PECUARISTAS DA PÓPIA HÁ 49 ANOS

O Executivo aprovou o Plano Nacional de Fomento e Desenvolvimento da Pecuária (Planapecuária) em Dezembro de 2023, acção que se enquadra num conjunto de medidas mirabolantes e não menos delirantes que visam fomentar a produção de carne, leite e ovos, de modo a garantir a auto-suficiência alimentar e nutricional do país.

O montante dedicado ao programa é de 300 milhões de dólares (perto de 144 mil milhões de kwanzas) e está destinado às cooperativas, com vista a darem resposta às necessidades de consumo e principalmente para procurar substituir as importações destes produtos.

Nos últimos cinco anos o país teve um acréscimo de 12 por cento na produção de proteína animal, principalmente da carne suína, na ordem de 55 por cento, em média, e da carne bovina em 30 por cento. O aumento da produção de ovos, no mesmo período, foi de 33 por cento e da produção de leite de 14 por cento, conforme dados do Ministério da Economia.

Em 2021, ainda de acordo com danos desse departamento ministerial, para importação desses produtos, Angola gastou 440 milhões de dólares, sendo que as aves contribuíram com 54 por cento desse montante, com 238 milhões.

A produção animal no país é feita, com maior destaque, nas províncias da Huíla, Cunene e Namibe, que contribuem com mais de 70 por cento. A produção de aves é maior nas províncias da Huíla e do Huambo, com uma percentagem de 39 por cento.

A Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola tem 75 associados que acumulam em igual número de fazendas uma população ganadeira declarado de mais de 30 mil cabeças. Estima-se que na Huíla existam três milhões de cabeças de gado, mais de 90 por cento delas nas mãos de pastores tradicionais.

O secretário do Presidente da República, general João Lourenço, para o sector produtivo, Isaac dos Anjos, afirmou, no Dundo, que a Lunda-Norte tem um potencial agrícola “virgem” com condições para ser auto-suficiente na produção de alimentos e exportar para o resto do país.

Quem diria? Mais um capítulo na tese de pós doutoramento e na construção do dossiê de João Lourenço para ganhar um qualquer Prémio Nobel, designado “O MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500”.

Em declarações à imprensa, no final de uma visita de trabalho à Lunda-Norte, o secretário sublinhou que a província não deve limitar-se à exploração mineira, “se quiser participar efectivamente na diversificação da economia”, mas sim, aproveitar o potencial agro-pecuário que dispõe para produzir alimentos em grande escala.

Isaac dos Anjos diz que ao visitar alguns campos de produção, concluiu que a província tem uma diversidade de culturas que estão a ser feitas sem recursos tecnológicos e que permitem a diversificação da produção, um sinal de que há vontade por parte dos agricultores, faltando apenas algum incentivo e o envolvimento do sector empresarial.

Acrescentou que no âmbito da diversificação de culturas, o Governo e os seus parceiros pretendem estimular a introdução do café, palmar, produção e transformação de frutas e, quiçá, a plantação de couves com a raiz para baixo.

Para tal, pretende-se instalar, em breve, um viveiro com capacidade de produzir um milhão de mudas de café arábica/ano. O projecto em perspectiva, contará com o financiamento de algumas empresas do sub-sector dos diamantes.

Para início, empresas do sector diamantífero disponibilizaram, a partir de algumas fazendas do Cuanza-Sul, dez camiões de mudas de café arábica.

Do ponto de vista da pecuária, concretamente no município de Caungula, Isaac dos Anjos destacou a introdução de uma espécie bovina resistente à mosca de sono, proveniente da República Democrática do Congo (RDC). Pela sua adaptação e resistência a várias pragas, aconselhou os criadores a adquirir tais raças, multiplicando-as para que no futuro a província seja auto-suficiente na produção de carne.

