EUA AVANÇAM COM CORREDOR DO LOBITO E… MALÁRIA

A administradora da Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power (foto), e o secretário de Estado Adjunto dos EUA para a Gestão, Richard Verma, visitam Angola na próxima semana, anunciou a agência norte-americana.

A visita de Samantha Power e de Richard Verma entre 23 e 25 de Abril vai focar-se nos investimentos da USAID na prevenção da malária (que segundo o MPLA estava em vias de extinção há mais de dez anos) e no projecto do Corredor do Lobito, adiantou a mesma fonte.

O objectivo passa por “reafirmar o compromisso do Governo dos EUA no apoio (…) à segurança e boa governação em Angola”, pode ler-se na nota da USAID, na qual se indica que “durante a visita, a administradora reunir-se-á com líderes governamentais, membros da sociedade civil e executivos de empresas em Luanda”.

Entre 23 e 25 de Abril vão ser destacados “os investimentos da USAID na prevenção da malária numa visita ao Instituto Nacional de Investigação em Saúde de Angola, um parceiro-chave na Iniciativa Presidencial contra a Malária”.

E a administradora “deslocar-se-á também à província de Benguela, em Angola, para promover o apoio dos EUA ao Corredor do Lobito, um projecto prioritário da Parceria para as Infra-estruturas e Investimento Globais que ligará a República Democrática do Congo e a Zâmbia aos mercados comerciais regionais e globais através do Porto do Lobito”.

No comunicado, a USAID adiantou que Samantha Power vai aproveitar para se reunir com agricultores angolanos e parceiros governamentais. Talvez, contrariando as instruções impostas pelo MPLA, aconselhe os agricultores a plantar as couves com a raiz para baixo, estratégia que tem dado bons resultados nos EUA.

A visita destes dois responsáveis norte-americanos acontece três meses após a presença do chefe da diplomacia dos EUA em Luanda, durante a qual Antony Blinken afirmou que a relação entre os dois países é agora “mais forte e consequente” do que “em qualquer outra altura dos últimos 30 anos”.

Entre os temas abordados com o Presidente de Angola, João Lourenço, estiveram questões como as alterações climáticas e a segurança alimentar, bem como, precisamente, o projecto do Corredor do Lobito.

Antony Blinken classificou Angola como “um parceiro confiável”, com quem foram também discutidas soluções para a paz no continente e investimentos em áreas como a saúde e as energias renováveis.

De facto, mo passado dia 25 de Janeiro, Antony Blinken, esteve com o Presidente general João Lourenço, num encontro – só por si revelador da pujança democrática do país – em que estiveram igualmente presentes o Presidente do MPLA, o Titular do Poder Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (apartidárias).

Para Antony Blinken foi uma rara oportunidade, e – é claro – um privilégio estar com alguém que julga ser um Estadista de alto gabarito, podendo complementarmente analisar (e receber lições) as relações bilaterais e os compromissos assumidos na cimeira EUA-África em áreas como o clima, segurança alimentar, saúde, economia e comércio.

Outros temas em debate, segundo uma nota do Departamento de Estado, foram o desenvolvimento de uma parceria baseada em valores partilhados que promovam o respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais (que o MPLA já assumiu implementar nos próximos 51 anos), o reforço da segurança mútua e o Estado de direito. Recorde-se que Angola já é um Estado de direito, na variante se ser propriedade privada e privativa do MPLA.

Os Estados Unidos e Angola mantêm relações diplomática há 30 anos e o país foi recentemente reconhecido pelos norte-americanos como um parceiro estratégico em África (na vertente de sipaios de luxo), “fundamental para a promoção dos objectivos comuns de expansão da prosperidade económica e do acesso à energia, da defesa da democracia e dos direitos humanos, e do avanço da segurança regional”, segundo a nota do Departamento de Estado.

No ano passado, o Presidente norte-americano, Joe Biden, teve igualmente o raro prazer de ser recebido pelo general João Lourenço na Casa Branca (a ordem dos factores é arbitrária!), em 30 de Novembro, enquanto Angola acolheu o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o enviado de Biden, Amos Hochstein.

Em Novembro de 2023, os EUA e Angola assinaram os Acordos Artemis, na área da exploração espacial e iniciaram um “acordo bilateral de céus abertos”, para facilitar as ligações aéreas entre os dois países.

Entretanto, vários líderes da oposição angolana entregaram na Embaixada dos Estados Unidos em Luanda uma carta endereçada ao secretário de Estado norte-americano, a pedir que pressione o Presidente, general João Lourenço, a realizar eleições autárquicas antes de 2027 e que ele já prometera realizar em 2020.

Os signatários da carta pediam a Antony Blinken que apoie um Estado democrático e de direito em Angola e pressione o general dono de Angola a realizar as primeiras eleições autárquicas no país, “o único grande país da região sem líderes eleitos a nível local”, a desmantelar as instituições partidarizadas e a permitir acesso de todos os atores políticos aos meios de comunicação social públicos.

A visita de Antony Blinken a África, com passagem por Cabo Verde, República Democrática do Congo, Costa do Marfim e Nigéria, surgiu num contexto em que os Estados Unidos procuram marcar posição face a avanços da Rússia e da China no continente.

Já em Angola, Antony Blinken disse que a capacidade produtiva em África deve ser reforçada com mais investimento e tecnologia para melhorar a segurança alimentar.

Na sua primeira declaração em território angolano, que teve lugar no Centro de Ciência de Luanda, ponto inicial da visita à cidade, Antony Blinken considerou o espaço “simbólico” da colaboração entre os dois países, apontando as parcerias na área da ciência.

Destacou a adesão recente aos Acordos Artemis para o uso pacífico da exploração espacial e sublinhou a utilização dos dados recolhidos na investigação espacial para responder a preocupações como a mitigação dos efeitos da seca e o uso eficaz da água.

Angola, continuou Antony Blinken, é também um dos primeiros países a juntar-se à Visão para as Culturas Adaptadas e Solo (VACS, na sigla inglesa), com que os Estados Unidos pretendem lidar com a segurança alimentar.

“Nos últimos anos, assistimos quase a uma tempestade perfeita entre covid-19, alterações climáticas e conflitos como a agressão russa, com forte impacto na segurança alimentar”, afirmou.

Antony Blinken disse que durante os seus encontros em África ouviu os seus parceiros falar sobre a necessidade de investimentos na sua capacidade produtiva, porque “precisam de ter um sistema forte para produzir alimentos”, começando com duas coisas básica, as sementes e o solo.

Exemplificou – parecendo até que se estava a candidatar a um cargo de auxiliar do Titular do Poder Executivo – com o caso de Angola, onde algumas sementes tradicionais “incrivelmente nutritivas” podem ser tornadas mais resistentes aos efeitos da seca.

“Se tivermos sementes de qualidade e as pusermos num solo de qualidade, podemos ter um sistema mais resiliente e nutritivo”, acrescentou Antony Blinken, explicando que a iniciativa VACS, que está a ser construída com Angola e outros parceiros africanos, pretende ajudar África a alimentar-se e a alimentar outras partes do mundo.

“Queremos atingir novos picos, no espaço e na terra, e mostrar como estas duas coisas estão ligadas”, salientou Antony Blinken, qual chefe de posto colonial quando discursava para os sipaios voluntariamente amarrados…

No centro destas parcerias, continuou Antony Blinken, está a partilha e a transferência de tecnologia.

“Isso é tão importante como o investimento porque é isso que gera capacidade nos nossos países e lhes permite estarem fortes”, disse o responsável norte-americano.

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