DE CABINDA À… COREIA DO NORTE

O presidente da UNITA disse hoje que o partido vai levar à Assembleia Nacional uma proposta sobre a autonomia de Cabinda, manifestando-se disponível para dialogar com todos os atores cabindenses sobre a melhor solução. Mas Adalberto da Costa Júnior disse mais. Disse, por exemplo, que o Presidente João Lourenço está a transformar Angola numa Coreia do Norte, estando o país pior do que no tempo do seu antecessor, José Eduardo dos Santos.

Adalberto da Costa Júnior falava hoje aos seus apoiantes no primeiro comício do ano, em Cabinda, região do norte de Angola, descontinuada geograficamente do território angolano e onde subsistem movimentos independentistas, que o Estado angolano não reconhece, como a Frente para a Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) que, aliás, também hoje convidou “oficialmente Adalberto da Costa Júnior, um encontro na Base Central” da organização.

O líder da UNITA, que manteve na sexta-feira um acalorado debate com activistas cívicos e políticos e membros da sociedade civil cabindense, destacou que defende a autonomia e que essa proposta vai ser materializada.

“Quando chegámos, houve muita gente que nos criticou por que deveríamos primeiro ouvir e só depois anunciar, ok, tomámos boa nota e estamos de novo a actualizar as diversas opiniões”, declarou, acrescentando que deve ser ponderada que tipo de autonomia se pretende e “deve sair de uma negociação verdadeira e transparente, e não imposta”.

O presidente da UNITA assinalou por outro lado que muitos países abraçam a autonomia, o que é “normal desde que saia de um diálogo sincero, verdadeiro”, dando como exemplo a África do Sul e São Tome e Príncipe, Portugal e Espanha, entre outros

Adalberto da Costa Júnior elogiou o povo de Cabinda e considerou que “se não existisse petróleo talvez todos estivessem melhor, porque este recurso é também motivo das nossas divisões

O dirigente do parido do “galo negro”, lembrou que em 2025 Angola comemora 50 anos de independência e que há guerra já acabou á 20 anos e é necessário que acabem também os conflitos em Cabinda, apelando ao diálogo sem exclusão de ninguém.

“Todas as áreas querem dialogar connosco, e nós estamos disponíveis”, frisou, insistindo que “aqui em Angola ninguém mais quer guerra”, mas sim “virar a página” de uma Angola pobre e sem direitos,

“Angola precisa de uma nova liderança”, reforçou.

O líder da UNITA também considerou que o Presidente João Lourenço está a transformar Angola numa Coreia do Norte, estando o país pior do que no tempo do seu antecessor, José Eduardo dos Santos.

Adalberto da Costa Júnior, que está desde sexta-feira em Cabinda para uma visita de trabalho que inclui contactos com várias entidades, para agradecer o “voto de confiança expressivo” na UNITA, que conquistou a província ao MPLA (no poder) nas últimas eleições de 2022.

O presidente da UNITA fez do MPLA e do seu líder, João Lourenço, também Presidente da República, também Titular do Poder Executivo, também Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (ditas apartidárias), o principal alvo do seu discurso, sublinhando que “quem ganhou não está a governar” e recordando o período eleitoral e pós-eleitoral de 2022 em que o “Estado não soube respeitar a democracia”.

“Nós tivemos problemas em todos os comícios, mas não dissemos nada, porque o medo é inimigo dos direitos e diminuiu a participação”, afirmou Adalberto da Costa Júnior, justificando desta forma os apelos feitos à “tolerância” e à democracia.

Em tom de provocação, questionou os militantes e simpatizantes da UNITA que hoje se concentraram para ver o líder do partido sobre “qual era a Angola pior? A de João Lourenço ou a de José Eduardo dos Santos”, recebendo como resposta “João Lourenço”.

“Dirigentes que estão sentados no poder oiçam o povo, Angola está pior, temos maus governantes na cadeira do poder”, referiu.

Adalberto da Costa Júnior afirmou que a Angola de hoje não esta só mal em termos económicos e financeiros, mas registou também uma redução na qualidade da liberdade e da pluralidade da comunicação social.

Considerou igualmente que o regime está a conduzir Angola para se tornar numa Coreia do Norte, apontando a nova lei da segurança nacional como um perigo para a democracia, que concede, por exemplo, permissão para desligar a Internet em todo o país.

João Lourenço, responsabilizado pela pobreza e por impedir o desenvolvimento de Angola foi também o culpado por não haver autarquias, defendeu o dirigente da UNITA, criticando as tentativas de responsabilizar os deputados pela não aprovação do pacote legislativo autárquico porque quem está sentado na cadeira do poder tem medo das autarquias.

O líder da UNITA garantiu que vai levar o tema das autarquias “para todo o lado em 2024” e disse que a nova Divisão Político Administrativa do País tem como único objectivo impedir a realização do poder local.

Temos de voltar à pressão pública, temos de voltar à rua, (porque) há pessoas que só sabem ouvir dessa maneira”, continuou Adalberto da Costa Júnior, sublinhado que é preciso “sair da zona de conforto” e, se for o caso, voltar as manifestações,

“Desde que as eleições acabaram, meteram na cadeia muita gente, é para vos meterem medo. Mas aqui não há ninguém cego nem distraído”, vincou.

Adalberto da Costa Júnior apelou também aos dirigentes europeus e de outros países que não apoiem ditaduras em África, salientando a necessidade de punir golpes de Estados institucionais pelos partidos que governam.

“Os dirigentes têm de vir aqui e mostra que falam com a pluralidade senão vamos pensar que estão alinhados”, referiu, acrescentando que a UNITA tem andado em busca de solidariedade para Angola.

“Tirámos as lições de 2022 e não vamos voltar a repetir em 2027”, prometeu.

Folha 8 com Lusa

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