“A credibilidade é uma qualidade cara em política – vale ouro. Um político credível é uma pessoa de elevado valor ético, moral e político. É uma pessoa cara“, começa por afirmar Nuno Álvaro Dala na carta aberta que escreveu ao Presidente da UNITA, Isaías Samakuva.
Vejamos o teor desta missiva escrita por este Professor, Investigador e Activista Angolano:
“Angola é, porém, um país cheio de políticos baratos – gente que não respeita o compromisso, que não cumpre com a palavra dada. E o senhor é um político barato. Não tem credibilidade.
Atentemos aos seguintes factos:
1. Em 2008, logo após o desastre eleitoral em que a UNITA sofreu uma pesadíssima derrota e perdeu mais de 50 deputados (ao contrário dos 70 ganhos em 1992), o senhor anunciou que punha o seu lugar à disposição, por ter falhado no objectivo de levar a UNITA ao poder pela via eleitoral. Todavia, a Comissão Política do partido deliberou que o senhor tinha de continuar na presidência da UNITA, apelando aos militantes para que cerrassem fileiras ao líder. E o senhor manteve-se à frente do partido.
2. Em 2012, com a UNITA a somar a segunda derrota eleitoral sob sua presidência, o senhor manifestou internamente inquietações e uma tendência de abandonar a presidência do partido, numa altura em que, de facto, o senhor enfrentava também a pressão interna de um sector considerável de militantes e responsáveis que o queriam fora da presidência, por causa dos maus resultados eleitorais e não só. Todavia, sem que tal se tornasse público, as suas inquietações e intenção de resignação foram ultrapassadas pela mesma Comissão Política e o senhor se manteve à frente do partido.
3. Em 2017, meses antes das eleições, o senhor anunciou publicamente que, ‘caso a UNITA ganhasse as eleições de 23 de Agosto, abandonaria a presidência do partido para se dedicar apenas à governação do País; caso a UNITA perdesse as eleições, na mesma abandonaria a presidência do partido para o servir numa outra posição. Chegaram as eleições, e a UNITA somou a terceira derrota sob a sua presidência (derrota que o seu partido ajudou a legitimar com recurso a jogadas políticas desastrosas). Então, a sociedade, mais uma vez, ficou à espera que o senhor cumprisse com a promessa de deixar a presidência da UNITA. Todavia, passados quase 4 meses depois das eleições, eis que – para espanto de meio mundo – ficou estabelecido que o senhor manter-se-á na presidência do partido até 2019, tal como deliberado na III Reunião da Comissão Política.
Note o senhor que tanto no primeiro caso (2008), no segundo caso (2012) como no terceiro caso (2017), a decisão do senhor de pôr o cargo à disposição foi sempre alvo de um tratamento político populista, resumido na gasta cantiga segundo a qual o senhor deve respeitar a vontade dos militantes, o mesmo artifício usado por José Eduardo dos Santos ao longo dos anos em que se tem mantido na presidência do MPLA (ele somente abandonou a presidência do País por razões de saúde) e por Eduardo Kuangana, que se manteve na presidência do PRS durante 27 anos, de 1990 a 2017 (cargo ao qual resignou somente por razões de saúde).
A conclusão é clara: o senhor não tem palavra. Não é credível como político.
Entretanto, não é apenas o seu carácter de político barato que incomoda os Angolanos como eu que exigem ética política e na política.
Ao escudar-se na suposta vontade dos militantes para justificar a sua permanência na presidência da UNITA, o senhor tem revelado um dado perturbador: por um lado, ou a sua vontade de resignar é genuína, mas acaba sempre cilindrada pela vontade dos barões do partido que lhe impõem a vontade de grupo, em clara evidência de que o senhor é um líder fraco; ou, por outro lado, a sua vontade de abandonar o cargo não tem sido genuína, sendo que os seus anúncios/promessas de colocar o cargo à disposição não passam de um estratagema de fingir publicamente que o senhor não é uma pessoa apegada ao poder, operacionalizando um plano do grupo de indivíduos (os barões) que detém o poder colegial na UNITA, cujo objectivo é a manutenção de interesses de grupo, que não são os mesmos dos militantes.
O senhor perdeu a oportunidade de sair pela porta da frente. Estatelou-se ao comprido e perdeu a credibilidade.
O senhor não tem autoridade moral para criticar José Eduardo dos Santos. Este, aliás, prometeu em Março de 2016 que abandonaria a presidência da república e, de facto, cumpriu com a promessa (mesmo que a sua doença tenha contribuído substancialmente para tal). Outra promessa feita por ele na altura é a de abandonar a presidência do MPLA em 2018, ano que está às portas. Ora, caso José Eduardo dos Santos cumpra também com esta promessa, terá sido ele a dar uma lição ao senhor! E caso não cumpra, o senhor e ele estarão no mesmo saco de políticos baratos.
O que o senhor pretende ao insistir em manter-se na presidência da UNITA até 2019? Uma vez que o senhor já tem 71 anos, não sente necessidade de descansar e passar mais tempo com a sua família? O senhor também pretende abandonar somente a presidência da UNITA quando tiver sérios problemas de saúde?
Ao terminar, chamo a sua atenção para o possível futuro lúgubre da UNITA a médio prazo e a longo prazo.
Em 2019, estarão a faltar 3 anos para as eleições de 2022. A sua continuidade na presidência da UNITA traz dois problemas:
Primeiro problema: o senhor terá 73 anos de idade e, ao concorrer para mais um mandato (o quinto), as suas chances de chegar a Presidente da República serão praticamente remotas, pois, entre outros factores, concorrerá com uma reputação depauperada.
Segundo problema: caso o senhor realmente deixe a presidência da UNITA em 2019, o novo presidente a sair do congresso daquele ano (mesmo que seja seu delfim) terá pouco tempo para se fazer conhecer aos milhões de Angolanos aptos para votar (ao contrário do senhor que teve muitos anos). O novo presidente terá apenas os anos completos de 2020 e 2021 para estabelecer a sua marca política. Se o senhor, que teve muitos anos, foi derrotado 3 vezes, ele terá alguma chance de levar a UNITA ao poder? (E nem sequer estou a ter em presença o mandato de João Lourenço, que, caso mantenha este fulgor governativo, representará um grande desafio para todos os demais concorrentes às eleições de 2022).
Como pode ver, quer no primeiro como no segundo problema/cenário, a UNITA terá sempre a governação do país como uma miragem. Ou será que o objectivo maior da UNITA é apenas o de aumentar o número de deputados?”