O Fundo Monetário Internacional (FMI) mantém a previsão de crescimento negativo para Angola em 4% e estima que no próximo ano a economia já registará um crescimento, expandindo-se 3,2%, sustentada na subida dos preços do petróleo. Quanto às economias da África subsaariana, onde se inclui Angola, não deverão recuperar os níveis de crescimento registados antes da pandemia até 2023 ou 2024.
“E m Angola, a crise juntou-se às vulnerabilidades já existentes; o Produto Interno Bruto real deverá contrair-se pelo quinto ano consecutivo, caindo 4% em 2020, reflexo da descida da produção e dos preços do petróleo, aperto nas condições de crédito e declínio na actividade empresarial”, lê-se na parte do relatório dedicada a Angola.
Nas previsões macroeconómicas, o FMI estima que a inflação suba para 21% este ano e desça ligeiramente para 20,6% em 2021, ao passo que a dívida pública deverá aumentar para 120,3% em 2020 e descer para 107,5% do PIB no ano seguinte, mantendo-se assim as previsões apresentadas na terceira revisão do programa de apoio financeiro do FMI, em Setembro.
Contrariando a prática dos últimos anos, o saldo orçamental de Angola deverá ser negativo este ano, prevendo o FMI um desequilíbrio de 2,8%, que melhora para 0,1% em 2021.
A nível regional, o FMI alerta que “a África subsaariana está a lidar com uma crise económica e sanitária sem precedentes, que em apenas alguns meses pôs em causa os ganhos de desenvolvimento dos últimos anos e perturbou a vida e os rendimentos de milhões de pessoas”, pelo que “a projecção base assume que, para a maioria dos países, algum distanciamento social vai continuar em 2021 e desvanecer-se a partir do final de 2022, à medida que a cobertura das vacinas se expande e as terapêuticas melhoram”.
O reaparecimento de novos casos em muitas economias avançadas e o espectro de surtos cíclicos na região “sugerem que a pandemia vai provavelmente continuar a ser uma preocupação muito séria durante algum tempo“, dizem os técnicos do FMI, notando que a reabertura das economias está a contribuir para já haver sinais de crescimento no segundo semestre.
Ainda assim, para o conjunto do ano, o FMI prevê uma recessão de 3% na região, salientando que as economias mais dependentes do turismo, como Cabo Verde, e os países exportadores de matérias-primas, como Angola ou a Guiné Equatorial, foram os mais afectados.
“Para 2021 prevemos um crescimento de 3,1%, que é uma expansão menor do que a esperada no resto do mundo, reflectindo parcialmente o parco espaço de manobra orçamental que os países têm para sustentar uma política expansionista”, razão pela qual o apoio internacional é fundamental, concluem.
A nível mundial, o FMI prevê uma recessão de 4,4% em 2020 e uma recuperação de 5,2% em 2021.
Por sua vez, o analista da agência de notação financeira Fitch Ratings que segue a economia de Angola considerou recentemente que será difícil ao Governo garantir novos financiamento para pagar a totalidade da dívida que vence nos próximos anos.
“Acreditamos que as autoridades angolanas vão continuar a servir a dívida em moeda estrangeira em 2020 e 2021, mas com a data da amortização a aproximar-se, o Governo vai ter de garantir novas fontes de financiamento, e isso pode ser difícil devido ao nível de dívida que Angola tem e pode depender de um equilíbrio económico e do regresso a um crescimento económico robusto”, escreveu Jermaine Leonard.
Num relatório especial destinado a responder às principais dúvidas dos investidores sobre vários temas e vários países, Jermaine Leonard aborda a pergunta «Vai Angola tentar reestruturar a Dívida Privada» e escreve que “o cenário central da Fitch é que Angola cumpra as obrigações do serviço de dívida externa em 2020 e 2021 devido a uma combinação de reescalonamento de pagamento à China e a outros credores bilaterais, apoio de instituições financeiras multilaterais e recursos a reservas externas”.
A boa relação entre Angola e o FMI, acrescenta o analista, “sugere a viabilidade de um programa de seguimento” a seguir ao actual, e o país pode também recuperar o acesso aos mercados internacionais e recorrer a emissões para colmatar os défices de financiamento.
Na resposta à questão central sobre a possibilidade de Angola reestruturar a dívida privada, uma possibilidade que a ministra das Finanças, Vera Daves, tem repetidamente afastado, Jermaine Leonard lembra que “o FMI apontou sérios desafios à sustentabilidade da dívida” angolana, apesar de esperar uma descida dos 123% do PIB este ano para 70% em 2025.
“A Fitch prevê que a dívida de Angola aumente para 129% do PIB, ou 850% das receitas fiscais, e isto é indicativo das dificuldades de Angola em aumentar a receita não petrolífera”, alerta o analista, acrescentando que este nível de rácio da dívida face à receita é mais do dobro da média de 356% dos países com o rating ‘B’.
Por isso, conclui, “apesar de as autoridades terem um histórico forte de implementação de reformas estruturais e orçamentais, um falhanço na redução sustentada do peso da dívida pode levar a uma situação em que o FMI torna a reestruturação da dívida privada uma condição para o apoio financeiro”.
Folha 8 com Lusa