MAIS DE 180 MILHÕES DE CRIANÇAS  PASSAM FOME

Mais de 25% (uma em cada quatro) das crianças menores de 5 anos no mundo sofrem de “pobreza alimentar severa” (fome), o que significa que mais de 180 milhões de crianças correm o risco de sofrer graves consequências para a saúde se não tiverem uma dieta nutritiva e diversificada, adverte a Unicef. Em Angola, o MPLA (no Poder há 49 anos) continua a luta para ser o primeiro país no mundo a ensinar as crianças (tal como os adultos) a viver sem comer…

Um número “impactante” de crianças “sobrevive com uma dieta muito pobre, consumindo produtos de dois ou menos grupos de alimentos”, explicou à AFP Harriet Torlesse, uma das autoras do relatório da Unicef.

Segundo as recomendações da agência da ONU para a infância, as crianças pequenas devem consumir diariamente alimentos de pelo menos cinco dos oito grupos (leite materno, cereais, frutas e verduras ricas em vitamina A, carne ou peixe, ovos, produtos lácteos, leguminosas, outras frutas e verduras). Em Angola, muitas crianças seguem o regime alimentar adequado. São todas da etnia (ou tribo) dos oligarcas que há 49 anos mandam no país, e que dá pelo nome de MPLA.

No entanto, 440 milhões de crianças menores de 5 anos (66%) que vivem em 137 países de baixo e médio rendimento (para os povos mas altíssimo para os oligarcas), não têm acesso a esses cinco grupos todos os dias, e por isso sofrem de “pobreza alimentar”. E, dessas, cerca de 181 milhões (27%) consomem, no máximo, alimentos de dois grupos.

Estas crianças que só comem – quando comem – “dois grupos de alimentos por dia, por exemplo, arroz e um pouco de leite, têm 50% mais chances de sofrer formas graves de desnutrição”, advertiu a chefe da Unicef, Catherine Russell, num comunicado de imprensa.

Situações graves como a desnutrição ou magreza extrema podem levar à morte. E, se essas crianças sobrevivem e crescem, “não prosperam. Têm desempenho pior na escola, e na vida adulta têm mais dificuldade para ganhar a vida, perpetuando o ciclo de pobreza de geração em geração”, continuou Harriet Torlesse.

“O cérebro, o coração e o sistema imunológico, que são importantes para o desenvolvimento e protecção contra doenças, dependem das vitaminas, minerais e proteínas”, insistiu a especialista em nutrição.

A “pobreza alimentar severa” concentra-se em 20 países, com situações especialmente preocupantes na Somália (63% das crianças menores de 5 anos afectadas), Guiné (54%), Guiné-Bissau (53%) e Afeganistão (49%).

E, embora não haja dados sobre países ricos, as crianças de lares pobres também não estão isentas dessas deficiências nutricionais.

O relatório analisou especialmente a situação em Gaza, onde a ofensiva israelita provocada pelo ataque sem precedentes do Hamas a 7 de Outubro causou “o colapso dos sistemas alimentar e sanitário”.

Baseando-se em cinco séries de dados recolhidos por SMS de Dezembro a Abril entre as famílias beneficiárias de um programa de ajuda económica na Faixa de Gaza, a Unicef calcula que 9 em cada 10 crianças sofrem de pobreza alimentar grave.

Embora esses dados não sejam necessariamente representativos, ilustram a catastrófica deterioração da situação desde 2020, quando apenas 13% das crianças viviam nessa situação, segundo a agência da ONU.

A nível global, constatando um “progresso lento” nos últimos dez anos na luta contra a pobreza alimentar, o relatório pede a introdução de mecanismos de protecção social e ajuda humanitária para os mais vulneráveis.

Também exige uma transformação do sistema agro-alimentar, culpando as bebidas com alto teor de açúcar e os alimentos ultra-processados industrializados “comercializados agressivamente para os pais e famílias, e que se estão a tornar a norma para alimentar as crianças”.

Esses produtos são frequentemente “baratos, mas também muito calóricos, muito salgados e gordurosos. Enchem o estômago e tiram a fome, mas não fornecem as vitaminas e minerais que as crianças precisam”, destacou Harriet Torlesse.

Os produtos doces ou salgados, aos quais as crianças se habituam desde muito cedo, e potencialmente para toda a vida, favorecem a obesidade.

EM ANGOLA, CRIANÇAS TÊM FOME E SÃO ESCRAVAS

A Unicef tratou 100.000 crianças angolanas desnutridas (com fome, em bom português), de três províncias, com a administração de suplementos nutricionais, afirmou no passado dia 27 de Maio o chefe de secção de Saúde e Nutrição desta agência da ONU.

Segundo Frederico de Brito, prelector do tema “O Impacto da Desnutrição na Vida das Crianças”, no ‘workshop’ promovido pela (onde todos estão mais do que bem… nutridos) Assembleia Nacional de Angola, alusivo ao Dia Internacional da Família, as intervenções foram realizadas, em 2023, nas províncias da Huíla, Benguela e Cunene, zonas afectadas pela seca e por 49 anos de uma governação criminosa e incompetente.

“Esta é uma intervenção que estamos a fazer com apoio dos nossos parceiros, a USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] e a União Europeia, no âmbito das respostas às mudanças climáticas à zona sul de Angola”, referiu Frederico de Brito, em declarações.