Mais do que tudo, conforme ordens superiores, Isaac dos Anjos está transformado em secretário do Presidente de Angola para o sector da venda de ilusões. Em Julho do ano passado, por exemplo, quando esteve na província do Bié, repetiu que o Governo aposta forte na agricultura, tal como o MPLA promete há 49 anos. O milho começou logo a crescer de forma vertiginosa…

Isaac dos Anjos, que foi ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, em 1994, num governo de José Eduardo dos Santos, referiu também que o objectivo do Executivo é “acabar com a importação de alimentos nos próximos tempos” (talvez antes de o MPLA completar 100 anos de governação ininterrupta), essencialmente milho, arroz, batata-rena, trigo, mandioca, soja, entre outros produtos que podem ser produzidos nas terras férteis do país.

Isaac dos Anjos visitou, também, os polígonos florestais da Ganga, no Chinguar e do Belchior, em Catabola, projectos sob alçada do Instituto de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas.

O MPLA descobriu a pólvora 49 anos depois de estar no Poder. Recorde-se que em 13 de Abril de 2023, Isaac dos Anjos afirmou que Angola dispõe de condições favoráveis para deixar de importar milho e outros cereais até 2024. Os portugueses já tinham descoberto isso há mais de 50 anos, mas…

Por sua vez, no dia 3 de Fevereiro de 2023, o director nacional da Agricultura e Pecuária do Ministério da Agricultura, Manuel Dias, explicou que a produção angolana de trigo, arroz e cevada regista um défice de 80%, sendo a oferta insuficiente para atender à procura de mercado. Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente em termos agrícolas, entre outros.

Manuel Dias foi orador no painel “O Desafio da Auto-suficiência”, apresentando o tema “Planagrão e Planapecuária”, no 1.º Fórum Nacional da Indústria e Comércio, organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria.

Segundo Manuel Dias, a produção total actual de trigo, arroz e cevada atinge as 30 mil toneladas, sendo a importação superior, representando um “défice enorme” para o país. “Quer o trigo, quer o arroz, quer a cevada, o défice anda por volta de 80%, quer dizer, o que nós produzimos não chega, 10 mil toneladas não é nada”, frisou.

O responsável salientou que face a este quadro, o Governo pensou (pelos vistos a equipa de auxiliares do general João Lourenço… pensa) na produção em grande escala, com uma maior produtividade, com maior profissionalismo.

“As necessidades são imensas, nós temos desafios, temos choques da pandemia, climáticos, e precisamos de avançar o mais rapidamente possível”, frisou o responsável, indicando que 80% da farinha usada para a produção de pão é importada.

Por sua vez, o moderador do debate, Fernando Pacheco, considerou que o que está previsto no Planagrão 2023-2027 para o trigo “é inviável”: “Não há nenhuma hipótese de nós atingirmos essa meta, porque nós não temos experiência suficiente de produção de trigo, que nos permita atingir essa meta. O Brasil que está muito mais adiantado que nós – não há comparação sequer -, só agora começa a ter resultados na produção de trigo, de modo a acabar com a importação nos próximos anos”.

“Nós dificilmente conseguiríamos fazer isso e, na minha opinião, o esforço quer técnico quer financeiro a fazer no trigo deveria ser dado à produção de milho e arroz”, opinou Fernando Pacheco.

De acordo com o Planagrão, a produção de milho entre 2017 e 2021 terá aumentado 25%, já o arroz teve uma produção, em 2017, de 8 mil toneladas, ficando um pouco abaixo deste valor em 2021.

Na sua apresentação, Manuel Dias destacou que a importação de milho, nos últimos quatro anos, registou uma taxa de redução de 25%, por outro lado, o arroz, o trigo e a soja verificaram aumento.

Relativamente ao Planapecuária 2023-2027, Angola tem um efectivo bovino de cerca de três milhões, seis milhões para o caprino, dois milhões de suínos e três milhões de aves de capoeira.

O executivo aprovou em 2022, o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos em Angola (Planagrão) para o aumento significativo de arroz, trigo, soja e milho sobretudo nas províncias do leste do país, prevendo recursos avaliados mais de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros).

Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.

Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;

Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;

Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salchicharia; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;

Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.

E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e….

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