Sempre que quer o MPLA come a UNITA de cebolada

A UNITA considerou hoje a evocação do Dia da Libertação da África Austral, a celebrar sábado nos 16 países da região, como uma “deturpação da história” por parte do executivo angolano, (MPLA) “apoiada por governos de proximidade ideológica” e de, acrescentamos nós, genética igualmente ditatorial alimentada por catadupas de criminosas aldrabices.

Em declarações à agência Lusa, em Luanda, o líder parlamentar da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite que exista no país, Adalberto da Costa Júnior, indicou que a efeméride constitui “um elemento de referência propagandístico” que “não faz sentido celebrar” num contexto de reconciliação nacional. Suposta reconciliação, refira-se.

Em causa está o “23 de Março”, data que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) aprovou, a 18 de Agosto de 2018, sob proposta de Angola, como dia feriado para celebrar a “libertação da África Austral”, tendo como base a batalha angolana do Cuíto Cuanavale, que terminou em 1988, e que opôs as forças da UNITA (FALA, apoiadas pelos sul-africanos) às do Governo do MPLA (FAPLA, apoiadas por cubanos e russos).

O “23 de Março” marca a data do fim da batalha do Cuíto Cuanavale, na província do Cuando Cubango, o maior conflito militar da guerra civil angolana, que decorreu entre 15 de Novembro de 1987 e aquele dia de 1988, que opôs os exércitos das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), do Governo, apoiados por Cuba, Rússia e de forma menos visível também por militares portugueses, e das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), da UNITA, com apoio da África do Sul.

Segundo o executivo de Luanda, o fim da batalha marcou um ponto de viragem decisivo na guerra, incentivando paralelamente um acordo entre sul-africanos e cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à implementação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de segregação racial (“apartheid”), que vigorava na África do Sul.

Para celebrar a efeméride, que decorrerá sábado no Cuíto Cuanavale, o Governo do MPLA convidou todos os chefes de Estado da SADC para uma cerimónia simbólica, estando confirmada a presença de três deles – Botsuana (Mokgweetsi Masisi), Namíbia (Hage Geingob) e Zâmbia (Edgar Lungu), bem como “quase” da África do Sul (Cyril Ramaphosa) -, desconhecendo-se, porém, mais pormenores sobre o evento.

“Não faz sentido em Angola comemorarem-se vitórias e derrotas num momento de reconciliação nacional. Acima de tudo é um elemento de referência propagandístico, indiscutivelmente. Não aconteceu nada daquilo que formal e oficialmente a propaganda traz”, referiu Adalberto da Costa Júnior.

“É uma deturpação clara histórica, de continuidade ideológica que, na região, acabou também por ser abraçado por governos de proximidade ideológica. Mas os historiadores vão acabar por escrever a história real. Não estou muito preocupado. Preocupa-me sim é, numa altura destas, em que temos desafios de consolidação nacional, comemorar datas de divisão nacional. Não faz sentido nenhum”, acrescentou.

Recorde-se que em 2016, o então ministro angolano da Defesa e hoje Presidente da República, João Lourenço, homenageou o povo cubano no Triângulo de Tumpo, província de Cuando Cubango, pela sua permanente solidariedade e contribuição na vitória de Cuito Cuanavale.

“Agradeço em nome de todo o povo angolano ao povo cubano, pois nos momentos mais difíceis esteve sempre, ombro a ombro, com o povo angolano”, disse João Lourenço.

João Lourenço destacou a participação dos internacionalistas cubanos nas principais batalhas travadas no país, acrescentando que o povo cubano esteve na luta pela independência e defesa da soberania nacional, que lhe conferiu o direito natural de ser parte do diálogo quadripartido até os acordos de Nova Iorque.

Ou seja, o Presidente da República mudou, mas a filosofia da mentira continua a ser a grande máxima do regime. É caso para dizer que podem mudar as moscas mas que tudo o resto ficou na mesma.

Instado a dar a versão da UNITA, Adalberto da Costa Júnior acobardou-se (o que também não é de estranhar em função da capitulação do partido que foi de Jonas Savimbi) e disse que a batalha do Cuíto Cuanavale se saldou por um “empate” e não por uma vitória das forças do MPLA.

