
O JA insurge-se contra algo que os políticos aprenderam com o MPLA e com o seu Pravda, mas que – obviamente – só deve ser aplicado em relação aos outros. Então não é que “com um sorriso próprio dos porcos”, os dirigentes do PRS “chamam aos membros do Executivo mafiosos e ladrões” e “acusam instituições do Estado de envenenarem e assassinarem cidadãos”?
Francamente. Os políticos, mesmo em campanha eleitoral, deveriam saber que há verdades que não devem ser ditas.
“A UNITA segue o mesmo caminho mas com um pouco mais de compostura. Tem como mentor um qualquer Rafael Marques. A CASA-CE faz dos tempos de antena sucursais do “Folha 8” mas um pouco mais primários. São violentíssimos ataques à inteligência dos eleitores e golpes fatais contra a ética política. Se não havia ética no “jornalismo” que faziam, muito menos existe agora, quando vivemos num período em que os salteadores da política agem como se valesse tudo menos tirar olhos”, escreve o JA.
Ficamos também a saber, graças – corrobore-se – à honorabilidade do JA, que os leitores têm inteligência e que Rafael Marques e William Tonet estão a desgraçar o país e cometer crimes contra tudo, nomeadamente contra a segurança do Estado. E estão mesmo, reconhecemos. É que eles pensam que Angola é mesmo um Estado de Direito Democrático. E como não é, todos os que teimam em pensar de forma diferente são culpados de tudo.
Para o Comité Central do MPLA, via Jornal de Angola, “é muito claro que a aposta destes concorrentes é na subversão das regras democráticas. Por isso estão a criar um clima muito parecido com o das eleições de 1992, quando a intimidação e a violência verbal faziam parte do quotidiano da disputa política. De tal forma que tudo acabou numa longa guerra que destruiu Angola.”
Pois é. E o Jornal de Angola ainda vai um dia destes divulgar que a UNITA, a CASA-CE, o PRS, Rafael Marques e William Tonet tem verdadeiros arsenais bélicos debaixo da cama e até disfarçados no disco duro dos computadores.
Num dos mais dignos exemplos de imparcialidade, ética e deontologia o Jornal de Angola diz que “cabe aos angolanos dar a resposta adequada. Savimbismo, nunca mais!.”
Perante tudo isto, os angolanos têm de lançar todos os anos uma petição, um amplo movimento mundial, para que Nobel da Paz seja atribuído a Eduardo dos Santos e o Pulitzer ao Pravda do regime, em português “Jornal de Angola”.
Legenda: À esquerda Eduardo dos Santos recebe o Nobel da Paz. À direita, o dono do Jornal de Angola recebe o Prémio Pulitzer.