“O SAUDOSO CAMARADA PRESIDENTE AGOSTINHO NETO”

O MPLA, partido no poder em Angola há 46 anos, considera que as próximas eleições gerais, previstas para Agosto, devem servir para a “expressão de acções de consolidação da paz, democracia, coesão e de reforço da cidadania participativa”.

O partido no poder refere que, no espírito da libertação nacional, as eleições gerais, previstas para a segunda quinzena de Agosto deste ano, devem servir para “expressão de acções de consolidação da paz e da democracia, preservação da unidade e da coesão nacionais e demais conquistas do povo, bem como o reforço da cidadania participativa, por uma Angola mais desenvolvida, democrática e inclusiva”.

O Bureau Político do Comité Central do MPLA, em declaração por ocasião do 4 de Fevereiro de 1961, considera que este é “um marco indelével na história de resistência do povo angolano ao regime fascista português”.

“Constituindo um símbolo de heroísmo e amor à pátria, cuja acção se inseriu nos anseios da população e na necessidade de se passar a formas de luta para o alcance da independência nacional, proclamada em 11 de Novembro de 1975”, lê-se na nota.

O MPLA rende “profunda homenagem aos heróis tombados” pela causa da independência nacional e os ainda vivos, “reafirmando o valor e importância histórica do 4 de Fevereiro, como o rastilho do longo processo de luta de libertação”.

A necessidade de se “multiplicar o empenho e capacitação institucional” na implementação da política no domínio dos antigos combatentes e veteranos da pátria, implementando “programas que permitem o controlo efectivo dos associados, contribuindo para a melhoria das condições sociais”, é defendida pelo MPLA.

Eis, na íntegra, a declaração do Bureau Político do Comité Central do MPLA:

«Os angolanos celebram, nesta Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2022, o 61º aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional, acto protagonizado por nacionalistas que, imbuídos de espírito heróico e patriótico, atacaram as cadeias de São Paulo e da 7.ª Esquadra da Polícia, a Casa de Reclusão e outras instalações do opressor regime português, em Luanda, visando libertar os presos políticos que nelas se encontravam encarcerados.

O Bureau Político do Comité Central do MPLA considera a data como um marco indelével na história da resistência do povo angolano ao regime fascista português, constituindo símbolo de heroísmo e amor à pátria, cuja acção se inseriu nos anseios da população e na necessidade de se passar a formas de luta para o alcance da Independência Nacional, proclamada a 11 de Novembro de 1975, pelo saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto.

O Bureau Político aproveita a ocasião para render profunda homenagem aos heróis tombados pela causa da Independência Nacional e os ainda vivos, reafirmando o valor e importância histórica do 4 de Fevereiro, como o rastilho do longo processo de luta de libertação.

O Bureau Político do Comité Central do MPLA reconhece a necessidade de se multiplicar o empenho e capacitação institucional na implementação da política no domínio dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, implementando os programas que permitem o controlo efectivo dos assistidos, concorrendo para a melhoria das condições sociais e qualidade de vida, a dignificação social e elevação da auto-estima dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria e suas respectivas famílias, como o primeiro e mais importante activo do país.

O 61º aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional é celebrado no ano de realização de mais um pleito eleitoral que, a margem do sentimento de júbilo, deve servir de soberana ocasião para a expressão de acções de consolidação da paz e da democracia, preservação da unidade e da coesão nacionais e demais conquistas do povo, bem como o reforço da cidadania participativa, por uma Angola mais desenvolvida, democrática e inclusiva.

Para o efeito, o Bureau Político do MPLA exorta todos os cidadãos angolanos a participarem activamente nas acções que concorrem para o êxito do Registo Eleitoral Oficioso, conforme orientação das autoridades competentes, com o intuito de reforçar os pilares da construção da crescente e elevada postura cívica e de cidadania dos angolanos.»

A propósito, usando a frase do MPLA, do “saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”, recorde-se que o Presidente João Lourenço pediu desculpas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo após o alegado golpe de 27 de Maio de 1977, salientando que se tratava de “um sincero arrependimento”. Mas, é claro, “o saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto” foi o assassino responsável pelos massacres mas continua incólume e a ser, por imposição expressa de MPLA, o único herói nacional.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo angolano.

João Lourenço dirigia-se ao país numa comunicação transmitida pela sua Televisão Pública, na véspera da passagem dos 44 anos sobre os massacres de milhares e milhares de angolanos, ordenados pelo “saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”, então Presidente da República Popular de Angola e Presidente do MPLA e ainda hoje considerado oficialmente o único herói nacional, em 27 de Maio de 1977.

“O pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos”, acrescentou João Lourenço.

O pedido de desculpas era uma reclamação dos sobreviventes e das organizações que representam as vítimas e os seus descendentes, agrupadas na Plataforma 27 de Maio.

Em Abril de 2019, o Presidente angolano ordenou a criação de uma comissão (a CIVICOP), para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002 (fim da guerra civil).

Um assassino que é herói… do MPLA

Em Angola, o Dia do Herói Nacional é uma comemoração partidária transformada, por força da ditadura, em nacional angolana em memória do nosso maior genocida, do nosso maior assassino, “o saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”.

Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice-presidente do MPLA, João Lourenço (alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem do “saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”, primeiro Presidente angolano.

João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemorações do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamente ao nascimento do “saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalidade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmente porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República (do MPLA) e Titular do Poder Executivo (do MPLA), certamente já perspectivando em guindá-lo a figura de nível mundial. Hitler que se cuide…

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional, particularmente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirmou o Bureau Político.

Na intervenção em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representação do seu então querido, carismático e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que “o saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto” “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciadas de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitamente, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapartida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractores não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhados nos seus recalcamentos e frustrações, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”.

“Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar-se-á de simplesmente ignorá-los, concentremos por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço.

Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconciliadora a dizer aos angolanos sobre os acontecimentos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinados por ordem do “saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”? Pedir desculpa em nome do Estado não chega. Chegaria, estamos em crer, se colocasse “o saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto” no nível a que o Estado alemão colocou Adolf Hitler.

Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés. É a sua natureza perversa demonstrando não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse no pedestal da sua cadeira-baloiço, o maior genocida do nacionalismo angolano e da independência nacional, “o saudoso Camarada Presidente, Doutor António Agostinho Neto”. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas. E isto não é, nunca será, “um sincero arrependimento”.

Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimidade de retractação mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconciliação, muito também por não haver um líder em Angola.

Artigos Relacionados

Leave a Comment