A ENI anunciou hoje uma nova descoberta de petróleo no bloco 15/06, no “offshore” angolano, com reservas que a petrolífera italiana estima entre de 230 a 300 milhões de barris de petróleo. Petrolífera italiana soma… poços e lucros.
Em comunicado, a ENI refere que a descoberta foi feita no sector Kalimba daquele bloco, numa perfuração feita a cerca de 150 quilómetros da costa norte de Angola.
A perfuração realizada pela ENI atingiu uma profundidade total de 1.901 metros, dos quais 458 metros em água, com a petrolífera a acrescentar que as amostras retiradas apontam para petróleo de “alta qualidade” e com “excelentes propriedades petrofísicas”, podendo produzir, naquele poço, mais de 5.000 barris por dia.
“Esta descoberta abre novas oportunidades para a exploração de petróleo na parte sul do Bloco 15/06, até agora consideradas principalmente propensas a gás, criando assim novas possibilidades de acrescentar valor potencial ao bloco”, refere a ENI.
A petrolífera italiana é operadora do bloco 15/06, com uma quota de 36,8421%, na mesma proporção da Sonangol, e integrando ainda a SSI Fifteen Limited (26,3158%).
A ENI garante que vai começar a trabalhar “para avaliar a actualização da descoberta e iniciará os estudos para acelerar seu desenvolvimento”.
“Angola é um país chave na estratégia para o crescimento da ENI”, assume ainda a petrolífera, que já produz 155.000 barris de óleo por dia em território angolano.
No Bloco 15/06, os dois projectos de desenvolvimento de petróleo, Hub Oeste e Hub Leste, garantem actualmente cerca de 150.000 barris de petróleo por dia.
A ENI é também operadora do Bloco Cabinda Norte, localizado no “onshore” angolano.
As reservas comprovadas de petróleo em Angola estão actualmente avaliadas em 6.000 milhões de barris, um crescimento de praticamente o dobro face aos valores de 2014, mas apenas um terço com baixos custos de produção, segundo informação governamental divulgada em Maio.
No documento destinado a investidores internacionais, produzido pelo Governo angolano, é referido que entre 2013 e 2017, foram descobertos em Angola 3.700 milhões de barris de petróleo e 850 milhões de barris de gás.
“Além de expandir as reservas de petróleo de Angola, estas novas descobertas geraram substanciais pagamentos de bónus de descoberta comercial por parte de grupos de empreiteiros ao Estado”, lê-se ainda.
Em 2015, a administração da Sonangol, concessionária petrolífera estatal angolana, tinha anunciado que as reservas de petróleo em Angola estavam então avaliadas entre 3.500 milhões de barris (categoria de provada) e 10.800 milhões de barris (categoria de provável).
Na informação feita aos investidores, com data deste mês, o Governo angolano actualiza esses valores para 6.000 milhões de barris de petróleo de reservas na categoria de provada e 8.200 milhões de barris na categoria de provável.
Com mais de 1,6 milhões de barris de crude por dia, Angola é o segundo maior produtor de petróleo no continente africano, produto que garante mais de 95% das exportações do país.
A este ritmo de produção, as reservas angolanas comprovadas garantem 10 anos de produção.
Contudo, admite o mesmo documento, 66,5% das reservas estão em águas profundas, com custos de produção mais elevados, enquanto as reservas em águas rasas, mais baratas, representam 33,3%.
ENI na crista da onda… petrolífera
Recorde-se que será a petrolífera italiana ENI quem vai prestar assistência técnica e financeira de 220 milhões de dólares (186,9 milhões de euros) à refinaria de Luanda, para aumentar a produção de gasolina, das 280 toneladas para as 1.200 toneladas diárias.
O acordo de cooperação foi assinado no passado dia 13 pelo presidente do Conselho de Administração (PCA) da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), Carlos Saturnino, e pelo responsável pela área de produção da ENI, António Vella.
Na cerimónia, o PCA da Sonangol referiu que o acordo visa que a ENI dê assistência técnica à petrolífera angolana, a nível de planeamento e gestão para algumas actividades profundas de manutenção da Refinaria de Luanda, além do financiamento.
Segundo Carlos Saturnino, o acordo prevê dois módulos, o primeiro, no valor de 60 milhões de dólares (50,9 milhões de euros), para o planeamento e organização da paragem, entre 40 a 60 dias, para manutenção geral da Refinaria de Luanda, além da elaboração e desenvolvimento de um modelo económico e operacional, com vista a melhorar toda a parte operacional e sustentabilidade da empresa, incluindo ainda a formação de quadros.
Para o segundo módulo, estão envolvidos montantes até 120 milhões de dólares (101,9 milhões de euros), para a instalação de uma unidade nova, que vai permitir o aumento substancial da produção de gasolina.
