A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) considerou hoje como “um acto de coragem” e “grande terapia social” o pedido de desculpas do Presidente angolano, em nome do Estado, pelas execuções sumárias de há 44 anos, quando Agostinho Neto (ainda hoje venerado herói do MPLA) mandou massacrar milhares e milhares de angolanos.
Segundo o porta-voz da CEAST, Belmiro Chissengueti, o pedido de perdão do Presidente angolano, João Lourenço, é “um acto de coragem e um passo que foi esperado durante muitos anos, sobretudo pelas vítimas directas destes acontecimentos”.
“E muitas destas, algumas também já morreram, mas como se diz mais vale tarde do que nunca e penso que foi um acto de coragem do Presidente da República de ter assumido os excessos do 27 de Maio de 1977”, afirmou Belmiro Chissengueti, em declarações à Lusa. Chamar excessos ao massacre de milhares e milhares de angolanos é mesmo que dizer que é exequível passar um elefante pelo buraco de uma agulha. Mas a Igreja Católica lá saberá quanto essa apologia lhe renderá…
Para o bispo católico angolano, a iniciativa do Presidente do MPLA, de Angola (não nominalmente eleito) e Titular do Poder Executivo também se traduz num “bom passo para a reconciliação nacional”, observando que “muitos dos excessos” daquele período, que vitimaram milhares de angolanos, “poderiam ter sido evitados”.
“E sabemos que este pedido de perdão é também extensivo a todos os conflitos políticos havidos em Angola desde a independência até os dias de hoje”, realçou o Belmiro Chissengueti, numa clara manifestação de (não sabemos em que parte da Bíblia isso está referido) querer agradar a Deus e ao Diabo..
O Presidente João Lourenço pediu desculpas em nome do Estado pelas execuções sumárias (massacres) levadas a cabo após o alegado golpe de 27 de Maio de 1977, salientando que se trata de “um sincero arrependimento”. Tão sincero que o mentor dos massacres, Agostinho Neto, continua a ser – segundo o MPLA – o único herói nacional.
“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo.
“O pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos”, acrescentou. Assim, segundo o próprio presidente João Lourenço, nada desta encenação se destina, ao faz antever, que seja feita justiça. Aliás, de acordo com o ADN do MPLA, fazer justiça seria com certeza reeditar o que Agostinho Neto mandou fazer em 27 de Maio de 1977.
João Lourenço admitiu que, devido ao tempo decorrido, poderá não ser possível localizar todas as vítimas, mas garantiu que serão feitos todos os esforços para que as famílias possam realizar um funeral condigno e pediu a compreensão de todos para os casos em que não for possível atingir este objectivo.
Belmiro Chissengueti reitera que a iniciativa do chefe de Estado “é um passo inicial de reconciliação com a história, com o passado”, mas, assinala, “é fundamental que no presente se faça todo o esforço para que a barbárie de 77 e de outros conflitos não se voltem a repetir”.
“Se fazemos e temos coragem de nos reconciliarmos com os mortos, por maioria de razão, temos também de fazê-lo com os vivos, ou seja, fazer com que no concerto político ordinário se busque a salvaguarda do bem comum, se promovam os valores da caridade, da solidariedade, da partilha, do amor e da concórdia”, defendeu.
O também bispo diocesano de Cabinda, considerou também ser necessário que se “evitem actualmente situações de intolerância política, de humilhação de adversários políticos e todas aquelas situações passíveis de provocarem novos conflitos”.
“Pois é com os vivos que temos de fazer o frente-a-frente para a reconciliação”, rematou o porta-voz da CEAST.
Para João Lourenço, a postura de um Estado “deve ser ponderada e comedida pelas responsabilidades que tem na defesa da Constituição, da lei e da vida humana”.
17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice-presidente do MPLA, João Lourenço (alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.
João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemorações do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamente ao nascimento de Agostinho Neto.
“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalidade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmente porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República (do MPLA) e Titular do Poder Executivo (do MPLA), certamente já perspectivando em guindá-lo a figura de nível mundial. Hitler que se cuide…
“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional, particularmente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirmou o Bureau Político do MPLA.
Na intervenção em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representação do seu então querido, carismático e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.
“Como atestam as populações mais carenciadas de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitamente, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.
“Em contrapartida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractores não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhados nos seus recalcamentos e frustrações, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”.
“Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar-se-á de simplesmente ignorá-los, concentremos por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço.
Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconciliadora a dizer aos angolanos sobre os acontecimentos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinados por ordem de Agostinho Neto?
“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse no pedestal da sua cadeira-baloiço, um dos maiores genocidas do nacionalismo angolano e da independência nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas.
Folha 8 com Lusa