As famílias angolanas com dependentes no exterior do país vão passar a estar limitadas, a partir de 1 de Julho, ao envio de até 1.000 euros, em divisas, de ajuda familiar, determinou o Banco Nacional de Angola (BNA).
A decisão consta do instrutivo 6/2018, sobre “limites de operações cambiais de ajuda familiar”, assinado pelo governador do BNA, José de Lima Massano, e com data de 19 de Junho, enviada entretanto aos bancos comerciais angolanos.
O documento determina o limite de venda mensal de 1.000 euros, por parte dos bancos comerciais, “por beneficiário” e “especificamente para ajuda familiar”. O limite mensal por ordenador “não deverá exceder os 2.500 euros”, no caso de vários dependentes no estrangeiro, refere também.
A justificação é a de sempre: Devido às restrições no acesso a divisas em Angola e à crise económica, financeira e cambial provocada pela quebra nas receitas petrolíferas. Os donos disto tudo (MPLA/Estado) chegaram a equacionar um limite de 500 euros mensais (para os filhos de pais que não pertencem à cleptocracia) para este tipo de transferências, mas que foi fortemente criticado no país nos últimos meses.
O mesmo instrutivo estabelece que as despesas relacionadas com saúde e educação “não estão sujeitas a limites”, mas apenas “quando pagas directamente aos estabelecimentos prestadores desses serviços”.
No documento, a medida é justificada pelo BNA com “a necessidade de se conferir maior segurança e previsibilidade ao acesso à moeda estrangeira disponível, para o maior número possível de cidadãos residentes cambiais que dela necessitam para a manutenção de dependentes no exterior do país”.
Que país é Angola?
Angola é, continuará a ser, uma cleptocracia (regime político corrupto) e os seus dirigentes são uma elite indiferente ao resto da população. É por isso que, como escreveu Ricardo Soares de Oliveira no livro “Magnificent and Beggar Land: Angola Since the Civil War”, o Ocidente adora um cleptocrata.
Mesmo pelos padrões dos Estados petrolíferos, Angola é quase risivelmente injusta. Os oligarcas deixam gorjetas de 500 euros nos restaurantes da moda em Lisboa, enquanto uma em cada seis crianças angolanas morrem antes de terem cinco anos.
Esta pequena, mas poderosa, cleptocracia é aceite como uma parte integrante do sistema ocidental, sendo os expatriados que fazem a economia angolana mexer, desde as consultoras que ajudam a definir a política económica até aos bancos que financiam os negócios do altos dignitários do MPLA/Estado.
Os oligarcas do MPLA habitam a economia do luxo global das escolas públicas britânicas, dos gestores de activos suíços, das lojas Hermès, etc..
A clique dirigente consiste largamente numas poucas famílias que consideram que os cerca de 21 milhões de angolanos que sobrevivem no mato ou nos musseques são imperfeitamente civilizados, e com pouco desejo para os educar.
Por trás de cada magnata do regime há uma equipa de gestão maioritariamente estrangeira que não se preocupa com as consequências da sua gestão. Por isso os estrangeiros bombam petróleo, fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos sem sentido no meio do nada.
Os membros do clã MPLA (lato sensu) fazem luxuosas viagens à Europa e passeios entre capitais europeias recorrendo aos seus aviões privados ou iates.
O dinheiro dos governantes e o dinheiro do Estado é a mesma coisa. Todo ele é roubado ao Povo. Mas como o dinheiro não fala, empilham-no nos bancos da Europa (e não só) e gastam-no como lhes dá na real gana: compram quadros, cirurgias plásticas, casas de praia e empresas.
O perfil do cliente de elite do MPLA/Estado, em Portugal por exemplo, que representa mais de 40% do mercado de luxo português, revela que se trata sobretudo de homens, empresários, ex-generais ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.
Do outro lado estão 70% de angolanos. O seu perfil é: pé descalço, barriga vazia, (sobre)vivem nos bairros de lata.
Esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 150 e 300 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.
Por outro lado, no país dos angolanos de segunda, 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Na joalharia de luxo, os angolanos de primeira (todos afectos ao regime) também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Chaumet, Dior e H. Stern? Sim, pois claro. O preço não é problema. Quanto mais caro melhor. Comprar uma pulseira por 200 mil euros é como comer um pires de tremoços.
Em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder (o MPLA nos últimos 43 anos).
Refeições? Que tal trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005?
Quanto ao Povo, a ementa dessa subespécie é fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilarem.
Folha 8 com Lusa