SÓ O POVO “CRESCE” PARA BAIXO

A consultora Oxford Economics reviu hoje em alta a previsão de crescimento da economia de Angola para este ano, para quase 4%, depois do crescimento de 4,1% no segundo trimestre, face ao período homólogo de 2023.

Os analistas da Oxford Economics, que normalmente fazem previsões por medida à medida, dizem agora que “o crescimento económico do segundo trimestre deste ano foi muito melhor que o antecipado; para além da contínua recuperação na produção petrolífera, que já era esperada, a economia petrolífera continuou surpreendentemente robusta apesar das secas severas no sul do país, da elevada inflação e da redução dos subsídios aos transportes”.

Comentando os dados do Instituto Nacional de Estatística de Angola, que apontam para uma expansão de 4,1%, ligeiramente abaixo dos 4,6% registados no primeiro trimestre, o departamento africano desta consultora britânica refere que “a dinâmica actividade económica no primeiro semestre sugere que o crescimento económico de Angola este ano deverá estar mais perto dos 4%”, uma melhoria face à sua previsão anterior, “de 2,9%”.

Para estes analistas, a produção de petróleo deverá aumentar 4,3% para 1,18 milhões de barris diários durante o ano, enquanto o crescimento da economia não petrolífera será sustentado na refinação do petróleo, exploração mineira, infra-estruturas de transportes, energia renovável e extensão do programa de privatizações.

Apesar das previsões dos ditos especialistas, certo é que a periclitante situação económica mantém na ribalta o latente (e crescente) risco de protestos, nomeadamente graças ao “sangue na guelra” da juventude angolana. Sim, é verdade. Os mais velhos estão muito mais perto de saber viver sem… comer. Na altura que achou mais oportuna, o general João Lourenço disse que todos os que não pensam como ele são sou “burros, bandidos e lúmpenes”. Recordam-se?

A situação reflecte a crescente oposição social da população jovem do país, que representou entre 15 a 25% dos mais de 14 milhões de votos das eleições em que o MPLA perdeu mas… ganhou, e que tem mostrado descontentamento com o elevado nível de desemprego e os baixos padrões de vida, apesar da riqueza petrolífera do país.

Antevê-se que haja mais manifestações contra o Governo nos próximos tempos, já que a deterioração da situação macroeconómica vai continuar a alimentar o sentimento anti-MPLA que, apesar da pressão popular para melhorar as condições socioeconómicas da população, está a ser lento (às vezes até anda para trás) a implementar as reformas e as promessas de João Lourenço de criação de mais empregos e melhores condições de vida, devido aos elevados custos de financiamento externo. Na legislatura anterior prometeu criar 500 mil em… pregos.

Ainda que os protestos possam aumentar, ninguém vê perigo de um derrube do Governo à margem da vontade do MPLA que, como se sabe, tem o total controlo do aparelho de segurança.

Na altura que achou mais oportuna, o general João Lourenço disse que todos os que não pensam como ele eram, são e serão “burros, bandidos e lúmpenes”. Aqui no Folha 8 agradecemos a qualificação, desde logo porque ela significa que, em matéria de angolanidade, integridade e seriedade, qualquer semelhança entre nós e o MPLA de João Lourenço é mera e ténue (muito ténue) coincidência.

(Des)governados há 49 anos pelo mesmo partido, o MPLA, quererão os angolanos mais do mesmo? Angola é um dos países mais corruptos do mundo? É. É um dos países com piores práticas “democráticas”? É. É um país com enormes assimetrias sociais? É. É um país com um dos maiores índices de mortalidade infantil do mundo? É. É um país eternamente condenado a tudo isto? Com o MPLA… é.

Como aconteceu nos últimos 49 anos, os ortodoxos do re(i)gime do MPLA, capitaneados pelo general João Lourenço, não conseguem deixar às gerações vindouras algo mais do que a pura expressão da sua cobardia, incompetência, inferioridade intelectual e racismo, entre outras coisas, faz com que milhões de angolanos tenham pouco ou nada, e poucos tenham muitos milhões.

É típico do MPLA. Quando não tem argumentos parte para a ofensa, a ponto de – por exemplo – o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente, general Francisco Furtado, ter avisado que quem dissesse mal do MPLA “iria levar no focinho”.

Enquanto Adalberto da Costa Júnior defende o poder das ideias, João Lourenço aposta tudo nas ideias de poder. Enquanto Adalberto da Costa Júnior defende a força da razão, João Lourenço só conhece a razão da força, certamente inspirado nos seus políticos de referência (agora colocados numa espécie de limbo até ver quem ganha), casos de Vladimir Putin e Kim Jong-un.

