BOM NATAL  PRESIDENTE DA ALGOZARIA

Não fosse, mas afinal é, o triste facto de 49 anos depois o nosso povo continuar a passar fome, continuar a ser gerado com fome, continuar a nascer com fome e a morrer pouco depois com fome… se calhar o Natal faria algum sentido. No entanto, os que têm, pelo menos, três refeições por dia vão ter, certamente, um bom Natal. Quanto aos milhões que nem um prato de pirão têm, para esses talvez haja em 2025 um outro Natal. Boas Festas Presidente João Lourenço.

Por Orlando Castro

O MPLA, partido que só está no poder desde a independência, saúda os angolanos, 20 milhões dos quais são pobres, por (ainda) estarem vivos para “festejar” mais um Natal. E estar vivo é mais uma prova da resiliência de quem continua – com elevado patriotismo – a aprender a viver sem comer.

O MPLA encoraja também o seu Presidente, igualmente Presidente da Re(i)pública e Titular do Poder Executivo, GENERAL João Lourenço, “a continuar a implementar medidas de políticas que visam melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano, impulsionar o aumento da produção, o crescimento económico e a prosperidade da nação”.

Ou seja, fazer tudo o que não conseguiu fazer ao longo dos últimos 49 anos.

“O MPLA expressa-se optimista com as acções empreendidas pelo executivo angolano, que visam intensificar os esforços para a materialização do direito ao emprego digno e de qualidade, a qualificação profissional e o estímulo ao empreendedorismo especialmente para a juventude, tendo como base a aposta séria num Sistema Nacional de Formação Profissional”, dizem os sipaios do regime.

O MPLA homenageia igualmente os que pagaram “com a própria vida o empenho directo e abnegado na luta de libertação” e reafirma-se como “vanguarda da promoção e reinserção política, económica e social de todas as forças vivas da nação, combatendo as várias formas de injustiça e discriminação”.

Neste Natal jubiloso, o MPLA, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do Partido, apela todos os cidadãos a celebrarem o Natal com manifestações de incontida alegria, que reforçam a crença na elevação dos níveis de unidade nacional e de coesão interna.

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Alguém o ouviu dizer que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade? Alguém o ouviu dizer que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos? Alguém o ouviu dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que Angola é um dos países mais corruptos do mundo graças à aptidão do MPLA e que tem 20 milhões de pobres?

Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país.

Alguém do MPLA se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?

O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.

“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.

O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.

Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão (e que, por isso, não são do MPLA), que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.

Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.

D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

Queira V. Exa. Senhor Presidente da República, general João Lourenço, ter o que sempre teve (mesmo no tempo anterior à independência): um feliz e faustoso Natal!

Artigos Relacionados

Leave a Comment