GENERAL PRESIDENTE, APRENDA COM CABO VERDE!

O Presidente cabo-verdiano pediu hoje “mudanças profundas e radicais” no país após um inquérito sobre a governança, em que os cabo-verdianos sentem cada vez menos que os políticos respondem às suas necessidades e mostram preocupação sobre a corrupção. Que pena o general João Lourenço teimar em não aprender (a pensar e a agir) com o seu homólogo José Maria Neves.

José Maria Neves disse que “todos os políticos” cabo-verdianos “devem prestar atenção” ao terceiro inquérito sobre Governança, Paz e Segurança, referente a 2023, publicado na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

“As lideranças políticas, os governantes, os altos funcionários públicos devem analisar com cuidado qual é o entendimento que os cabo-verdianos têm sobre o funcionamento das instituições e sobre a formulação de políticas públicas e agir no sentido de introduzir melhorias”, reagiu o chefe de Estado, em conferência de imprensa, na cidade da Praia.

Uma das conclusões do inquérito é que o número de cabo-verdianos preocupados com a corrupção diminuiu, mas ainda representa a maioria da população (65,4%). Nesta questão, José Maria Neves pediu “transparência, prestação de contas e responsabilidade”.

O documento referiu ainda que cada vez menos cabo-verdianos (só 14,2%) têm a percepção de que os políticos respondem às suas preocupações e necessidades, com o mais alto magistrado da Nação cabo-verdiana a considerar que esta questão exige “mudanças radicais e profundas” nalguns domínios.

“Tenho insistido que não podemos continuar a fazer mais do mesmo, temos de realizar mudanças” a nível institucional e no processo de decisão e de execução das políticas públicas “para estarmos adequados às demandas e às exigências”, pediu.

José Maria Neves disse que os dados requerem também uma participação cívica “muito mais activa” no processo de formulação de políticas públicas e na exigência de prestação de contas.

O inquérito mostrou ainda que os cabo-verdianos sentem que as liberdades de imprensa e de expressão estão a ser menos respeitadas no arquipélago.

Numa reacção à Lusa, o presidente da Associação de Jornalistas de Cabo Verde (Ajoc), Geremias Furtado, disse que o país “não pode ignorar” esta percepção e pediu medidas para reforçar as liberdades no país.

O inquérito baseou-se numa amostra de 4.962 agregados familiares, sendo que em cada agregado foi inquirido apenas um indivíduo com pelo menos 18 anos, cobrindo os 22 concelhos de Cabo Verde, entre Outubro e Dezembro de 2023.

Recorde-se que no passado dia 18, José Maria Neves disse que compreende eventuais queixas de universidades portuguesas sobre a falta de preparação de estudantes dos Países Africanos Língua Oficial Portuguesa (PALOP) pois cabe a estes fazer melhor o trabalho de casa.

José Maria Neves diz: “Percebo [que existam críticas ou queixas]. Acho que os países PALOP têm de fazer o seu trabalho de casa. Cinquenta anos após as independências não podemos continuar a ser muro de lamentação, temos é de fazer o nosso trabalho de casa”. Nem mais nem menos. A verdade dói mas só ela cura. O problema é que há muitos países (como é o caso de Angola) que preferem viver na luxúria da mentira e da incompetência

O Presidente cabo-verdiano participou no XII Encontro de Estudantes Maienses em Portugal, que juntou alunos cabo-verdianos da cidade do Maio que frequentam várias escolas e faculdades portuguesas.

Em declarações à margem da iniciativa, José Maria Neves disse desejar que “os estudantes trabalhem muito para concluir os seus estudos”, tendo como objectivo “essencial alcançar uma elevada qualificação para que possam depois contribuir para o desenvolvimento de Cabo Verde”, mas “não necessariamente regressando ao país”.

“Hoje as pessoas vivem em vários mundos. Onde quer que estejam devem procurar estar devidamente qualificados para contribuírem para o desenvolvimento de Cabo Verde”, referiu.

Já perante os estudantes, ao longo de um encontro que culminou com a conferência “A importância da rede associativa para o sucesso académico”, José Maria Neves foi até mais longe e referiu-se ao chamado “semestre zero”.

“Querem saber se considero injusto o semestre zero? Não. Acho é que temos de fazer o nosso trabalho de casa. Temos de fazer a nossa preparação. E temos de acabar com o discurso da lamentação”, disse.

Em Março, foi tornado público um relatório sobre estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa em Portugal que sugere um período preparatório para os alunos, para favorecer a integração e responder à forte procura, que está a transformar instituições do interior do país.

Clara Carvalho, do Centro de Estudos Internacionais do Iscte — Instituto Universitário de Lisboa, explicou que algumas instituições promovem um “semestre zero” que permite aos alunos adaptarem-se à pedagogia e sistema de ensino, algo que considera ser muito eficaz”.

O Presidente de Cabo Verde também pediu aos estudantes que sejam “diferentes e disruptivos” e procurem “ajudar Cabo Verde a transformar-se e a elevar-se”.

“As remessas de dinheiro foram muito importantes para o desenvolvimento do país ao longo de muitos anos, mas agora temos de passar a mandar remessas de ideias. Para as ideias não há alfândegas (…). Mobilizar as nossas capacidades na diáspora e pô-las ao serviço de Cabo Verde”, disse.

Veja-se o caso de Angola. Quando o mais alto magistrado do país, general João Lourenço, diz “se haver necessidade” em vez de “se houver necessidade”, não se está a falar de uma variante angolana da língua portuguesa ou de um qualquer acordo ortográfico. Está a falar-se de ignorância e iliteracia. Mas não está só. E então quando se junta, seja na esfera pública ou na privada, a impunidade da incompetência… temos o retrato exacto de Angola.

Em vez de todos lutarmos pela excelência para conseguirmos ser bons, lutamos por ser apenas bons e assim não passamos da mediocridade. Acresce que, por gozarem de impunidade institucional, os medíocres consideram-se excelentes e deles será o reino…

No dia 3 de Maio de 2022, o ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António, destacou a “relação secular” de Angola com a língua portuguesa e considerou a comemoração do Dia da Língua como um ganho da diplomacia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mesmo que a língua portuguesa seja assassinada todos os dias, até mesmo pelos mais altos dignitários do país.

“Ao falar da língua portuguesa, permite-se falar do legado de, já no século XV, os nossos ancestrais terem tomado a decisão de assumirem a língua portuguesa como a língua da corte, à época as escolas eram florescentes e aí já circulavam professores”, afirmou Téte António.

Segundo o ministro angolano, que presidiu na altura, em Luanda, à cerimónia solene alusiva ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, Angola tem uma relação secular com a língua portuguesa, porque em alguns reinos, como do Congo, já se falava na época o português.

“Porque na região teriam sido abertas as primeiras escolas não tradicionais e terá sido a primeira região africana a dedicar-se no ensino de uma língua de origem não africana”, descreveu. “Dedicar-se no ensino” ou “dedicar-se ao ensino”?

O Presidente da República, João Lourenço, exigiu em Junho de 2020 mais qualidade no ensino e considerou a formação do homem como uma aposta para “corrigir muitas deficiências” que o sector enfrenta. Tem razão. E, reconheça-se, não é por culpa do MPLA que só está no Poder há… 49 anos. Citando o vernáculo do próprio presidente, se “haver” necessidade, os angolanos aceitariam um “compromíssio” (agora citando a ex-ministra da Educação, Ana Paula Elias) para assim continuar por mais 51 anos.

Folha 8 com Lusa

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