MENTIRAS ALIMENTAM A COBARDIA DO MPLA

Ninguém pode mentir a um povo por todo o tempo. É hora dos políticos no poder serem ponderados, humildes e sinceros, em relação à história do país e não de tentarem impor aos demais as suas histórias, muitas da carochinha, como sendo marcos da história nacionalista.

Senão vejamos, o slogan: INÍCIO DA LUTA ARMADA PELO MPLA. É bom esclarecer, que num dia como o 24 de Fevereiro de 1961 não teve início a luta armada, mas a segunda insurreição, nas cidades, para criar impacto mediático, depois da Baixa de Cassange, protagonizada por um grupo de nacionalistas, ligados a uma franja da igreja católica, liderada pelo Cónego Manuel das Neves e outros pelos ideais da UPA/FNLA e nunca, ninguém, inicialmente, ligado ou tendo conhecimento sobre a existência do MPLA.

O início de uma luta pressupõe um plano de continuidade depois da acção principal, nos dias, semanas e meses seguintes. Isso não houve!

Início de luta teria de levar os comandantes para as matas, o que não ocorreu, logo estamos diante de uma simples insurreição, que teve grande impacto, na capital do império colonial português: Lisboa.

E isso deveu-se também à presença do navio Santa Maria e de muitos jornalistas estrangeiros, razão pela qual o seu ideólogo, Cónego Manuel das Neves que não tinha ouvido falar do MPLA, mas da UPA com quem tinha ligações, escolheu a data do 4 de Fevereiro de 1961.

Agora, a data transformada e virada do avesso da realidade e verdade histórica, foi mais uma elucubração criada pelo MPLA que já deveria ser desmistificada, tivesse esse partido higiene intelectual, sentido nacionalista e compromisso com a verdade.

A acção do 4 de Fevereiro não ultrapassou Luanda, nem chegou a criar uma peque base, em Catete ou Dembos. Logo o acto foi local e não nacional.

Até quando vai perdurar a intoxicação da mentira?

É hora do MPLA despertar para a honestidade e defender os seus feitos com honestidade e não subverter os dos outros… O verdadeiro dia do início da luta armada de libertação nacional, com um plano de continuidade foi o 15 de Março de 1961, organizado e conduzido pela UPA.

Dói, para quem quer o monopólio de tudo, mas é a verdade histórica.

Dizia o antigo ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria… do MPLA, Kundi Paihama, que a história de Angola é rica em exemplos e actos indeléveis de heroísmo e valentia protagonizados por milhares de patriotas angolanos, de Cabinda ao Cunene, e pelo sacrifício dos melhores filhos desta pátria.

Sim, foi o mesmo Kundi Paihama que disse: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”. E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…

Sim, foi o mesmo Kundi Paihama que afirmou: “Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”.

Quanto aos angolanos, aos outros angolanos, citando de novo Kundi Paihama, que comam farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.

Várias versões do “4 de Fevereiro” de 1961 ainda não permitem definir uma História clara sobre o que aconteceu, quando um grupo de cerca de duas centenas de angolanos, munidos de armas brancas, atacaram vários postos militares do regime colonial português, tendo sido “recebidos” a tiro.

Os ataques, segundo números oficiosos, provocaram a morte de 40 insurgentes e seis militares portugueses e assinalaram o ponto de partida, quer interna quer externamente, para uma maior consciencialização em Angola, num período em que vários países africanos acediam à independência e acabavam com o jugo colonial, abrindo portas à luta política e armada, que iria prosseguir até 1974.

A consciência dos angolanos despertou para a necessidade de “libertação”, com os jovens a envolverem-se em actividades políticas clandestinas contra a ocupação colonial, enquanto outros se juntaram à luta armada no interior do país, que culminou com a independência, a 11 de Novembro de 1975.

Segundo vários historiadores angolanos e portugueses, estima-se entre 200 e 250 os protagonistas do “4 de Fevereiro”, que atacaram a Casa de Reclusão, a Cadeia da 7ª Esquadra da Polícia, a Sede dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) e a emissora oficial de Angola.

Há três versões sobre essas ocorrências, mas todas coincidem quanto à utilização de armas brancas. A primeira diz que os angolanos armados de catanas, em quatro direcções, atacaram aqueles locais.

