O deputado português do PSD, Luís Campos Ferreira, diz que a paz e a tranquilidade política em Angola são uma “boa notícia” para Portugal, considerando que este “novo ciclo” vai incentivar “ainda mais” a cooperação entre os dois países.
“T endo nós um conjunto significativo de portugueses que vivem em Angola, empresas que se internacionalizaram para Angola, outras que exportam para Angola, tendo nós investimentos angolanos em Portugal, a paz e a tranquilidade política em Angola é uma boa noticia para os portugueses”, considerou em declarações aos jornalistas.
Para Luís Campos Ferreira, é importante para Portugal e para os portugueses saberem que um país com quem têm “tantas relações históricas, de afinidade e de afectos” interpreta a sua vida política “de forma democrática, com naturalidade e pluralidade”.
O deputado social-democrata disse ainda esperar que o novo ciclo que se abre agora com um novo Presidente, depois de José Eduardo dos Santos ter estado no cargo 38 anos, seja um contributo e uma oportunidade para que as relações entre os dois países, “que já são excelentes”, se tornem ainda melhores.
“O presidente é novo, logo é natural que hajam diferenças, quer na personalidade, na forma de fazer política e de exercer poder. É natural que hajam diferenças com aquilo que foram os 38 anos de presidência de José Eduardo dos Santos”, frisou.
Luís Campos Ferreira endereçou os parabéns ao MPLA e ao novo Presidente de Angola, João Lourenço, desejando que contribua para uma Angola “ainda mais democrática e mais forte económica e socialmente” e que imprima ao país um período de bem-estar, progresso social e qualidade de vida para os cidadãos.
O deputado do PSD destacou ainda a “normalidade e tranquilidade” com que decorreu a campanha eleitoral e as eleições.
Tudo na santa paz da hipocrisia
Recorde-se que o Parlamento português, um autêntico prostíbulo quando a questão é prestar vassalagem à ditadura do MPLA, chumbou no passado dia 19 de Maio um voto de condenação, apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE), da “repressão de activistas” em luta “pela democracia em Angola” numa manifestação em Abril no Cacuaco, na periferia de Luanda. Mais uma palhaçada lusa, sem culpa dos palhaços propriamente ditos.
O texto mereceu votos a favor do BE, do deputado do PAN e de 12 deputados do PS, incluindo João Soares, Isabel Moreira, Pedro Bacelar Vasconcelos ou Paulo Trigo Pereira, e com restante bancada do PS a juntar-se a PSD, CDS e PCP nos votos contra. O Partido Ecologista “Os Verdes” absteve-se, tal como dois parlamentares do CDS: João Almeida e Ana Rita Bessa.
No texto, o Bloco pedia que a Assembleia da República condenasse a “perseguição sistemática aos activistas cívicos em Angola, a repressão e a violência sobre as manifestações e o desrespeito pelos princípios da liberdade e da democracia”.
O PCP votou contra mas numa declaração de voto assinalou a sua “defesa do direito de opinião e manifestação” mas não acompanhando “acções que pretendem premeditadamente perturbar, colocar em causa e, se possível, deslegitimar o normal desenvolvimento das eleições gerais em Angola”.
Sete activistas tinham sido condenados por uma espécie de tribunal de Luanda a penas de 45 dias de prisão efectiva, por resistência às autoridades, ao tentarem manifestar-se contra alegadas irregularidades no processo de registo eleitoral.
Recordemos o VII Congresso Ordinário do MPLA, que decorreu em Luanda, e que mostrou a todos o que todos já sabiam: Os políticos portugueses adoram estar de cócoras perante sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, e vão manter-se nessa posição perante o seu alter ego, João Lourenço.
Por partes. Uma delegação do Partido Comunista Português (PCP), chefiada por Pedro Guerreiro, membro do secretariado do Comité Central, esteve em Junho de 2016 em Angola a convite do MPLA, partido no poder desde 1975.
O PCP é um aliado histórico do MPLA, desde o período da luta anticolonial, e ainda em Março do ano passado rejeitou no Parlamento português, um outro voto de condenação apresentado pelo Bloco de Esquerda sobre a “repressão em Angola” e com um apelo à libertação dos “activistas detidos”, criticando a governação de José Eduardo dos Santos.
