Ter memória e lembrar os (heróis) que fazem

“Portugal em Linha” comemora este ano 25 anos de existência (e resistência) ao serviço da Comunidade Lusófona. Sem subvenções nem isenções (seria, talvez, diferente se fosse “Portugal Online…). Foi mesmo só – para o bem e para o mal – teimosia, coragem e verticalidade de um (como outros) angolano que Angola escorraçou, escorraça e não reconhece, mas que a História sublima.

Há uns anos, 26 no caso, isto antes da chegada ao poder em Portugal de carradas de políticos “nescafé” (mistura-se água e… já está), quando se abria o portal do Governo português, na secção Lusofonia encontrava-se o seguinte: “Mais virado para as notícias sobre cada um dos países lusófonos, encontra-se o portal Portugal em Linha.”

Com o assalto ao poder por parte desses (supostos) governantes que não são sérios e nem se preocupam em parecê-lo, essa ligação desapareceu. É natural. O criador do “Portugal em Linha” não era, nunca foi, nunca será, um acólito sabujo dos donos do poder, esteja este onde estiver, em Lisboa ou em Luanda. Muito menos em Malabo. Prefere comer mandioca de pé do que lagosta de cócoras.

Ainda pouco se falava de Lusofonia quando, em 1996 (um ano depois do nascimento do Folha 8), António Ribeiro (é dele que falamos e é a ele que prestamos homenagem) decidiu criar, na Internet, um espaço privilegiado para a comunicação entre todos os falantes da língua de Camões, independentemente do local de habitação.

Sabia, à partida, que este era um espaço necessário e que ninguém decidira ainda cobrir. Estava-se nos primórdios da Internet. Sempre partindo do princípio de que todos temos interesse em saber o que se passa de relevante nos outros países irmãos ou, estando fora do seu país, querem saber o que por lá vai acontecendo.

Assim, em Outubro de 1997, um ano depois do nascimento do Portugal em Linha, nascia o Notícias Lusófonas. Desde essa data publicou, primeiro mensalmente, depois quinzenalmente e, por fim – sempre respondendo às solicitações dos leitores – semanalmente, uma súmula de notícias acerca do que ia acontecendo um pouco por todas as Comunidades Lusófonas.

Nesse tempo, as informações eram enviadas por e-mail aos subscritores. Não foi um trabalho fácil e teve algumas interrupções.

“Mentiríamos se disséssemos que nunca tivemos apoios. Tivemos. Dos muitos milhares de leitores e amigos que sempre nos incentivaram com palavras de apreço e de estímulo. Sempre foram eles que nos deram o alento para continuar, mesmo quando o desânimo pela falta de apoios “mais materiais” sobre nós se abatia”, recorda António Ribeiro.

Sempre com meios próprios e animado da velha paixão pela Lusofonia, resolveu em Outubro de 2002 renovar o Notícias Lusófonas e fazer – uma vez mais – o que não existia em toda a Comunidade Lusófona: um jornal (digno desse nome) online com notícias dos vários países lusófonos e das comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo, com actualização dinâmica e diária, contendo ainda entrevistas e artigos de opinião.

Para essa nova aposta, que se revelaria um êxito editorial pioneiro na informação lusófona, muito contribuiu o apoio, a dedicação e o conhecimento profissional de alguns jornalistas amigos.

“Encetamos a formação de uma Redacção e aqui, mais uma vez, fomos pioneiros. Aproveitando a força e as potencialidades das novas tecnologias, o Notícias Lusófonas passou a ser feito em todos os cantos do Mundo onde estavam os nossos colaboradores”, recorda António Ribeiro.

Assim, a Redacção não tinha espaço físico e existia onde estivessem os seus jornalistas e demais colaboradores, fosse em Angola, Timor-Leste ou em qualquer outro recanto onde existisse um computador.

Embora muita da informação fosse colocada online pelos seus jornalistas, o Notícias Lusófonas contava igualmente com agências de informação, casos da France Press, Lusa e Reuters.

Parafraseando Luís de Camões, o Notícias Lusófonas cantou o peito ilustre lusitano e, na prática, recordou que a ele obedeceram Neptuno e Marte. Além disso, importa dizê-lo, manda cessar (se para tal todos os lusófonos tiverem engenho e arte) “tudo o que a Musa antiga canta”. Fá-lo na certeza de que “outro valor mais alto se alevanta”.

Por culpa (mesmo que inconsciente) dos poucos que têm milhões, continuam os milhões que têm pouco à espera que a chamada comunidade lusófona acorde do longo e se calhar irreversível estado de coma em que se encontra. É claro que, como em tudo na vida, não faltarão os que dirão que não é possível entregar a carta a Garcia. Dirão isso e, ao mesmo tempo, apontarão a valeta mais próxima.

Mas não é com esses que se faz a História da Lusofonia, tal como não é com esses que se fez o Portugal em Linha ou o Notícias Lusófonas, apesar de muitos deles teimarem em flutuar ao sabor de interesses mesquinhos e de causas que só se conjugam na primeira pessoa do singular.

Até agora são mais os exemplos dos que, em vez de privilegiarem a competência, preferem a subserviência. Aliás, um dia destes, um velho amigo das causas lusófonas fez-nos o retrato do que entende ser o mal da nossa (lusófona) sociedade: “Quem trabalha muito, erra muito; quem trabalha pouco, erra pouco; quem não trabalha, não erra; quem não erra… é promovido.”

Será? Pela nossa experiência cremos que é mesmo assim. No entanto, pensamos que não poderá continuar a ser assim, a não ser que queiramos ver a Lusofonia substituída pela Francofonia ou por outra qualquer fonia.

Será isso que os políticos das pátrias que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa querem que aconteça?

Resta-nos acreditar (continuar a acreditar) que a Lusofonia pode dar luz ao Mundo e que, por isso, não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar. Se calhar, mais uma vez, estamos a tentar o impossível. Mas vale a pena (até porque a alma não é pequena), já que o possível fazemos nós todos os dias.

Cabe aqui uma declaração de interesses. Alguns de nós do Folha 8 fizeram, com orgulho, parte desse projecto. Hoje, igualmente com muito orgulho nosso, o António Ribeiro colabora de alma e coração, 24 horas por dia se tal for necessário, com o Folha 8.

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