Actualmente, a Refinaria de Luanda produz cerca de 330 metros cúbicos diários do produto, para uma procura diária de cerca de 5.000 metros cúbicos.
“O acordo prevê que podemos chegar a um total de 220 milhões de dólares, financiados pela ENI, que a Sonangol reembolsará em condições vantajosas para a Sonangol, porque o acordo prevê que o reembolso passe a ser feito somente 12 meses após a realização do que está a ser previsto neste acordo”, referiu.
Carlos Saturnino acrescentou que o acordo tem vantagens mútuas, reforçando que entre parceiros “há sempre criação de uma série sinergias”.
“O dinheiro tem um valor e a ENI não é uma ONG (Organização Não-Governamental), faz o seu trabalho e deve ser remunerada, agora, nós podemos é assegurar que os acordos que fizemos com a ENI tem muitas vantagens para a Sonangol e para Angola”, disse.
O responsável d Sonangol frisou que com a execução deste acordo a Refinaria de Luanda passa a ter maior sustentabilidade, com o aumento da produção de gasolina, que permitirá igualmente elevar a lucratividade da refinaria.
“Ou seja, quando esse trabalho acabar, a refinaria deverá ter melhores condições de trabalho, um visual diferente, ou seja, o aspecto geral também deverá ser melhor, não só as instalações de processamento a par dos equipamentos”, disse Carlos Saturnino.
No fim deste trabalho, salientou o PCA da Sonangol, Angola prevê estar em condições de diminuir substancialmente a importação de alguns produtos, essencialmente de gasolina, gastar menos dinheiro com a exportação de capitais, perspectivando já a exportação, em pequenas quantidades desse derivado de petróleo para alguns países africanos, “caso tudo corra bem”.
Os trabalhos de execução do projecto tiveram início no princípio deste ano e deverão estar concluídos entre os próximos 30 a 36 meses.
A Refinaria de Luanda teve a sua última paragem para manutenção em 2010, devendo a seguinte ser realizada em 2015, o que, entretanto, não se verificou.
De acordo com Carlos Saturnino, para o período de paragem da refinaria estão acauteladas todas as condições para que estejam disponíveis os produtos refinados.
“Daqui até ao início da paragem, a Sonangol vai tomar as providências para que os produtos sejam armazenados e/ou importados para que não haja sobressaltos”, informou.
Carlos Saturnino realçou que “a Sonangol não entregou a Refinaria de Luanda à ENI nem para ser gerida, nem para fazer a manutenção”, clarificando que o acordo prevê que a petrolífera italiana vai apenas prestar assistência técnica e financeira, “vai ajudar a planear, a organizar e vai financiar toda esta operação”.
Portas abertas à Itália
Recorde-se também que o Presidente João Lourenço, elogiou no dia 27 de Novembro de 2017 as históricas relações com a Itália, apontando a necessidade de alargar a cooperação, já existente na área do petróleo e da defesa, a outros sectores económicos.
O chefe de Estado falava no palácio presidencial, em Luanda, em conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, que se tornou no primeiro chefe de governo de um país ocidental a ser recebido por João Lourenço, após a sua investidura como Presidente da República, em 26 de Setembro.
“Nós pretendemos aprofundar a cooperação económica entre Angola e Itália, em vários domínios, uma vez que de momento conhecemos algum avanço nos domínios energético, por causa dos petróleos, e também da defesa. E pretendemos corrigir essa situação, estender a cooperação a outros sectores importantes da nossa economia”, afirmou João Lourenço.
O Presidente recordou o apoio que organizações não-governamentais italianas prestaram aos então movimentos nacionalistas, durante o período da guerra colonial, e da própria sociedade italiana, que permitiu a Agostinho Neto (MPLA), Amílcar Cabral (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e Marcelino dos Santos (FRELIMO) serem recebidos, em audiência, em 1970, pelo papa Paulo VI.
“Em 1975, quando o nosso país se tornou independente, a Itália foi o primeiro país europeu que reconheceu a independência de Angola. E, talvez por isso, não seja por acaso que também é o chefe do Governo italiano que efectua a primeira visita a Angola após a minha investidura”, enfatizou João Lourenço.
Na mesma intervenção, Paolo Gentiloni afirmou que a visita a Angola serviu nomeadamente para “confirmar o apoio” do Governo italiano ao novo executivo angolano e ao “programa muito importante” em curso, de reconversão económica do país, ainda essencialmente dependente das exportações de petróleo.
O primeiro-ministro Paolo Gentiloni transmitiu a disponibilidade de Itália para alargar a cooperação a outros níveis, tendo assistido à assinatura de acordos de cooperação entre as petrolíferas ENI e Sonangol, ao nível de produção de petróleo e gás, bem como de refinação.
Na área da defesa, a cooperação baseia-se essencialmente na aquisição a Itália de helicópteros e embarcações para as Forças Armadas Angolanas.
Folha 8 com Lusa