A moeda angolana voltou a depreciar-se face à europeia pela segunda vez este mês, situando-se a taxa média de referência nos 329,537 kwanzas/euro, uma perda de 43,74% face a Janeiro deste ano, indica hoje um comunicado oficial.
Segundo uma nota do Banco Nacional de Angola (BNA), o câmbio ficou definido no leilão de venda de divisas aos bancos comerciais realizado na quarta-feira, que permitiu colocar no mercado primário 30 milhões de euros para a cobertura de operações de natureza comercial e privada em posse da banca comercial e em conformidade com a regulamentação cambial vigente.
A 1 de Janeiro deste ano, a moeda angolana era transaccionada a 185,40 kwanzas/euro, câmbio que, em relação ao euro e ao dólar, tem vindo a depreciar-se desde que foi implementada a nova modalidade mensal de venda de divisas, iniciada a 9 de Janeiro.
Na sessão de quarta-feira, lê-se no documento, foi apurada a taxa de câmbio de referência de 329,537 kwanzas por euro, tendo contribuído para o respectivo apuramento 14 bancos comerciais, com a taxa mais alta a atingir os 330,479 kwanzas/euro e a mais baixa 327,951 kwanzas/euro.
Adicionalmente, via alocação ao Mapa de Necessidades dos bancos comerciais, o BNA disponibilizou 20 milhões e euros para a regularização final de atrasados cambiais referentes ao período entre 2014 e 2017.
Na terça-feira, o BNA realizou dois leilões de divisas e colocou 130 milhões de euros no mercado primário, tendo a moeda angolana voltado então a depreciar-se, para 324,158 kwanzas/euro.
Quanto ao dólar, não há qualquer referência no comunicado de hoje do BNA.
No último leilão, realizado a 30 de Agosto, a taxa de câmbio média ponderada foi de 276,562 kwanzas/dólar, contra os 272,9 kwanzas apurados no leilão de 14 de Agosto e 268,02 apurado na primeira venda do início desse mês.
No entanto, hoje, no portal do BNA, a moeda norte-americana está a ser comprada a 280,149 kwanzas/dólar e vendida a 280,802 kwanzas/dólar, quando, há dois dias, o valor de compra era 276,44 kwanzas/dólar e de venda a 277,014 kwanzas/dólar.
No início do mês, o BNA indicou que vai efectuar oito leilões de divisas em Setembro, pretendendo colocar 700 milhões de dólares (598 milhões de euros), tendo-se já realizado três.
No documento, o banco central angolano indica que, a partir de agora, e com o objectivo de conferir maior previsibilidade ao mercado, passará a divulgar, no último dia útil de cada mês, de forma indicativa, o montante e calendário das suas intervenções no mercado cambial para o mês seguinte.
Nesse sentido, indicou que, este mês, irá proceder à venda do equivalente a 500 milhões de dólares aos bancos comerciais, incluindo “plafonds” para cartas de crédito, por via de oito leilões.
O montante, moeda e finalidades serão anunciados aos bancos comerciais nas 24 horas que precedem a realização de cada leilão.
Com os dois leilões já realizados, o próximo ocorrerá a 10 deste mês, seguindo-se sucessivamente novas operações nos dias, 12, 18, 20, 24 e 26.
“O Banco Nacional de Angola reitera a necessidade de as instituições financeiras verificarem rigorosamente a legitimidade e conformidade das operações cambiais que processam, considerando a legislação e regulamentação cambial e de prevenção e combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, de forma a proteger as Reservas Internacionais do País e as suas relações com o sistema financeiro internacional”, lê-se no documento da instituição.
Ora então, desvalorize-se
O governador do BNA explicou a estratégia logo no início do ano. Ou seja, o kwanza não seria desvalorizado por acção do Governo, mas em resultado do novo regime cambial, que passou da taxa fixa para flutuante.
José Lima Massano anunciou que Angola adoptou uma nova política cambial, passando do câmbio fixo para o flutuante, permitindo que seja o mercado a criar, ou não, o equilíbrio da taxa de câmbio. Segundo o governador do BNA, foi feita uma alteração ao regime cambial de Angola, deixado de ter um câmbio fixo, para ser adoptado um regime de câmbio flutuante.
“Quando falamos em desvalorização regra geral referimo-nos a uma intervenção administrativa da alteração da taxa de câmbio, forçando a perda do poder de compra da nossa moeda em relação a outras moedas, o que estamos a dizer é que não vamos ter desvalorização, mas deveremos ter uma depreciação”, reiterou Massano, acrescentando que quem vai ditar as novas regras é o mercado, entendendo que a probabilidade de haver uma depreciação “é grande”, devido à escassez de moeda, o grande diferencial de mercado.
“Nós vamos ter uma depreciação, mas que vai ser ditada pelo mercado. Vamos deixar que seja o mercado a encontrar esse novo equilíbrio”, disse o governador.
Desde o primeiro trimestre de 2016 que a taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) estava fixa nos 166 kwanzas por cada dólar norte-americano e nos 186 kwanzas por cada euro.
Para a gestão deste processo, José Lima Massano disse que o banco central angolano vai definir um intervalo, que vai permitir que seja o próprio mercado a encontrar o equilíbrio da taxa de câmbio: “Ou seja, o Banco Nacional de Angola não vai administrativamente desvalorizar a moeda, nós vamos sim criar um regime, criar uma banda e dentro dessa banda vamos permitir que no mercado primário, os participantes encontrem um novo equilíbrio, podendo por isso ocorrer uma depreciação do câmbio, do kwanza em relação às principais moedas”.
Essa banda, informou ainda, é matéria restrita do banco central, “não será de domínio público” e é um instrumento interno que vai dizer a partir de que momento o banco deverá fazer intervenções correctivas ao mercado: “Se o câmbio permanecer dentro da banda que entendemos adequada para a estabilidade não haverá necessidades de intervenções do banco central”.
Folha 8 com Lusa