NETO & FRANCO, DITADORES A PRETO E BRANCO

Angola e Espanha assinaram em Luanda três (“mais um”) memorandos de entendimento nas áreas da diplomacia, desporto e indústria, no âmbito da visita oficial de dois dias que os reis de Espanha fazem a Luanda. O “mais um” tem a ver com o branqueamento do único herói dito nacional do MPLA, o genocida Agostinho Neto.

Em comunicado do Ministério das Relações Exteriores angolano, o primeiro instrumento jurídico, um memorando de entendimento no domínio do desporto, visa a cooperação em 10 áreas, que vão desde a preparação de atletas e treinadores a programas de apoio e promoção dos desportos para pessoas com deficiência, passando pela cooperação institucional, medicina desportiva e luta contra a dopagem, assédio e discriminação no desporto e organização de eventos desportivos.

Um segundo memorando, entre a Academia Diplomática “Venâncio de Moura”, do Ministério das Relações Exteriores do MPLA, e a Escola Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação de Espanha inclui a cooperação na educação e formação diplomática e consular, e ainda a cooperação na formação de especialistas em política externa, relações internacionais, Direito Internacional e relações económicas internacionais, bem como em outras matérias conexas.

Finalmente, os dois reinos assinaram um memorando de entendimento entre o Ministério da Indústria e Comércio angolano e o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo espanhol sobre cooperação no âmbito da indústria.

Este instrumento jurídico prevê, designadamente a “partilha de políticas, tecnologias e pesquisas relacionadas com a indústria para reforço e desenvolvimento de soluções digitais para o sector industrial” e a “exploração de novas oportunidades de cooperação industrial, através da partilha de informações sobre segmentos industriais com potencial de cooperação”.

Este terceiro memorando visa ainda a “identificação de sectores com elevado potencial de diversificação para a produção inteligente que possam ser mutuamente benéficos” e “a participação e colaboração na organização de congressos, conferências e eventos relacionados com a indústria”.

Na quarta-feira, o Rei espanhol e o Presidente angolano vão discursar no Fórum Empresarial e interagir com empresários dos dois países. Antes de regressarem quarta-feira à tarde a Madrid, os reis de Espanha visitam a Assembleia Nacional e o Museu de História Militar.

Por uma questão de reciprocidade, tomamos a liberdade de “explicar” aos angolanos quem foi o Agostinho Neto de Espanha, Francisco Franco, esperando que algum jornalista de Espanha explique aos espanhóis quem foi o Francisco Franco de Angola, Agostinho Neto.

Francisco Franco (1892-1975) foi um general, chefe de estado e ditador espanhol. Instalou uma ditadura fascista na Espanha que ficou conhecida como “franquismo”, que se estendeu por quase 40 anos, até sua morte em 1975.

Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco Bahamonde, conhecido como Francisco Franco, nasceu na cidade de El Ferrol, Espanha, no dia 4 de Dezembro de 1892, numa família de classe média de tradição militar.

Francisco Franco iniciou a sua carreira militar na Academia de Infantaria de Toledo, concluindo os seus estudos em 1910. Em 1912 serviu em Marrocos onde ascendeu rapidamente na escala militar por se destacar nas campanhas bélicas.

Permaneceu em Marrocos até 1926, com breves interrupções. Em 1923 já era chefe da Legião Estrangeira Espanhola, e em 1926, com 34 anos chegou a general, o mais jovem da Europa. Entre 1929 e 1931, comandou a Escola de Toledo.

A sua carreira militar atravessou diversos regimes políticos sob os quais viveu a Espanha: na “ditadura de Miguel Primo de Rivera (1923-1930)”, Franco dirigiu a Academia Militar de Zaragoza, em 1928.

Em 1930, com a grande pressão das organizações republicanas, Rivera foi deposto e eleições foram convocadas para 1931, quando Niceto Alcála-Zamora foi eleito presidente e a monarquia chegou ao fim, tendo início a “Segunda República”.

Com a vitória da direita nas eleições, em 1933, Francisco Franco voltou à Espanha e comandou a repressão às greves dos mineiros nas Astúrias (1934). Foi comandante-chefe do exército espanhol em Marrocos (1935) e Chefe do Estado Maior em 1936.

Com as eleições de Fevereiro de 1936 e a vitória republicana de Manuel Azaña Diaz e do primeiro-ministro socialista, Largo Caballero, Francisco Franco afastou-se da chefia do exército e foi enviado para as ilhas Canárias. Nesse período, a Espanha foi marcada pela forte polarização política.

Em 1936, o clima político na Espanha dividiu-se em dois grandes grupos: de um lado, “os republicanos” alinhados com a esquerda, que agrupava os socialistas, sindicalistas e anarquistas, defensores da República que estava em vigência, e do outro, os monarquistas que queriam restaurar a monarquia e impor o conservadorismo.

De ideias conservadoras, Franco uniu-se a uma conspiração organizada por um grupo de militares para se revoltar contra a República. Em Julho de 1936, desembarcou secretamente em Marrocos e juntou-se a uma rebelião comandada pelo general Sanjurjo. O golpe de estado começou no dia 17 de Julho de 1936 na península e em 18 de Julho em Marrocos, onde Franco estava. Com a morte de Sanjurjo, Franco assumiu a chefia do movimento.