A segunda aponta que o descontentamento do sistema colonial era tanto que células de Luanda (na sua maioria do Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA) desenvolviam actividades políticas na clandestinidade. O plano de ataque consistia em dois grupos que investiriam contra dois objectivos militares, designadamente a Casa de Reclusão e a Cadeia da 7ª Esquadra da Polícia.

Nesta acção conseguiriam armas de fogo para atacar os CTT e a emissora oficial, podendo informar o mundo das revoltas dos angolanos contra o regime colonial, com o MPLA a reivindicar a autoria moral do “4 de Fevereiro”.

A terceira versão associa as duas primeiras e conta de forma quase anacrónica os factos. Tudo Começa com o ataque à Casa de Reclusão, em que o insucesso do ataque dispersou os protagonistas. Simultaneamente, dois outros grupos que se preparavam para os ataques dispersaram-se. É assim que se realiza uma emboscada, onde é morto um cabo português. Os revoltados apoderaram-se das suas armas e dirigiram-se à 7ª Esquadra da Polícia, numa ofensiva, cujo insucesso resultou em mais de quarenta mortos e muitos prisioneiros.

Visto que Luanda tinha a característica de pluralidade sociocultural, admite-se que pouco se importavam da cor partidária, na altura, querendo apenas a libertação.

Na versão oficial angolana sobre os acontecimentos da madrugada de 4 de Fevereiro de 1961 é indicado que grupos de guerrilheiros angolanos, comandados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, num total de 200 homens armados com catanas, desencadearam uma série de acções na cidade de Luanda,

Um desses grupos montou uma emboscada a uma patrulha da Polícia Militar, neutralizando os quatro soldados, tomando-lhes as armas e as munições, tentando, depois, libertar os presos políticos, num ataque frustrado à Casa da Reclusão Militar.

Outros alvos foram as cadeias da PIDE, no Bairro de São Paulo, e da 7ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), onde havia também presos políticos.

Tentaram igualmente ocupar a “Emissora Oficial de Angola”, estação de rádio ao serviço da propaganda do Estado. Nestas acções, morreram 40 guerrilheiros, seis agentes da Polícia e um cabo do Exército Português, junto à Casa da Reclusão.

O efeito “Santa Maria”

A escolha da data do ataque (4 de Fevereiro) teve em atenção o facto de se encontrarem em Luanda, na altura, jornalistas estrangeiros que aguardavam a chegada do paquete “Santa Maria”, assaltado alguns dias antes no alto mar por um grupo liderado por Henrique Galvão, um oposicionista do regime de Salazar.

Quando ficou claro que o navio não viria para Luanda e os jornalistas começaram a preparar‐se para abandonar a capital angolana, os nacionalistas decidiram lançar o ataque antes que fossem todos embora para chamar a atenção da comunidade internacional sobre a repressão que se vivia no país. A presença desses jornalistas garantiu a projecção mediática internacional do assalto dos nacionalistas.

“A acção revolucionária protagonizada pelos bravos patriotas foi determinante para o derrube do colonialismo em Angola e em outras colónias portuguesas em África”, afirmou Américo José Gaspar, coronel das Forças Armadas Angolanas na reserva e ex‐guerrilheiro do MPLA.

Na sequência do ataque, a pressão da polícia política portuguesa aumentou e cresceram também as detenções entre os nacionalistas, originando a fuga de milhares de angolanos para as matas e países limítrofes, como a Zâmbia e o então Congo Leopoldoville, onde prosseguiram a luta pela independência do país.

Pouco tempo depois do assalto às cadeias em Luanda, o conflito alastrou‐se às restantes colónias portuguesa em África.

… E os carnavais

Conta o escritor Emídio Fernando que “nas conversas clandestinas, nas esplanadas e nos serões quentes de Luanda, nas matinés e noitadas de merengues e rebitas dos musseques, nos almoços de funge, regados com cervejas Cuca, corria um mistério, transportado por uma frase dita em surdina: ‘Este ano vai haver dois Carnavais!’”.

A frase sobressaltou a advogada Maria do Carmo Medina, já conhecedora e defensora das actividades clandestinas, quando a ouviu da boca de João Cardoso, um activista pela independência de Angola e que viria a morrer uns anos depois na prisão de São Pedro da Barra.

A expressão – “dois Carnavais” – funcionava quase como uma senha de cumplicidade entre quem estava a preparar, há largos meses, um assalto às cadeias de Luanda.

