NÃO BRINQUEM COM O SNS

Apesar dos dirigentes politico partidários afirmarem à boca cheia que falam para o povo em geral, o facto é que cada partido politico tem um conjunto de eleitores que se enquadram no seu perfil sócio económico.

Por Rui Naldinho (duaslinhas.pt)

Não é por acaso que vemos o PSD, IL e Chega, sempre colados às posições das Confederações Patronais, Ordem dos Médicos, Associação dos Proprietários de Imóveis Urbanos, Hospitais Privados, etc.

A representatividade destes partidos no universo sindical, cooperativo e nas pequenas e médias empresas é diminuta, e mesmo quando isso acontece, é circunstancial. Dou um exemplo. A Ordem dos Enfermeiros, liderada por aquela vedeta, Ana Cavaco, amiga de André Ventura e sobrinha de Cavaco Silva. Se a estratégia dos enfermeiros foi escolher para liderar a sua ordem profissional, alguém fora da esfera socialista, de preferência associada a um partido da oposição, para berrar mais alto e fazer finca pé, então digamos que poderiam ter escolhido melhor. Ser-se desbocado e por vezes falacioso, retira credibilidade à pessoa em si. Já os dois sindicatos médicos, a FNAM e o SIM, parecem-me estarem mais bem representados. Até mesmo os dirigentes da sua Ordem.

GOVERNAR É REDISTRIBUIR
Tal como o PSD e o resto da direita estão associados a um determinado universo sociológico, o PS também tem o seu. Muito mais abrangente do que todos os outros partidos. E é aí que começam os problemas. Agradar a Gregos e a Troianos.

O Orçamento de Estado aprovado na pretérita sexta feira reflete em certa medida isso mesmo. E até a divisão das verbas do PRR para o território e as várias actividades económicas parecem ir no mesmo sentido. Podemos discutir se o OE é bom ou mau. Se devia dar mais aqui e menos ali. Mas que ele está modulado para proteger um determinado grupo populacional, disso ninguém duvide. O aumento das pensões de reforma, a progressão nas carreiras da função pública, as creches, transportes públicos, etc. Tudo coisa pouca, mas que no final soma muitos milhares de milhão.

A HABITAÇÃO
É preciso dar segurança e previsibilidade às pessoas. Se o PS fez um esforço por mitigar os efeitos nefastos dos contratos a prazo e os falsos recibos verdes, com alterações à lei, a verdade é que ao nível da habitação social, pouco ou nada fez. Nem fez, nem vai fazer. Porque já todos percebemos que este governo privilegiou o turismo, o investimento imobiliário especulativo, em especial aquele estrangeiro que compra casa, em detrimento dos jovens portugueses. Vendem-se apartamentos básicos em Cascais e Oeiras, já nem falo de Lisboa, por 1 000 000 de euros. Apartamentos comuns, sem luxos, com 100 m², pagos a pronto.

A SAÚDE
Se pelo lado da habitação o PS não conquista mais um voto, já pelo lado da saúde, pode perder muitos, em detrimento, no mínimo, da abstenção. A maioria dos eleitores socialistas são defensores e utilizadores do SNS. Sentem confiança no seu sistema universal de saúde.

A batalha pela manutenção de um SNS com qualidade, passa também pelo direito a defender os direitos laborais e pecuniários de médicos e enfermeiros, para além, claro, de outros técnicos especializados que prestam cuidados no SNS.

ELEIÇÕES ANTECIPADAS
O Inverno aproxima-se a passos largos, com o tempo atmosférico a ajudar. Se no próximo semestre, até chegar de novo a primavera, a Saúde em Portugal se transformar num caos, com pessoas a morrer ou a ficar incapacitadas por falta de cuidados médicos, para além da tragédia humana, cuja dor e sentimento de perda só os familiares saberão dar valor, existe uma forte probabilidade de socialistas perderem as eleições europeias, como castigo pela inépcia e teimosia. E se essa perda for uma espécie de tombo, então teremos com toda a certeza umas eleições legislativas antecipadas. E aí o Presidente nem vai dar tempo ao governo de emendar a mão. São umas a seguir às outras. É só cumprir os prazos legais.

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