Automobilistas em Luanda temem (só não têm a certeza se forem ingénuos) que o aumento do gasóleo venha encarecer ainda mais o custo de vida e questionaram as políticas públicas do Governo por “penalizarem” os cidadãos.
José Waldemar Catumbela, por exemplo, diz: “Essa subida é complicada, a situação económica do país não é boa e várias coisas vão subir, eu com o carro a gasolina já me sinto apertado, vamos ver onde vamos chegar e o que vai dar”.
Comentando o impacto da subida do preço do litro do gasóleo, que desde as 00:00 aumentou de 135 para 200 kwanzas (de 15 para 20 cêntimos), o funcionário público que foi hoje abastecer a viatura disse estar surpreendido com a medida governamental.
“Estou surpreso, não esperava e é muito complicado”, disse o automobilista, enquanto aguardava numa pequena fila para abastecer o veículo nas bombas de combustível da Rádio Nacional de Angola (RNA), no centro de Luanda.
Com o litro de gasolina actualmente no valor de 300 kwanzas (30 cêntimos), após retirada dos subsídios estatais, José Waldemar Catumbela disse estar a gastar por semana 10.000 kwanzas (11 euros) só em combustível, receando novas subidas.
“Por semana gasto 10.000 kwanzas com o combustível, é muito pesado e se o gasóleo subiu é sinal de que a gasolina possa subir a qualquer momento, porque dizem que poderá subir o litro de gasolina para 500 kwanzas (50 cêntimos)”, perspectiva.
A prestar serviços para uma empresa privada está José Cristóvão, que conduz um carro a gasóleo e lamentou a subida “surpreendente” do combustível, referindo que nos dias que correm faz uma “gestão apertada” entre o que aufere e o que gasta com a viatura.
“Não esperava por essa medida, estou surpreso”, disse o automobilista, que questionou as políticas do Governo neste domínio, considerando que estas vão causar ainda mais dificuldades aos cidadãos sem emprego.
“Só sei que a situação é difícil para o bolso, principalmente de alguns cidadãos, como os que não trabalham (…), é extremamente complicado”, referiu.
O aumento de 48% no preço do gasóleo dá continuidade ao processo de remoção de subsídios aos combustíveis. A medida foi divulgada na segunda-feira à noite através de uma nota do Instituto Regulador dos Derivados do Petróleo (IRDP).
Azevedo Figueira, funcionário do sector privado, contou que apenas se apercebeu da subida do gasóleo quando chegou ao posto de abastecimento da RNA: “Realmente os preços estão mal, não esperava essa subida, estou surpreso, principalmente o preço da gasolina que subiu logo a 100%, agora mais o gasóleo complica tudo”, frisou.
Com uma viatura a gasolina, este cidadão que duplicou os gastos semanais com o combustível, saindo dos anteriores 5.000 kwanzas (5,5 euros) para entre 10.000 kwanzas (11 euros) e 11.000 kwanzas (12 euros), referiu que a situação actual “está pesada”.
“Está complicado explicar esta situação, num momento de crise, estamos a ver que a gasolina ainda vai subir mais, se nós que temos um bocado estamos a reclamar (como ficam) os que não têm? Porque isso ainda vai aumentar o preço da cesta básica”, criticou.
O preço dos restantes produtos, em regime de preços fixados, nomeadamente a gasolina, o petróleo iluminante e gás de petróleo liquefeito (GPL), mantém-se inalterado.
O Governo deliberou o ajuste gradual dos produtos derivados de petróleo para níveis de mercado até 2025, iniciando o processo com a alteração do preço da gasolina em Junho de 2023, que passou de 160 kwanzas (18 cêntimos) para os atuais 300 kwanzas (33 cêntimos).
Entretanto, a despesa acumulada com subsídios aos combustíveis em Angola cresceu para 2,5 mil milhões de euros em 2023, mais 16,4% em termos homólogos, com um aumento de 128% nos subsídios ao gasóleo no último trimestre.
Os dados foram divulgados pelo Ministério das Finanças (Minfin), no mesmo dia em que o gasóleo passou a custar 200 kwanzas/litro (um aumento de 48%), no âmbito do processo de retirada gradual dos subsídios aos combustíveis.
A despesa acumulada com subsídios em 2023, indicam as estatísticas do Minfin, foi de 2,30 biliões de kwanzas (2,5 mil milhões de euros), um acréscimo de 324,13 mil milhões de kwanzas face ao ano anterior (364 milhões de euros).
No quarto trimestre, as despesas com subsídios totalizaram 938,56 mil milhões de kwanzas (mil milhões de euros), um aumento de 51% em relação ao trimestre anterior e de 102% em termos homólogos.
Na nota de imprensa do Minfin salienta-se que as despesas com os subsídios à gasolina e ao gasóleo apresentaram as maiores variações entre Outubro e Dezembro de 2023 face ao período homólogo, com acréscimos de 53% e de 129%, respectivamente.
As despesas com subsídios ao Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) subiram 39% e apenas os subsídios ao petróleo iluminante, usado para cozinhar e iluminação doméstica, registaram um decréscimo (cerca de 3%).