Na primeira linha dos preparativos aparecia Manuel das Neves, um cónego mestiço, dos raros não‐brancos de origem portuguesa a integrar a Igreja Católica. Era ele que servia de elo de ligação entre os presos, os seus familiares e dirigentes políticos. E, sobretudo, um instigador, a partir do seu pequeno quarto numa paróquia de Luanda, da revolta armada, “com sangue”, “contra o colonialismo”.

Como director do jornal “O Apostolado”, Manuel das Neves conseguia fazer passar algumas mensagens subtis para o exterior, ao mesmo tempo que ia dando notícias sobre as movimentações de alguns nacionalistas que viviam no estrangeiro. Servia‐se ainda do jornal e de contactos com os paroquianos para manter ligações com activistas em Luanda, mas também com gente que viajava frequentemente entre os bairros periféricos de Luanda e o Congo, via Matadi. E era através desses viajantes, a maior parte de origem congolesa ou nascidos no Norte de Angola, que Manuel das Neves ia tendo conhecimento das movimentações de nacionalistas e do nascimento, primeiro, da UPNA e, depois, da UPA.

Há muito que o cónego, vigário‐geral da diocese de Luanda, vinha defendendo a necessidade de Angola se tornar independente. Desde a década de 50, sobretudo nos derradeiros anos, que Manuel das Neves recebia, em sua casa, perto da Sé de Luanda, o também padre Joaquim Pinto de Andrade que, tal como o irmão, Mário, começava a participar nos movimentos que lutavam pela independência. As conversas, de acordo com a memória de Pinto de Andrade, não variavam muito e eram em tudo idênticas a tantas outras em que Manuel das Neves mantinha com outros activistas e que serviam para espalhar ideias nacionalistas:

“Ele dizia que era preciso quebrar este mito [que os angolanos não queriam a independência e gostavam de ser portugueses] e isto só fazendo um acto de força, um acto que tivesse repercussão internacional para que todo o mundo visse que os angolanos queriam ser independentes. E planeava em conversas em que dizia: ‘Não é preciso muita coisa, para se fazer uma guerra e vencer. Não. É só para fazer um acto que dê brado lá fora e quebre o mito’. Então, eu disse‐lhe: ‘Como, com que armas, senhor cónego?’ E ele respondeu‐me: ‘Armas brancas, portanto, catanas, punhais… assaltar cadeias onde haja presos políticos para os libertar e, no mesmo dia, assaltar a rádio e as principais esquadras da Polícia e ir pela Rua do Balão até à Fortaleza e hastear a bandeira nacional. Bom, temos de fazer uma bandeira nacional, temos de inventar uma’”.

Na procura de um acto espectacular, Manuel das Neves defendia que era necessário espreitar uma oportunidade. Por exemplo, quando houvesse jornalistas estrangeiros em Angola. O ensejo, tantas vezes desejado, surgia proporcionado por Henrique Gal‐ vão, quando decidiu desviar o navio “Santa Maria”. Demitido do exército, onde tinha o posto de capitão, Henrique Galvão resolveu assaltar o paquete, com 970 turistas a bordo, que se propunha atravessar o Atlântico com destino ao Brasil.

A “Operação Dulcineia” começara no início de Janeiro. Henrique Galvão encontrava‐se na Venezuela à espera do navio que deveria fazer escala em Caracas a caminho do Rio de Janeiro.

Galvão e mais 20 elementos – entre portugueses e espanhóis que combatiam as duas ditaduras ibéricas – do autoproclamado DRIL (Directório Revolucionário Ibérico de Libertação) tomavam de assalto o navio anunciando que pretendiam atracar em Angola. Mal foi dada a notícia do sequestro do navio, jornalistas de quase todo o Mundo aterravam em Luanda. No entanto, a aventura de Henrique Galvão terminava no Brasil, precisamente na noite de 3 de Fevereiro, poucas horas antes dos assaltos às cadeias.

Luanda estava “apinhada de jornalistas, cineastas e locutores de rádios”, de acordo com um relatório da PIDE, elaborado dias depois.

Manuel das Neves recebia a colaboração empenhada de Mariana Ana Paz, que tinha a incumbência de levar comida para os presos da Casa de Reclusão Militar, na Cadeia de São Paulo, quase todos eles, detidos por participarem em actividades subversivas contra o regime. Mas não só. Cada visita era acompanhada por mensagens, não apenas do cónego, mas de outros activistas. E, no interior dos bairros, pontificava o “mais‐velho” Cardoso Sebastião Gamboa, considerado, pela população, como tendo poderes “mágicos”.

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