O Governo do MPLA determinou a entrada em funcionamento, no reino de que é proprietário (Angola), dos Conselhos e Vigilância Comunitários (CVC), previstos na lei desde 2016, para auxiliar os órgãos de defesa e segurança no combate e prevenção da criminalidade. Na verdade, importa reconhecer, os CVC serão uma espécie de “ninjas biométricos” que também vão ajudar o milho a crescer e os laranjais a florescer.
Analisando a proposta, um verdeiro Ovo de Colombo – segundo MPLA, verifica-se que o Presidente João Lourenço tinha toda a razão quando, no dia 22 de Agosto de 2018, disse numa conferência de imprensa conjunta com a chanceler alemã Angela Merkel, em Berlim, que queria atrair investimento alemão na área da Defesa, na “vigilância e segurança marítima”. Nesse dia, o Folha 8 perguntou: Que outra prioridade poderiam os angolanos querer? Isto porque investir na Defesa faz crescer o… milho!
Na verdade, João Lourenço – com a sua única e divina capacidade de antecipação – já sabia que os CVC iriam ser fundamentais para essa campanha agrícola que nos levará para o paraíso da auto-suficiência alimentar.
O chefe de Estado sublinhou na altura a “necessidade de atrair investimento privado alemão para praticamente todos os domínios da economia”. Mas deu destaque à área da defesa, revelando que Angola tem “uma costa marítima bastante extensa” que é preciso “cuidar”. E quem melhor do que os “ninjas biométricos” para cuidar dessa vertente da segurança? Sim, quem?
“Um país que se desenvolve e descura da sua defesa, não age de forma correcta”, reconheceu o ex-ministro da… Defesa, hoje Presidente da República, certamente convicto que a razão da força é bem mas decisiva do que a força da razão dos nossos 20 milhões de pobres. Pobres que, contudo, vão ser estimulados pelos CVC a serem mais assertivos na sua luta diária para aprenderem a viver sem… comer.
“Estamos a convidar os investidores alemães a trabalhar com o estado de Angola (leia-se MPLA) na protecção da nossa costa, com o fornecimento de embarcações de guerra, tal como de outros meios eléctricos, para podermos controlar melhor esta vasta fronteira marítima que é uma parte do golfo da Guiné, uma parte que é cobiçada pelos piratas, pelos terroristas como forma de atingir os nossos países, de atingir as nossas populações, as nossas economias”, recordou o chefe do Estado do MPLA.
Na conferência de imprensa conjunta, Angela Merkel confirmou o “interesse de Angola em cooperar com a Alemanha no domínio da defesa”, acrescentando a chanceler que há muito interesse em que “a costa angolana seja segura”, porque “não existe desenvolvimento sem segurança, nem segurança sem desenvolvimento”. O Folha 8 “sabe” que já nessa altura Merkel foi informada por João Lourenço sobre o grande trunfo da sua governação: a implementação dos Conselhos e Vigilância Comunitários.
Por isso Merkel garantiu que a Alemanha tem disponibilidade em cooperar desde que exista interesse por parte das empresas, congratulando-se com o “novo vento” que sopra de Angola.
João Lourenço, que visitava pela primeira vez a Alemanha desde que foi eleito, assegurou ter gostado muito do “ambiente das negociações” que manteve com a chanceler, convidando Angela Merkel a visitar Angola, em 2019.
Questionado sobre a visita que logo a seguir iria fazer a Pequim, e uma eventual cooperação militar com a China, o chefe de Estado angolano declarou que “os laços de amizade e cooperação são sempre diversificados e quantos mais amigos, mais parceiros, melhor”.
Em 2009, o antigo chefe de Estado de Angola José Eduardo dos Santos esteve na Alemanha e, em retribuição, a chanceler alemã, Angela Merkel, visitou Angola em 2011.
Presidente, general e ministro (da Defesa) dos “ninjas”
Recorde-se, por exemplo, que em Fevereiro de 2015 as marinhas da Alemanha e de Angola realizam, ao largo de Luanda, um exercício naval conjunto que marcou o alargamento das relações entre os dois países à cooperação militar, já então com os “ninjas biométricos” em fase de quase gestação.
O exercício decorreu da presença em Angola de quatro navios da Marinha alemã, nomeadamente três fragatas de guerra, no âmbito da Força Operacional e de Formação 2015 daquele país europeu, visando o combate à pirataria.
De acordo com o anúncio feito a bordo da fragata ‘Hessen’ – que estava atracada no porto de Luanda -, pelo capitão-de-mar-e-guerra Andreas Seidl, que liderava esta força, o exercício constou de uma abordagem das forças navais angolanas a um dos navios da frota da Alemanha, tendo lugar a duas milhas da costa.
“A visita desta força da Alemanha pode ser vista como o primeiro passo visível na intensificação da cooperação militar entre as nossas duas nações”, sublinhou Andreas Seidl.
O oficial esclareceu que a cooperação entre as marinhas de ambos os países estava na altura centrada na formação de operacionais angolanos (já com uma vertente embrionária dos Conselhos e Vigilância Comunitários), mas que era intenção das duas partes alargar a base desse entendimento à cooperação na área técnica.
A inclusão de Angola na rota dos navios alemães seguiu-se à visita, em Novembro de 2014, do ministro da Defesa angolano, o general João Lourenço, à Alemanha, ocasião em que foi assinado um acordo de cooperação de Defesa entre os dois países.
Na apresentação dos meios navais em Luanda, o embaixador alemão em Angola, Rainer Müller, assumiu “o orgulho” da Alemanha em ter Angola “agora também como parceiro na área da Defesa”. E se já havia esse orgulho antes da existência dos CVC, o que dizer agora?
“Angola é um parceiro muito poderoso e influente em África e que tem uma bela história para contar”, afirmou Rainer Müller. Na altura – diga-se de passagem – José Eduardo dos Santos ainda não tinha passado de bestial a besta. E não tinha porque, pura e simplesmente, era quem estava no Poder.
Em cima da mesa, entre outros aspectos, esteve o envio de conselheiros técnicos das Forças Armadas alemãs para assistir as forças angolanas.
“Cabe aos ministérios da Defesa dos dois países decidir, mas a Alemanha está disposta a fazer muita coisa”, enfatizou o embaixador da Alemanha em Luanda.
A missão operativa, com incursão pelo mar do norte, oceano Atlântico, Golfo da Guiné, Cabo Esperança, oceano Índico e do Canal de Suez para o mar Mediterrâneo, tinha como objectivo a formação do núcleo de participação alemã nos grupos de intervenção internacionais, no âmbito de tarefas marítimas.
Contudo, o comandante desta força descartou acções de envolvimento directo pela Marinha alemã no combate à pirataria, sendo a prioridade a capacitação das marinhas dos países afectados.
O Governo angolano previa gastar o ano passado 19.500 milhões de kwanzas (78 milhões de euros) com a aquisição, pelo Ministério da Defesa Nacional, de helicópteros, embarcações de patrulha, equipamentos de vigilância da costa. Será, pensa-se, uma forma de diversificar a economia e diminuir o número de pobres, os tais 20 milhões… E era mesmo. Só faltava a criação dos “ninjas biométricos”. E como esses já estão quase a ser paridos…
Entre os investimentos orçamentados pelo Ministério da Defesa Nacional contava-se a aquisição e equipamento de transporte de seis helicópteros, por 12.159 milhões de kwanzas (48,5 milhões de euros). Como se sabe, a Defesa é prioritária para preservar a vida desses milhões de pobres que, apesar de tantos anos nessa situação, ainda não aprenderam a viver sem comer, situação que será certamente corrigida pelos CVC.