“Houve uma série de grandes ofensivas, que acabaram por determinar uma espécie de empate no terreno, com grandes perdas do lado governamental, e com opções diplomáticas a intervir definitivamente na última batalha que ocorreu. Estas opções diplomáticas levaram efectivamente a que partes estrangeiras envolvidas tivessem feito uma retirada”, explicou.

“A verdade é que, a inexistência de uma vitória do lado governamental é que impôs o processo de paz e a negociação do processo de paz. Se o Governo tivesse efectivamente ganho, não teria negociado, teria sido forçado à negociação da paz”, acrescentou.

Segundo Adalberto da Costa Júnior, a UNITA tem uma abordagem “completamente distinta e tranquila” sobre o que se passou na batalha e insiste que os investigadores e historiadores um dia haverão de contar a verdadeira história.

Um dia? Por onde tem andado esta criatura que lidera os deputados da UNITA na Assembleia Nacional? Para além das lagostas e de um ou outro arroto estratégico a mandioca, Adalberto da Costa Júnior sabe que a História da batalha já é conhecida e tem sido tratada, correctamente, em livros e em textos analíticos publicados em vários jornais, entre os quais o Folha 8. Sabe mas não pode dizer porque, na verdade, o MPLA não deixa. E a lagosta, convenhamos, é muito melhor que a mandioca ou o farelo.

“Tal como o MPLA nos habituou a vender uma história que não está adequada à verdade, inclusivamente sobre o número dos próprios presidentes que teve. Agora há uma tentativa de corrigir. O Cuíto Cuanavale é mais uma história”, disse.

“Temos livros e versões de cubanos. A nossa guerra foi bastante violenta, com intervenientes de vários países e as versões são completamente contrárias. A verdade é que tem um dado fundamental: não houve vitória nenhuma, como o Governo de Angola diz, e não teríamos tido a paz se assim tivesse ocorrido”, concluiu.

Adalberto da Costa Júnior assegurou, por outro lado, que a UNITA não terá nenhum representante presente no ato, afirmando ainda desconhecer se o partido recebeu algum convite nesse sentido.

O nosso contributo a esta UNITA e ao MPLA de sempre

A rapaziada dirigente do MPLA continua a não tomar a medicação correcta para a sua crónica megalomania fantasista, ou anda a fumar coisas estranhas. Indiferentes aos 20 milhões de pobres, prepararam a fanfarra, os palhaços e os restantes bobos da corte para amanhã actuarem junto ao que chamam de “Memorial sobre a Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango”, em homenagem – dizem – à bravura dos heróis de 1988.

Este Memorial, tal como foi concebido e idolatrado pelos mercenários do MPLA (João Lourenço incluído), mais não é do que uma (mais uma) enorme mentira do regime e restantes malandros que, assim, continuam a tentar reescrever a história.

Segundo o Pravda, insuspeito órgão oficial de propaganda do regime desde 1975, “um imponente edifício de aproximadamente 35 metros de altura, sob a forma de pirâmide, erguido de raiz logo à entrada da sede municipal do Cuito Cuanavale, com a denominação de “Monumento Histórico”, é sem margem de dúvidas a maior dádiva do Governo angolano para honrar a memória de todos aqueles que lutaram para defender aquela localidade da ocupação sul-africana”.

Não se sabe, embora eles saibam, onde é que o regime do MPLA (por sinal no poder desde 1975) quis e quer chegar ao construir monumentos que enaltecem o contributo dos angolanos que consideram de primeira (todos os que são do MPLA) e, é claro, amesquinham todos os outros.

Importa, contudo, desmistificar as teses oficiais que não têm suporte histórico, militar, social ou qualquer outro, por muito letrados que sejam os mercenários contratados para vender lussengue por jacaré. Apenas têm um objectivo: idolatrar uma mentira na esperança de que ela, um dia, seja vista como verdade.

De acordo com o pasquim do MPLA (também chamado Jornal de Angola), “logo à entrada do pátio do monumento histórico, o visitante tem como cartão de visita uma gigantesca estátua de dois soldados, sendo um combatente das ex-FAPLA e outro cubano, com os punhos erguidos em sinal de vitória no fim dos combates da já conhecida, nos quatro cantos do mundo, “Batalha do Cuito Cuanavale”, que se desenrolou no dia 23 de Março de 1988”.

