Generais em prontidão (genocida)

O chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Francisco Furtado, acusa os partidos da oposição de criar insegurança e terror em Angola para forçar o adiamento das eleições gerais. Oposição devolve acusações ao general e ao MPLA. Mais. O que leva o responsável pela Casa de Segurança a meter a foice em seara supostamente alheia? Hum! Cheira a esturro.

O general Francisco Furtado, chefe da Casa de Segurança do Presidente da República de Angola, pede (ordena) “prontidão” às Forças Armadas Angolanas (FAA) face à “estratégia errada e irresponsável” dos partidos políticos da oposição, que acusa de intimidação e terror. O Governo já deixou de ter Ministro da Defesa Nacional (e Veteranos da Pátria)?

“Levantar suspeição de fraude, visando instauração de um clima de intimidação e terror no seio das populações, antes da convocação das eleições previstas e legisladas para o próximo ano 2022, não faz parte de nenhum jogo democrático, mas sim de uma estratégia errada e irresponsável de quem apregoa ventos de pseudo-democratas, mas que não sabem e nem estão preparadas para coabitar em ambiente de paz, concórdia e estabilidade”, alertou Francisco Pereira Furtado, numa cerimónia que marcou a celebração dos 30 anos da criação das FAA.

As declarações do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República surgem num momento de tensão política em Angola devido ao polémico acórdão do Tribunal Constitucional (do MPLA) que impugnou o congresso que elegeu Adalberto da Costa Júnior como presidente da UNITA.

Em jeito de resposta a este anúncio, o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República garantiu que a sociedade civil angolana “não se deixará levar pelas influências dos falsos activistas políticos que a todo o custo querem chegar ao poder por via da desordem, desobediência civil e actos de intolerância política”. O general Francisco Pereira Furtado pediu (ordenou) ainda às forças de defesa que estejam vigilantes na protecção da estabilidade do país. Sendo que, na perspectiva do general, estabilidade do país é sinónimo de impunidade do MPLA.

Ouvidos pela DW África, alguns dirigentes partidários desmentem o general, defendendo que a oposição é quem mais luta pela democratização do país. Por outro lado, os partidos desafiam o general Francisco Pereira Furtado a apresentar provas das suas acusações. Provas que não tem, obviamente.

Para o secretário-geral do Bloco Democrático, Muata Sebastião, “é falso que os partidos políticos estejam interessados em criar instabilidade”. “Talvez haja por parte do ministro algum sentimento de culpa não assumida, por conta da situação que o Governo está criar, mormente a instrumentalização das instituições do Estado”, acrescentou o dirigente, lembrando que a situação se “agudizou ainda mais com a última informação do Tribunal Constitucional”.

“Todos estes elementos e passivos que temos relativamente a estas situações têm estado na origem de algum clima de tensão social”, considerou Muata Sebastião.

Já o secretário nacional para informação e Marketing da CASA-CE, João Nazaré, diz que os pronunciamentos do general Francisco Pereira Furtado têm antecedentes: “Sempre que estamos em véspera de eleições gerais, algumas vozes próximas ao partido no poder fazem discursos que põem em causa a estabilidade do país com o propósito de lançar toda e qualquer responsabilidade à oposição”.

A UNITA, através do deputado e secretário provincial em Luanda Nelito Ekuikui, responsabiliza o MPLA pelo suposto plano de clima de terror no país, com a finalidade de incriminar a oposição e justificar o insucesso na governação.

“Tem sido vontade do partido onde o general milita [o MPLA], levar os angolanos efectivamente à instabilidade. Os partidos políticos na oposição rejeitam esta agenda com bastante sabedoria. Temos conhecimento de determinadas medidas que têm sido tomadas no sentido de levar o povo a revoltar-se e depois tentar-se justificar o que não se fez com uma suposta agenda dos partidos políticos na oposição, que, na verdade, é uma agenda do partido onde o general faz efectivamente parte”, acusa Ekuikui.

Recorde-se que João Lourenço orientou o então seu novo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança (Francisco Pereira Furtado) a fazer o levantamento e pôr fim a todos os oficiais “fantasmas” no seio das forças de defesa e segurança do país.

João Lourenço falava na cerimónia de tomada de posse de Francisco Pereira Furtado, nomeado pelo chefe de Estado para substituir no cargo o famosíssimo general Pedro Sebastião, exonerado na sequência de um escândalo financeiro que envolveu (se calhar por culpa da Oposição) oficiais da Casa de Segurança.

“Gostaria de desejar, fazer votos, que tenha sobretudo muita coragem, vontade, não apenas de trabalhar, mas de mudar radicalmente o estado das coisas, não apenas nas Forças Armadas Angolanas, mas em todos os órgãos de defesa e segurança, nas forças armadas, Polícia Nacional, serviços, e tal como no quartel, na parada, quando se chama pelo soldado, o soldado responde presente”, disse João Lourenço.

O chefe de Estado frisou que uma das missões do ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA, agora em novas funções, é “chamar pelos efectivos para que todos respondam presente”.

“Porque todos aqueles que recebem salários do Estado têm necessariamente de responder presente, a não acontecer isto devemos concluir imediatamente que estamos perante um efectivo `fantasma`, portanto, uma das tarefas que terá, será, com certeza, limpar todos os efectivos `fantasmas` que existirão nos órgãos de defesa e segurança”, afirmou João Lourenço.

Francisco Pereira Furtado entendeu a mensagem e alargou o seu âmbito de actuação. Assim, propõe-se… limpar também todos aqueles que, por não serem do MPLA, se atrevem a criticar os donos do poder, acreditando que Angola é o que não é: uma democracia e um Estado de Direito.

“Os últimos acontecimentos de Luanda vêm demonstrar que é por aí que, com dinheiros públicos, estamos a engordar o “caranguejo”, portanto, uma das suas missões é travarmos o quanto antes isto”, acrescentou, numa referência à “Operação Caranguejo”, relativo a um grupo de oficiais (do MPLA, é claro) afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, implicados num processo que envolve elevadas somas monetárias, na ordem dos milhões de dólares, euros e kwanzas.

Na altura, em declarações à imprensa, Francisco Pereira Furtado admitiu ter uma grande responsabilidade pela frente, realçando que foi orientado pelo Presidente da República sobre o que deve exactamente fazer. E o que deve fazer é, agora, pôr na linha esses bandoleiros dos partidos da oposição.

“O Presidente da República orientou exactamente aquilo que devo fazer relativamente à adequação das estruturas da própria Casa de Segurança e o trabalho profundo de cadastramento físico de todos os efectivos dos órgãos de segurança e defesa nacional, por formas a que possamos dar dignidade a estes órgãos que servem o país e que devem estar adequadas à realidade daquilo que o país realmente precisa e, acima de tudo, a moralização da sociedade castrense e os órgãos de segurança em si”, referiu Francisco Pereira Furtado.

Relembre-se que um comunicado da Procuradoria-Geral da República anunciava no dia 24 de Maio que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita do cometimento dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.

A nota da PGR frisava que no âmbito do referido processo foram apreendidos valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte-americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas”.

As exonerações na Casa de Segurança do Presidente da República surgiram após notícias sobre um oficial das Forças Armadas Angolanas, supostamente o chefe das finanças da banda musical da Presidência da República, major Pedro Lussaty, que tinha sido detido em posse de duas malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, supostamente a tentar sair do país.

Folha 8 com DW

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