Holden Roberto faleceu no dia 2 de Agosto de 2007. Aqui no Folha 8, por diversas vezes a ainda em vida, defendemos, pregando obviamente para e no deserto, que Angola (entenda-se o Governo, o MPLA, o estado – são sinónimos) deve um pedido desculpas, agora e infelizmente póstumo, ao fundador da FNLA. Continua a ser o mínimo se, por acaso, restar alguma vergonha… Mas não resta.
Eembora possam ser mais as ideias e as práticas que nos separavam de Holden Roberto do que as que nos uniam, ele foi uma das três mais relevantes personalidades do nacionalismo angolano, a par de Agostinho Neto e Jonas Savimbi.
Nos últimos anos de vida viu quanto ingrato era o poder na sua terra. Que país é Angola que teve e tem tanta dificuldade em reconhecer a Holden Roberto e a Jonas Savimbi (para além de Agostinho Neto), o estatuto de Herói Nacional? Por que razão, o Estado teve tanta necessidade de humilhar Holden Roberto? Será assim que se luta pela instituição de um Estado de Direito, pela reconciliação?
Não nos agradou que este velho guerrilheiro, natural de Mbanza-Congo, no Norte do país, tenha enfrentado sérias e mortíferas dificuldades para pagar os tratamentos médicos que não conseguia em Angola.
Não nos agradou que este velho guerrilheiro tenha enfrentado dificuldades para pagar os tratamentos médicos, quando Maria Augusta Tomé, ou simplesmente “Magu”, esposa do então Primeiro-Ministro, Fernando Dias dos Santos “Nandó”, alugava um Falcon da SonAir para fazer exames médicos de mera rotina… em Londres.
Veremos se Angola estará um dia disposta a, mesmo tarde e a más horas, respeitar a memória do “Velho” Holden. É que se o fizer está igualmente a respeitar os angolanos.
Angola continua a ser (re)construída à imagem e semelhança do MPLA, como se fosse um regime de partido único. E, de facto – que não de jure –, é isso mesmo.
Se o MPLA é Angola e Angola é do MPLA, herói nacional há só um, Agostinho Neto e mais nenhum. Quando o MPLA for apenas um dos partidos do país e Angola for um verdadeiro Estado de Direito, então haverá outros heróis.
Até lá, os angolanos continuarão sujeitos à lavagem do cérebro de modo a que julguem que Agostinho Neto é o único que deu um contributo na luta armada contra o colonialismo português e para a conquista da independência nacional.
O dia 17 de Setembro, instituído feriado nacional em 1980 pela então Assembleia do Povo, um ano após o falecimento de Agostinho Neto, em 10 de Setembro de 1979 na antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas, deve-se, segundo a cartilha do proprietário de Angola (o MPLA), ao reconhecimento do seu empenho na libertação de Angola, em particular, e do continente africano. Com alguma habilidade ainda vamos ver referências ao contributo para a libertação da Europa.
Fruto da entrega de Agostinho Neto à causa libertadora dos povos, o Zimbabwe e a Namíbia ascenderam igualmente à independência, assim como contribuiu para o fim do Apartheid na África do Sul, esclarecem os donos disto tudo.
Pelos vistos, desde 1961 e até agora que só existe Agostinho Neto. Se calhar até é verdade. Aliás, bem vistas as coisas, Holden Roberto e Jonas Savimbi, FNLA e UNITA, nunca existiram e são apenas resultado da imaginação de uns tantos lunáticos.
“Dotado de um invulgar dinamismo e capacidade de trabalho, Agostinho Neto, até à hora do seu desaparecimento físico, foi incansável na sua participação pessoal para resolução de todos os problemas relacionados com a vida do partido, do povo e do Estado”, diz o MPLA.
Numa coisa a cartilha do MPLA tem toda a razão e actualidade: “como o marxistas-leninista convicto, Agostinho Neto reafirmou constantemente o papel dirigente do partido, a necessidade da sua estrutura orgânica e o fortalecimento ideológico, garantia segura para a criação e consolidação dos órgãos do poder popular, forma institucional da gestão dos destinos da Nação pelos operários e camponeses”. Foi por isso que mandou massacrar milhares e milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977.
Irra! Apre! Chiça! Por que carga de água Agostinho Neto é o único fundador da nação angolana? E então Holden Roberto? E então Jonas Savimbi?