O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, considera “aceitável” a actual cotação dos diamantes no mercado internacional, mas defende medidas para assegurar a estabilidade e evitar quebras bruscas nos preços, como aconteceu com o barril de crude. Quem diria?
Aposição de sua majestade o rei de Angola está expressa numa nota enviada ao Folha 8 pela Casa Civil do Presidente da República, referindo-se à reunião mantida ontem, em Luanda, com Ahmed Bin Sulayen, actual presidente do Processo Kimberley e presidente executivo da Dubai Multi Commodities Center (DMCC), a maior zona franca dos Emirados Árabes Unidos, que congrega cerca de 12.000 empresas.
Segundo a mesma informação, o chefe de Estado e também Titular do Poder Executivo salientou que os diamantes “estão com uma cotação aceitável no mercado internacional”, tendo solicitado ao dirigente daquela entidade internacional que tenta travar o negócio dos ‘diamantes de sangue’ para “ajudar a assegurar a estabilidade do seu preço”.
“Evitando-se que ocorra sobre o preço dos diamantes o contágio do preço do petróleo, nomeadamente a sua drástica redução e alta volatilidade”, lê-se na nota.
Angola vive desde o final de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra para metade nas receitas fiscais com a venda de petróleo face à forte descida da cotação internacional do barril de crude, que tem um peso de 98% nas exportações do país.
O presidente do conselho de administração da Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama), Carlos Sumbula, disse em Janeiro que os países produtores diamantíferos estão a reduzir a quantidade de pedras preciosas no mercado para travar a quebra nos preços.
“Em cooperação com todos os países produtores do mundo, estamos a reduzir a quantidade de diamantes no mercado para fazer com que a procura aumente e isso também aumentará o preço”, apontou o administrador da estatal angolana, concessionária do sector.
Angola atingiu em 2015 um novo recorde de produção de diamantes, com 8,837 milhões de quilates, o que rendeu ao país 1,1 mil milhões de dólares (mil milhões de euros), mas reflectindo uma quebra de receitas de quase 200 milhões de euros devido à quebra na cotação.
“Apesar de estamos em crise na comercialização, podemos dizer que temos estado a gerir esta crise com bastante mestria, em colaboração com todos os outros países. Pensamos que no decorrer deste ano podemos inverter a situação [quebra nos preços]”, disse na altura o presidente do Conselho de Administração da Endiama, apontando a falta de publicidade dos diamantes a nível mundial como justificação para a “crise” actual.
Exportação de diamantes em alta
A exportação de diamantes por Angola disparou para mais de 740.000 quilates no mês de Maio, aumentando igualmente as receitas fiscais em quase 25 por cento, face a Abril, para 5,8 milhões de euros.
De acordo com um relatório do Ministério das Finanças angolano sobre a arrecadação de receita com a venda de diamantes, relativo ao mês de Maio, o país vendeu em média cada quilate por 102,71 dólares, uma descida face aos 120,95 dólares de Abril.
Em todo o mês de Maio, Angola vendeu 743.961 quilates, contra os 698.086 que exportou no mês anterior (aumento de 6,5%), segundo dados da Administração Geral Tributária, traduzindo-se em vendas globais no valor de 76,4 milhões de dólares (67,7 milhões de euros).
As vendas de diamantes no quinto mês de 2016 representaram receitas fiscais ordinárias para o Estado angolano no valor de 1.083 milhões de kwanzas (5,8 milhões de euros), quando no mês anterior, de Abril, se cifraram nos 869,2 milhões de kwanzas (4,7 milhões de euros).
Depois do petróleo, os diamantes são o principal produto de exportação de Angola.
Entre outros projectos, a Endiama já anunciou que a primeira fase de produção da nova mina de diamantes do Luaxe, no interior norte, “o maior kimberlito” descoberto no país e que poderá duplicar a produção nacional, arranca “nos primeiros meses de 2018”.
Juntamente com os restantes parceiros do contrato de investimento mineiro do Luaxe, a Endiama e os russos da Alrosa prevêem investir mil milhões de dólares (887 milhões de euros) naquela concessão, que poderá garantir uma produção anual de cerca de dez milhões de quilates.
A mina de Luaxe deverá representar reservas à volta de 350 milhões de quilates e conta com uma previsão de exploração de mais de 30 anos.
Folha 8 com Lusa