Bananal da república? República das bananas?

O presidente da Sonangol, Carlos Saturnino, disse que a empresa está em conversações com as principais petrolíferas a operar em Angola para aumentar a produção de petróleo em 250 mil barris por dia até 2020. E em relação às acusações de Isabel dos Santos, feitas a 4 de Março de 2018? Nada. Siga a farra no bananal desta espécie de república.

Por Paulo C. Queirós

De acordo com declarações citadas pela agência de informação financeira Bloomberg, o presidente da Sonangol disse que está em conversações com a Exxon e a Equinor para atingir este objectivo dentro de um ano e meio, apontando para a legislação mais favorável neste sector, que está a interessar empresas como a Chevron e a Total.

Durante a entrevista concedida à Bloomberg durante a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Carlos Saturnino disse também que Angola está a trabalhar intensamente para recuperar da descida da produção de petróleo motivada, não só pelos problemas, mas também pela incapacidade em atrair operadores internacionais.

Saturnino disse que a produção de Angola vai aumentar, no mínimo, para 1,673 milhões de barris por dia, cerca de 123 mil acima do volume actual, e que o objectivo é ter negociações directas com os operadores internacionais e, possivelmente, uma nova ronda de licitação para exploração de petróleo e gás antes de 2019.

A produção de Angola, segundo os dados da Bloomberg, caiu em Abril para 1,5 milhões de barris por dia, o volume mais baixo desde Janeiro de 2014, sendo que a previsão de produção para Agosto aponta para 1,33 milhões, o valor mais baixo da última década, segundo dados da Sonangol.

A Agência Internacional de Energia antecipa um aumento da produção para 1,65 milhões de barris diários até ao final deste ano.

O petróleo exportado por Angola já rendeu aos cofres do Estado, em cinco meses de 2018, quase tanto como em todo o ano de 2016 e metade do previsto pelo Governo angolano em receitas fiscais petrolíferas até Dezembro.

Em que é que ficamos?

Isabel dos Santos arrasa no seu comunicado de 4 e Março não só o actual Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Carlos Saturnino, como – indirectamente – o próprio Presidente da República e Titular do Poder Executivo, João Lourenço.

As afirmações de Isabel dos Santos foram, na verdade, um xeque-mate a Carlos Saturnino e um xeque a João Lourenço. Trata-se, aliás, de um documento que tem, entre outras, a especial virtude de pôr à prova Angola como um Estado de Direito. Se o for de facto, vão rolar cabeças. Se ficar tudo na mesma, então confirma-se que o país não passa de uma república das bananas.

Quase quatro meses depois mantém-se um intenso cheiro a bananas…

Fazendo fé nos exemplos que o MPLA nos dá desde 1975, tudo vai ficar na mesma. A culpa, como sempre, vai morrer solteira e os culpados vão certamente merecer um diploma de mérito. E não serão algumas exonerações que alteram a matéria de facto. Talvez venha a ser julgada, e condenada, a senhora que fazia limpeza na Sonangol. A impunidade nos principais clãs do reino continuará a ser lei.

Os 9 pontos que se seguem, e que seleccionamos do longo de demolidor comunicado de Isabel dos Santos, mostram que das duas… uma: Carlos Saturnino tem razão nas acusações feitas e Isabel dos Santos deve ser imediatamente detida, ou Isabel dos Santos tem razão e Carlos Saturnino deve ser imediatamente demitido. Nesta altura continuam ambos a cantar e a rir e em liberdade.

No caso de Isabel dos Santos ter razão, acresce a dúvida se, sendo a Sonangol (como disse João Lourenço) a galinha dos ovos de ouro de Angola, e tendo sido o Presidente da República a escolher este Conselho de Administração, ele tem condições políticas, éticas e morais para continuar a ser Presidente da República. É, claro está, uma dúvida meramente académica já que tem todas as condições para ser presidente durante mais umas décadas…

1- “Não posso deixar de demonstrar a minha total indignação com a forma como, sob o título de “Constatações/Factos” foram feitas acusações e insinuações graves, algumas das quais caluniosas, contra a minha honra e contra o trabalho sério, profissional e competente que a equipa do anterior Conselho de Administração desenvolveu ao longo de 18 meses”.

2- “Lançou-se um ataque directo ao anterior Conselho, e à minha pessoa em particular, com insinuações e acusações directas de desonestidade. Gostaria de deixar claro que não deixarei de tomar todas as medidas, e encetar todas as providências legais, adequadas e necessárias à protecção do meu bom nome e defesa dos meus direitos.”

3- “Porquê Carlos Saturnino fabrica estas mentiras e põem em causa as decisões tomadas pelo anterior Conselho de Administração e pelo Executivo? Trata-se nada mais que um circo, uma encenação! Procurar buscar um bode expiatório, para esconder o passado negro da Sonangol, e escolher fazer acusações ao anterior Conselho de Administração! Ora, isto não passa de uma manobra de diversão, para enganar o povo sobre quem realmente afundou a Sonangol. E seguramente não foi este Conselho de Administração a que presidi, e que durou 18 meses, que levou a Sonangol à falência!”

4- “Pôr em causa hoje as decisões tomadas pelo governo angolano em 2015 e 2016, pôr em causa a presença de consultores, pôr suspeitas sobre o trabalho realizado e pagamentos feitos, significa negar o facto de que a Sonangol estava falida. Pôr em causa a decisão do Governo angolano em querer reestruturar a Sonangol, e tentar manipular a opinião publica, para que se pense que a administração anterior trouxe os consultores por falta de competência ou por interesses privados, significa querer reescrever a história, e atribuir a outros as responsabilidades da falência da Sonangol. Esta manipulação dos factos assemelha se a um autêntico revisionismo, e só pode ter como objectivo, o regresso em força do que convém chamar como “a antiga escola” da Sonangol.”

5- “É falsa a afirmação de que foram efectuadas transferências bancárias de USD 38,18 Milhões após a cessação de funções da anterior Administração. O Sr. Carlos Saturnino tenta deliberadamente confundir a opinião pública fazendo crer que existiria aqui alguma irregularidade, ou falta de ética.”

6- “Afirmar que cada um dos administradores do CA anterior, recebeu, pelos 17,5 meses que esteve em funções, um total de 145 salários é falso, difamatório e calunioso. Afirmar que se tentou esconder pagamentos indevidos aos órgãos sociais e de direcção é falso! É uma aberração afirmar que uma transacção financeira ou pagamento que está registado em SAP está escondida!”

7- “As tentativas de Carlos Saturnino de reescrever a história são consequência, no meu entender, de um retorno em força da cultura de irresponsabilidade e desonestidade que afundaram a Sonangol em primeiro lugar.”

8- “O grau de agressividade e as campanhas difamatórias reproduzidas, e em perfeita coordenação com os órgãos de imprensa da oposição, e com as oficinas de manipulação das redes sociais, demonstram que há um verdadeiro nervosismo em alguns meios. Meios estes, com interesses financeiros, que durante anos aproveitaram e construíram fortunas ilegítimas a custa da Sonangol, e agora tudo fazem para que o escândalo da minha acusação difamatória, distraia a opinião pública de ver os verdadeiros responsáveis.”

9- “Esta campanha generalizada e politizada contra mim, faz-me acreditar que estão de retorno os interesses das pessoas que enriqueceram de bilhões à custa da Sonangol. São estes, que hoje fomentam e agitam a opinião pública de forma a poder retomar os seus velhos hábitos.”

Legenda: Fotomontagem com duas PPE (Pessoas Politicamente Expostas).

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