Não está mal. A (re)conciliação nacional não se solidifica glorificando apenas e só os angolanos de primeira (MPLA/FAPLA) e os seus amigos, os cubanos e russos. Mas, também é verdade, que o regime angolano está-se nas tintas para os angolanos de segunda (afectos à UNITA ou simplesmente distantes do MPLA). Até um dia, como é óbvio.

Diz o Pravda que a batalha do Cuito Cuanavale terminou “com uma retumbante vitória das FAPLA e das FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba)”.

Importa por isso, ontem como hoje e amanhã, perceber o que leva o MPLA a comemorar esta batalha.

Sabendo que a UNITA de Jonas Savimbi (não a UNITA de Isaías Samakuva e Adalberto da Costa Júnior) considera ter vencido essa batalha, comemorá-la como se fosse uma vitória das forças do MPLA, russas e cubanas visa provocar a UNITA, para além de ser um atentado contra a verdade dos factos.

Além disso, é hábito do MPLA tentar adaptar a História às suas necessidades. Se alterar a História resultou parcialmente no passado, com a globalização e os trabalhos científicos que vão surgindo, não funciona. O regime ainda não aprendeu. Continua a seguir a máxima nazi de que se insistir mil vezes numa mentira ela pode ser vista como uma verdade. Mas não funciona.

A batalha do Cuito Cuanavale começou em Setembro de 1987, com uma ofensiva das forças coligadas FAPLA/russos/cubanos tentando chegar à Jamba. Um exército poderosamente armado, com centenas de blindados e tanques pesados, artilharia auto-transportada e outra, apoiado por helicópteros e aviões avançaram a partir de Menongue.

Depois da batalha, o General França Ndalu, veio dizer a um jornalista que o objectivo não era esse, mas sim cortar o apoio logístico à UNITA. O que é visivelmente uma fraca desculpa, porque o apoio logístico era feito de sul e do leste para a Jamba e nunca entre o Cuito Canavale e o rio Lomba.

Pela frente a coligação comunista encontrou a artilharia e a infantaria da UNITA (FALA), organizada em batalhões regulares e de guerrilha, apoiados por artilharia pesada das forças sul-africanas. Com o avolumar da ofensiva, a África do Sul colocou na batalha mais infantaria, blindados e helicópteros.

A batalha durou mais ou menos seis meses. As forças FAPLA/russos/cubanos, com dezenas de milhares de homens na ofensiva, não conseguiram passar do Cuito Cuanavale.

Segundo os analistas imparciais, as perdas dos dois lados foram as seguintes:

Do lado UNITA/África do Sul – 230 militares da UNITA, 31 sul-africanos, 3 tanques, 5 veículos, 3 aviões de observação.

Do lado FAPLA/russos/cubanos – 4.600 homens (dos quais não se sabe quantos foram russos, cubanos ou soldados das FAPLA, mas segundo os arquivos russos, já consultáveis, as perdas russas nesta batalha poderão ultrapassar a centena), 94 tanques, 100 veículos e 9 Migs.

A batalha acabou em Março de 1988 com a retirada das forças FAPLA/russos/cubanos para Menongue.

As consequências foram diversas. O exército cubano aceita retirar-se de Angola. A África do Sul aceita que a Namíbia ascenda à independência, desde que os seus interesses económicos não sejam tocados, que a Namíbia continue dentro da união aduaneira que tem com a RAS e que o porto de Walbis Bay (o único da Namíbia) continue a ser administrado pela RAS.

O MPLA aceita finalmente entrar em negociações com a UNITA (o que viria a acontecer em Portugal), aceita o pluripartidarismo, aceita as eleições.

E a UNITA, o que teve de ceder? Nada. Os seus bastiões continuaram intocados, nenhuma linha logística foi tocada, o seu exército não teve perdas, em homens e material, significativas.

Mais ou menos um ano mais tarde, e já na mesa das negociações, o MPLA tentará uma segunda ofensiva, de novo com milhares de homens, tanques, veículos, helicópteros e aviões. Foi a chamada operação “Ultimo Assalto”, e mais uma vez foi derrotado, desta vez sem os sul-africanos estarem presentes.

Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do MPLA e os seus aliados. Então o que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa.

Folha 8 com Lusa

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