Frederico de Brito disse que as intervenções foram feitas em hospitais, quer com a mobilização de nutrientes, leites terapêuticos e produtos terapêuticos para consumo imediato, seguindo um protocolo de tratamento, “que faz com que elas sejam rapidamente tratadas”, salvando as crianças “de uma progressão de desnutrição grave”.

O apoio envolve também a formação de mães, para assegurar que a partir de alimentos existentes na comunidade seja dada alimentação adequada às crianças.

Ou seja, são tratadas as crianças que nem peixe podre e fuba podre têm, enquanto os dirigentes do regime, tanto a nível municipal, provincial e nacional se alimentam de trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005…

“Foi um grande sucesso esses resultados, salvamos vidas, mas com a participação do Governo”, frisou Frederico de Brito, escondendo que, na realidade, aos nossas criança são geradas com fome, nascem com fome e morem pouco depois com… fome.

Durante a sua apresentação, o responsável manifestou preocupação com a falta de dados estatísticos sobre a desnutrição em Angola, tendo baseado a sua apresentação em informação do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, de 2015. Se a incompetência fosse comida… não haveria fome em Angola.

“De facto, há um desafio muito grande de dados a nível de Angola, porque sem dados concretos é difícil focalizar as intervenções. Os dados que nós usamos são do Governo, foram produzidos em 2015, e estamos felizes por ver que há um novo estudo que vai sair no próximo ano”, disse Frederico de Brito, salientando que a Unicef também participou do estudo para assegurar que as metodologias usadas seguiram os padrões internacionais.

Baseando-se nos dados de há quase dez anos e na situação do país no decorrer deste período, Frederico de Brito disse que a percepção da Unicef “é que a questão da desnutrição ainda continua crítica em Angola”. Claro que continua. Importa, contudo e em abono do Governo do MPLA (no Poder há 49 anos), alertar que quem analisar as estatísticas deve, obrigatoriamente, fazer médias analíticas. Isto é. Se o João (neto do general João Lourenço) comer por dia um cordeiro assado com cogumelos, e o Miguel (filho da Maria zungueira) nada comer, em média o Miguel comeu meio cordeiro assado com cogumelos…

De acordo com o chefe de secção de Saúde e Nutrição da Unicef, de 2015 para cá, Angola registou vários choques, como a questão macroeconómica do país, com a redução do poder de compra das famílias, as mudanças climáticas, que afectaram sobretudo a zona sul do país, e a pandemia da covid-19, que também criou grande desestabilização a nível das famílias. Há, contudo, outras razões ocultas, verdadeiros segredos de Estado (corrupção, cleptocracia, esclavagismo etc. etc. etc.).

“Leva a crer que a situação ainda permanece. Esta é a razão pela qual, no ano passado, 100.000 crianças foram tratadas por causa da desnutrição no sul do país”, referiu Frederico de Brito, sublinhando que as crianças tratadas correspondiam a 5% do universo de menores nessa região.

“O estudo de 2015 mostrava que 5% das crianças eram desnutridas, então isso leva-nos a crer que há uma manutenção desse problema, sobretudo na zona sul – ainda não temos entendimento do país no geral -, mas a nível do sul do país ainda se mantém a situação”, vincou.

Recorde-se que, em Julho de 2008, os líderes das oito economias mais industrializadas do mundo (G8), reunidos no Japão numa cimeira sobre a fome, causaram espanto e repúdio na opinião pública internacional, após ter sido divulgada aos órgãos de comunicação social a ementa dos seus almoços de trabalho e jantares de gala.

Reunidos sob signo dos altos preços dos bens alimentares nos países desenvolvidos – e consequente apelo à poupança -, bem como da escassez de comida nos países mais pobres, os chefes de Estado e de Governo não se inibiram de experimentar 24 pratos, incluindo entradas e sobremesas, num jantar que terá custado, por cabeça, a módica quantia de 300 euros.

Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas eram apenas alguns dos pratos à disposição dos líderes mundiais, que acompanharam a refeição da noite com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005, que estava avaliado em casas da especialidade on-line a cerca de 70 euros cada garrafa.

Não faltou também caviar legítimo com champanhe, salmão fumado, bifes de vaca de Quioto e espargos brancos. Nas refeições estiveram envolvidos 25 chefs japoneses e estrangeiros, entre os quais alguns galardoados com as afamadas três estrelas do Guia Michelin.

Segundo a imprensa britânica, o “decoro” dos líderes do G8 – ou, no mínimo, dos anfitriões japoneses – impediu-os de convidar para o jantar alguns dos participantes nas reuniões sobre as questões alimentares, caso dos representantes da Etiópia, Tanzânia ou Senegal.

Os jornais e as televisões inglesas estiveram na linha da frente da divulgação do serviço de mesa e das reacções concomitantes. Dominic Nutt, da organização Britain Save the Children, citado por várias órgãos on-line, referiu que “é bastante hipócrita que os líderes do G8 não tenham resistido a um festim destes numa altura em que existe uma crise alimentar e milhões de pessoas não conseguem sequer uma refeição decente por dia”.

Para Andrew Mitchell, então dirigentes do governo-sombra conservador, “é irracional que cada um destes líderes tenha dado a garantia de que vão ajudar os mais pobres e depois façam isto”.

A cimeira do G8, realizada no Japão, custou um total de 358 milhões de euros, o suficiente para comprar 100 milhões de mosquiteiros que ajudam a impedir a propagação da malária em África ou quatro milhões de doentes com Sida. Só o centro de imprensa, construído propositadamente para o evento, custou 30 milhões de euros.

Folha 8 com Lusa

Artigos Relacionados

Leave a Comment