O fracasso da tentativa do golpe na capital e em boa parte do território nacional, deu lugar à “Guerra Civil Espanhola”, que durou três anos, de 1936 a 1939.

Após passar o estreito de Gibraltar à frente do Exército de Marrocos, Franco avançou pela península para o norte. Em 1 de Outubro de 1936, os seus companheiros de armas, reunidos numa “Junta de Defesa Nacional”, em Burgos, elegeram-no generalíssimo e chefe do governo nacional.

De um lado os falangistas (fascista), pretendendo derrubar o governo republicano eleito e restaurar a monarquia, de outro as forças populares e democráticas, lutando pela sustentação das reformas sociais e políticas.

Os grupos de direita, liderados por Franco, receberam apoio do regime fascista da Itália e do e do regime nazi da Alemanha de Hitler. Os grupos de esquerda (Frente Popular) receberam um pequeno apoio do regime soviético liderado por Stalin.

A Alemanha nazi usou a Espanha como centro de experimentação das suas novas e potentes armas, pois pretendia ter a Península Ibérica como uma aliada, em caso de nova guerra com a França.

No dia 26 de Abril de 1937, a cidade de “Guernica”, no norte da Espanha, foi bombardeada por aviões alemães matando mais de 1.600 mil pessoas. Logo após o massacre, o pintor espanhol Pablo Picasso retratou o facto na sua emblemática obra “Guernica” (1937).

A guerra Civil Espanhola mobilizou voluntários de vários países. O escritor britânico George Orwell foi um deles. Orwell participou da luta ao lado das forças de esquerda e posteriormente, escreveu a obra “Lutando na Espanha” (1938).

Em Janeiro de 1938, Franco foi nomeado chefe de Estado. No dia 26 de Março de 1939, Madrid foi conquistada e, poucos dias depois, as forças republicanas sem grandes condições de resistência foram derrotadas em 1 de Abril de 1939, depois de três anos de sangrenta guerra civil, marcada por atrocidades de ambos os lados.

Terminada a guerra, as forças de Franco ocuparam toda a Espanha. Era o início de um regime totalitário que ficou conhecido como “franquismo”, isto é, a ditadura fascista do generalíssimo Francisco Franco.
Terminada a Guerra Civil, Franco impôs à Espanha um regime inspirado no fascismo de Hitler e Mussolini, que eram seus aliados. Em 1939, Franco assinou um pacto anti-Komintern e logo depois proclamou a neutralidade da Espanha na Segunda Guerra Mundial que estava a começar.

Durante a guerra, Franco não permitiu que as tropas nazis cruzassem o solo espanhol em direcção a Gibraltar. Em 1942 criou a Divisão Azul, de voluntários franquistas e participou da campanha da União Soviética ao lato das tropas nazis.

Finalizada a Guerra, com a derrota das forças do Eixo, aliadas a Franco, o seu regime sofreu um isolamento diplomático, mas conseguiu consolidar-se. Procurou aproximar-se dos Estados Unidos e da Inglaterra. A França rompeu relações diplomáticas com o regime franquista.

No regime franquista, a liberdade de pensamento foi pouco a pouco sendo reprimida. O Estado intensificou a perseguição aos opositores. A propaganda oficial tentava mobilizar a opinião pública saudando Franco como um mito, um herói de guerra e o salvador da Espanha.

Durante o período de 1936 a 1975 estima-se que mais de 114 mil pessoas foram consideradas “desaparecidas”. Houve denúncias da existência de campos de concentração para os adversários políticos e o medo tomava conta da população.

As bases do regime ditatorial eram definidas pelo autoritarismo, unidade nacional, promoção do catolicismo, nacionalismo castelhano (com a supressão dos direitos de outras culturas, como a dos bascos e catalães), militarismo, corporativismo nos moldes fascistas, anticomunismo e anti-anarquismo.

Embora encontrasse oposição, em 1953, a assinatura de acordos políticos com os Estados Unidos garantiu à Espanha o ingresso na ONU, formalizado em 1955.

O franquismo levou a Espanha a atravessar um atraso económico e só veio mostrar um rápido crescimento na década de 60, com a industrialização, a abertura e a urbanização, o que facilitou a permanência de Franco no poder apesar da forte repressão aos seus opositores.

O espírito oposicionista continuou a manifestar-se através de greves operárias e manifestações estudantis que eram cada vez mais frequentes.

Desde 1969, Franco havia institucionalizado como sucessor o príncipe Juan Carlos I, proclamou-se protector-regente e firmara concordata com o Vaticano.

Após a morte de Franco, e a ascensão ao trono do rei Juan Carlos I, neto do último rei da Espanha, Afonso XIII, a Espanha voltou a ser uma democracia parlamentar.

Francisco Franco faleceu de problemas cardíacos, em Madrid, Espanha, no dia 20 de Novembro de 1975.

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