UNS MAIS IGUAIS DO QUE OUTROS

O Presidente da Direcção do Conselho da Diáspora Portuguesa, António Calçada de Sá, considerou hoje que mais do que definir estratégias de cooperação entre a Europa e África, é importante implementar a cooperação e o comércio.

António Calçada de Sá diz que “fala-se muito de uma nova estratégia [para as relações entre os dois continentes], mas já não é bem isso, temos é de falar em execução, porque não é preciso mais inspiração, é preciso é mais transpiração, ou seja, que as empresas portuguesas e africanas trabalhem em conjunto, em alianças, a abordarem grandes projectos nas áreas das infra-estruturas, digitalização, saúde e educação, entre outras”.

Em declarações à Lusa a propósito da sétima edição do Eurafrican Fórum, que vai reunir em 15 e 16 de Julho, vários líderes e ministros europeus e africanos, além do Presidente da República de Portugal e um congénere africano, Calçada de Sá defendeu que “a Europa tem o seu caminho feito em termos de tecnologia, segurança social e estado de bem-estar”.

“Quando olhamos para África vemos que o continente é jovem, tem recursos naturais, mas também humanos, e a Europa e África podem apadrinhar uma grande aliança”, disse.

Para esta aliança resultar bem, o também director executivo da Fundação Repsol salientou que não basta às empresas portuguesas e europeias levarem para África a sua tecnologia e o seu conhecimento, é fundamental haver uma verdadeira parceria entre iguais.

“Não se pode pensar que é só levar recursos para África e tudo acontece por magia, tem de ser um processo colaborativo, com programas entendidos de forma bilateral, é dar e receber, e a Europa e Portugal estão muito bem posicionados, temos de ter uma agenda comum que toque estes sectores, e haver apoio institucional total para podermos avançar”, disse Calçada e Sá.

“Se fizermos isso, tudo o que está na estratégia vai acontecer, e se fizermos isso bem, então vai acontecer mais depressa”, referiu.

O Eurafrican Fórum deste ano tem como tema principal “África, o próximo capítulo: parcerias para o crescimento”, e decorre de 15 a 16 de Julho em Carcavelos, pretendendo “promover Portugal como plataforma internacional de criação de redes”.

Entre os temas que serão debatidos pelos 500 participantes diários esperados pela organização, na edição estão o investimento para o desenvolvimento, energia e minas, educação, agronegócio, digitalização, geopolítica, infra-estruturas e urbanismo, desporto e saúde.

Na altura do 1º EurAfrican Fórum, o então chefe da diplomacia do MPLA, Manuel Augusto, disse que “aproximação entre Europa e África é incontornável. A Europa é o principal parceiro económico de África e África é depositária de grandes reservas de matérias-primas, algumas delas fundamentais para a indústria europeia, por isso, há aqui uma relação de interdependência”.

Manuel Augusto apelou a que os dois continentes acompanhem “o movimento dos tempos” e abandonem “paradigmas que já foram ultrapassados” e “tabus psicológicos” prejudiciais para ambos.

Tal como o paternalismo da Europa em relação a África ainda acontece, “às vezes, ainda que de forma involuntária”, também África “deve deixar de olhar a Europa como eterno culpado dos seus males e única fonte para resolução dos seus problemas.

Para o governante do MPLA (no poder há 49 anos), é preciso “evoluir” para aquilo que todos afirmam querer: “uma parceria justa, com benefícios mútuos” para os dois continentes.

Questionado sobre a criação de zonas de comércio livre em África, o ministro concordou que é preciso partir para a criação de “mecanismos próprios”, pois “não é concebível que a banana produzida no Benim tenha de ir para a Europa para depois ser comprada por Angola”.

A “parceria com a Europa” é importante para resolver problemas como a falta de vias de comunicação ou um tecido industrial desenvolvido e deve ser encarada de forma positiva.

“É preciso consolidar a noção que o facto de Angola e outros países africanos quererem fábricas para transformar os seus produtos não significará menos negócio para os países europeus. Aliás estamos a convidar os países europeus para virem para um mercado quase virgem para investirem e fazerem as fábricas”, salientou.

Manuel Domingos congratulou-se com a escolha de Portugal para receber a primeira edição do evento organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa e reafirmou que as relação entre Portugal e Angola são “muito boas”.

No dia 10 de Julho de 2018, Manuel Domingos Augusto declarou que África deve deixar de olhar para a Europa como “eterno culpada dos seus problemas” e que os dois continentes devem evoluir para parcerias mutuamente benéficas. Fazendo fé em quem manda (presume-se que seja o general João Lourenço), esta tese do MPLA tem duas excepções – Angola e Portugal.

E das duas uma. Ou, segundo MPLA, Portugal não faz parte da Europa, ou Angola não se localiza em África. É que, para os ortodoxos do partido que nos (des)governa desde 1975, capitaneados por João Lourenço, Portugal é culpado de tudo… nomeadamente dos fracassos criminosos do MPLA.

Recordemos, por exemplo, que o inquérito para apurar causas do desabamento, em 2008, do edifício da investigação criminal, em Luanda, responsabilizou a administração colonial portuguesa, por ter permitido a construção sobre um lençol de água.

E essa estratégia de tornar Portugal no mais pacífico e invertebrado bode expiatório integra, goste-se ou não, o ADN do MPLA. Faria, aliás, todo o sentido que a administração colonial portuguesa (mesmo que em abstracto) fosse levada ao Tribunal Penal Internacional. Desde logo por ser responsável pelos dirigentes do regime que nasceram no tempo colonial.

Talvez até o massacre do 27 de Maio de 1977, liderado por Agostinho Neto, seja responsabilidade da administração colonial que não cuidou de evitar a existência dos ditos fraccionistas.

Em 2008, o edifício da antiga Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) desabou tendo causado 24 mortos entre as 180 pessoas que se encontravam no edifício.

À questão, colocada em 24 de Novembro de 2015 pela deputada da UNITA Mihaela Weba, sobre os resultados do inquérito, Eugénio Laborinho (então secretário de Estado dos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros do Ministério do Interior e actualmente ministro e depois de ter sido governador de Cabinda) disse que o mesmo “está em curso”.

“Já são muitos anos que se passaram. O prédio da DNIC estava numa área de erosão hídrica, porque ali várias fontes de água passavam, por aí e porque também é uma área complicada em termos de vulnerabilidade de risco, uma vez que já houve algumas réplicas naquela direcção”, explicou o governante do MPLA.

Eugénio Laborinho disse ainda que na altura não faltaram os alertas para aquela situação, frisando que o prédio desabou em segundos.

“Deu a primeira réplica, a segunda e à terceira o prédio desabou e tinha detidos na altura. O que é que nós podíamos fazer?”, questionou.

O então secretário de Estado lembrou que na altura, enquanto comandante da Protecção Civil e Bombeiros, dirigiu as operações de resgate, que “já lá vão muitos anos” e que o inquérito está em curso.

“Agora vamos julgar quem? O Ministério da Construção, o ministro do Interior na altura? O director da DNIC, na altura? Quem?”, devolveu as perguntas à deputada.

“Aquilo aconteceu, aquilo o construtor é o colono, que nós temos que ir buscar lá. É verdade, foi o que aconteceu. É o colono que construiu mal, construiu por cima de um lençol de água. Isto é perigoso e nós temos estado a alertar do ponto de vista preventivo que isso não é assim”, sublinhou brilhantemente Eugénio Laborinho.

O dirigente fez uma analogia do caso às construções realizadas junto de encostas, morros e linhas de água, que “depois quando vem o azar é um problema” e querem culpabilizar o Governo.

Folha 8 com Lusa

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