O PCP – que se juntou no voto contra ao PSD e CDS-PP – demarcou-se totalmente desta iniciativa, apresentando uma declaração de voto na qual se adverte que outras forças políticas “não poderão contar” com os comunistas “para operações de desestabilização de Angola”. Nem contra o regime de Angola nem, recorde-se, contra a “democracia” da Coreia do Norte.
No que ao regime de Angola respeita, o PCP continua igual a si mesmo, ou não fosse um dos pais do MPLA, ou não fosse o principal responsável pelo facto de o MPLA estar no poder em Angola desde 11 de Novembro de 1975.
Uma coligação (quase) total
Nesta matéria, o PCP defende a estratégia seguida – para não se recuar muito tempo – por José Sócrates, Passos Coelho, Cavaco Silva, Paulo Portas, António Costa e Assunção Cristas. Ou seja, um diálogo bajulador, servil e canino.
Não nos esqueçamos ainda que que o próprio Partido Socialista é irmão do MPLA na Internacional Socialista.
José Eduardo dos Santos, um presidente que está no poder desde 1979 sem nunca ter sido nominalmente eleito, continua a gozar à farta com a rapaziada que frequenta os principais areópagos políticos em Lisboa. Perdeu um velho amigo, José Sócrates, mas encontrou na dupla Passos Coelho/Paulo Portas novos amigos que continuaram a abrir as portas (e outras coisas) que existiam e as que não existiam à entrada triunfal do seu clã. Seguiu-se António Costa e, nesta matéria, só mesmo as moscas é que mudaram. E até Marcelo Rebelo de Sousa parece ter frequentado a mesma universidade.
E, afinal, António Costa – tal como Jerónimo de Sousa – nada mais é que uma reedição dos anteriores amigalhaços de José Eduardo dos Santos. São, de facto, fuba do mesmo saco. O “querido líder” sabe disso e goza à brava. Faz bem. Se eles se ajoelham… têm de rezar. E quando precisa de uma ajudinha no branqueamento dos seus crimes pode sempre contar, é claro, com os camaradas do PCP. Pode ele, como pode Kim Jong-un.
Ao que parece, tal como José Sócrates, também António Costa (ainda para mais agora que precisa do PCP para governar) não está interessado em que o MPLA alguma vez deixe de ser dono de Angola. Os comunistas assinam por baixo. O processo de bajulação continua a bem, dizem, de uma diplomacia económica que – neste caso – se está nas tintas para os angolanos.
Embora já não tendo, como nos tempos áureos do camarada Álvaro Cunhal, tantos ditadores para idolatrar, o governo PS/PCP (nesta matéria o Bloco de Esquerda está na oposição, sendo que PSD e CDS estão no governo) continua a querer dar-se bem com os que existem, sobretudo com aqueles que têm dinheiro para ajudar a flutuar as ocidentais praias lusitanas.
Tal como Passos Coelho e Paulo Portas, António Costa e Jerónimo de Sousa (um mais modesto e o outro mais efusivo) acreditam que o importante para Portugal são os poucos que têm milhões e não, claro, os milhões que têm pouco… ou nada. E têm razão. São esses poucos que poderão ajudar a flutuar o país, bem como a branquear os BPN, BES, BANIF etc.. Prorroga-se, portanto, o prazo de validade do estatuto de protectorado que o regime de José Eduardo dos Santos concedeu a Portugal e que será mantido, ou até mesmo incentivado, por João Lourenço.
E se Paulo Portas dizia que as relações com Angola eram excelentes, é porque eram mesmo. É por isso que o actual governo socialista e comunista quer ir mais além nesta matéria. E quer ficar na história por ser no seu consulado que se firmará a Oferta Pública de Aquisição lançada por Angola (que não pelos angolanos) sobre Portugal.
As relações são excelente. Que melhor pode Portugal querer do que ter em Angola um regime que é dos mais corruptos do mundo, que conseguiu pôr o país a liderar o ranking mundial da mortalidade infantil e que apenas tem 20 milhões de pobres?