Talvez os génios do MPLA, quase todos paridos nas latrinas da cobardia intelectual e da generalíssima formação castrense “made in” URSS, pensem que não é necessário dar corpo e alma à angolanidade. Não sabem, aliás, o que isso é. É por isso que alimentam o ódio e a discórdia, o racismo, não reconhecendo que a liberdade deles termina onde começa a dos outros. Não aceitando que a reconciliação passa pela inclusão e não pela exclusão, não reconhecendo que numa guerra, como foi a nossa, ninguém venceu. Todos perdemos.

João Lourenço continua a mostrar que – afinal – pertence ao grupo que advoga a tese de que em Angola existem dois tipos de pessoas: os angolanos (os que são do seu, e já não do todo, MPLA) e os outros (os que não são do seu MPLA, embora possam ser do MPLA).

João Lourenço está-se nas tintas para os tais “outros” que morrem todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morrem enquanto o MPLA (este MPLA) canta e ri. E morrem enquanto ele, em Luanda, come lagosta e trata os adversários políticos como inimigos, chamando-lhes “burros”, “bandidos” e “lúmpenes”.

É que, quer o MPLA de João Lourenço queira ou não, como na guerra, a vitória é uma ilusão quando o povo morre à fome. E nós temos 20 milhões de pobres que o MPLA criou. A Angola profunda, a Angola real, a Angola construída à imagem e semelhança do MPLA e dos seus dirigentes tende a ficar pior.

Mais do que julgar e incriminar, importava parar com as acusações. Parar definitivamente. João Lourenço e o (seu) MPLA assim não entendem. Aproveitam tudo e todos os momentos para, no meio de palavras às vezes simpáticas e conciliadoras, ganhar tempo e continuar o processo de esclavagismo, ganhar tempo para formar novos milionários, ganhar tempo para sabotar eleições, ganhar tempo para enganar, voltar a enganar, o Povo.

Convém, por isso, que a democracia, a igualdade de oportunidades, a justiça, o Estado de Direito cheguem antes de morrer o último angolano. Esperamos que disso se convença João Lourenço. É que se continuar a insistir nesta guerra, mesmo falando de paz, um dia destes alguém lhe fará a vontade.

Enquanto isso, mas na mesma linha, a petrolífera do MPLA, a Sonangol, deve atingir uma quota de produção nacional de 10% em 2027 e desenvolve acções para alcançar os 80 mil barris de petróleo dia nas mais de 35 concessões onde opera, disse hoje a administração.

“Os projectos que nós estamos a realizar neste momento visam atingir estes níveis de produção (10%) e quando isto acontecer vocês vão poder constatar. Neste momento estamos perto dos 3% a 4% e o objectivo é chegar até 2027 a uma percentagem que seja próxima disso”, os 10%, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Sebastião Martins.

O responsável, que falava à margem da cerimónia de abertura da 5ª Conferência Angola Oil & Gas (AOG) 2024, que se iniciou hoje em Luanda, referiu que alcançar essa quota de produção petrolífera nacional tem como base de referência atingir os 80 mil barris de petróleo por dia.

“Estamos mais preocupados em atingir níveis de produção que abranjam os 80 mil barris de petróleo por dia onde nós operamos, porque não esqueçamos que Angola tem a Sonangol em mais de 35 concessões petrolíferas e do 1,1 milhões de barris de petróleo dia que se produz, o direito líquido da Sonangol são 200 mil barris de petróleo dia”, explicou.

Sebastião Martins disse que a petrolífera estatal está igualmente comprometida na manutenção dos níveis de produção nacional, porque, observou, o “potencial existe” e “o executivo também tem dado o seu contributo na melhoria das condições fiscais e da legislação existente”.

“Cabe a nós trabalhar para que no final de contas estes 1,1 milhões de barris que estamos hoje a produzir se mantenha por mais tempo, porque Angola é um país que ainda depende deste grande recurso”, frisou.

Questionado se as metas da Sonangol não serão condicionadas pelo actual declínio da produção petrolífera no país, o presidente da petrolífera sinalizou que o declínio é algo natural e está a ser contrariado com a “introdução de novos projectos que permitem contrabalançar” a situação.

“O pior é a produção estar a declinar e não se fazer nada, por isso é que a legislação em Angola está a melhorar, os termos fiscais estão a ser mais amigos e nós, intervenientes no sector de exploração e produção, investimos para que estes níveis de produção não vão abaixo os 1,1 milhões de barris”, argumentou.

Sebastião Martins reafirmou a aposta da petrolífera na produção de energia limpa, com a “realização de projectos concretos” com parceiros nacionais e estrangeiros que se preocupam com as alterações climáticas.

“Quer dizer que, actualmente, a Sonangol já se vê como uma empresa de energia que cobre a cadeia de valor de todo o espectro que tem a ver com energia com baixo teor de emissão de gases com efeito estufa”, disse Sebastião Martins.

Folha 8 com Lusa

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