LITERATURA LUSÓFONA NÃO TEM DONO

A Biblioteca Municipal José Saramago, em Madrid, tem a partir desta terça-feira uma secção especializada em literatura de autores lusófonos, com um primeiro conjunto de 300 livros em português ou traduzidos para castelhano. A Obra de Tomás Lima Coelho, “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, colocou Angola como o primeiro dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa a possuir um acervo desta natureza.

O espaço torna-se assim a “primeira biblioteca da cidade de Madrid especializada nesta língua”, segundo a directora da Biblioteca Municipal José Saramago, María José Casseca.

A secção de literatura lusófona resulta de uma doação inicial de cerca de 300 livros à biblioteca por parte da Embaixada de Portugal em Madrid, formalizada esta terça-feira.

“São 300 novos títulos em português e espanhol e o nosso compromisso é aumentar o número de títulos aqui disponíveis”, disse o embaixador português, João Mira Gomes.

A Embaixada de Portugal, através de João Mira Gomes, e a Câmara de Madrid, através da responsável pela cultura no município, Marta Rivera de la Cruz, assinaram o protocolo que formalizou a entrega dos primeiros livros, assim como a doação contínua de obras a partir de agora.

Segundo a informação da embaixada aos meios de comunicação social, o objectivo é haver doações anuais.

Entre os livros da nova secção de literatura portuguesa desta biblioteca de Madrid, que tem o nome de José Saramago desde 2011, está a obra completa do escritor, em português e castelhano.

A biblioteca tinha até agora “muito poucas” obras de autores lusófonos, para além das do próprio Saramago, Nobel da Literatura de 1998, disse María José Casseca, durante uma visita ao espaço.

A directora revelou que na sequência de notícias e informações públicas sobre a criação desta secção especializada em literatura lusófona a biblioteca já recebeu muitas manifestações de interesse, sobretudo, de escolas de idiomas.

O protocolo entre a Embaixada de Portugal e o município de Madrid foi assinado no Dia Internacional das Bibliotecas, que tem como lema, este ano, “tecendo comunidades”.

Na cerimónia da assinatura do protocolo, María José Casseca lembrou que Saramago disse que Portugal e Espanha são como dois irmãos siameses que nasceram colados pelas costas e que nunca se olharam na cara.

“Não é de estranhar, portanto, que a língua portuguesa seja um idioma desconhecido para muitos de nós, apesar da proximidade de Portugal. No entanto, graças aos seus escritores e às suas obras, esta distância está a diminuir”, afirmou.

A directora da biblioteca disse esperar que esta se torne um “espaço vivo e dinâmico” capaz de “mostrar a diversidade cultural dos portugueses” através da literatura.

Na cerimónia foi ainda lida uma mensagem de Pilar del Río, viúva de Saramago e presidente da fundação com o nome do escritor, que doou à biblioteca um exemplar do romance Claraboia, em português, assim como uma reprodução do manuscrito original da mesma obra, com as anotações, à mão, do Nobel da Literatura.

UNS FALAM, OUTROS FAZEM

A título de exemplo, em Portugal existe um projecto editorial independente com uma editora, Perfil Criativo – Edições, vocacionada para o mercado europeu, e em Angola a Alende – Edições, em instalação.

Autor (do latim auctor, derivado do verbo augeo, ‘aumentar’) é aquele que cria, causa ou dá origem a alguma coisa, especialmente obra literária, artística ou científica”, in Wikipédia.

Vejamos alguns dos autores da Perfil Criativo que representam o melhor de Angola, Cabo Verde, Portugal e São Tomé e Príncipe:

Álvaro Henriques do Vale | André Novais de Paula | André Zeferino | António Feijó Júnior | António Santos Gomes | Armindo Laureano | Bernardino Luacute | Carlos Mariano Manuel | Clément Mulewu Munuma Yôk | Eugénio Inocêncio (Dududa) | Fernando da Glória Dias | Fenando Kawendimba | Filipe Zau | Filomena Barata | Filomeno Pascoal | Fragata de Morais | Francisco Van-Dúnem “Vadiago” | Frederico Carvalho | Gemma Almagro | Gociante Patissa | Hélder Simbad | Hugo Henriques | Igor de Jesus | Jaime de Sousa Araújo | J.A.S. Lopito Feijóo K. | João Ngola Trindade | João Rodrigues | Job Sipitali | Jonuel Gonçalves | José Bento Duarte | José Paquete d’Alva Teixeira | JRicardo Rodrigues | Kalunga | Karen Pacheco | Kiavanda Felix | Lina Paula Pinto | Lívio Honório | Lobitino Almeida N’gola | Luis Philippe Jorge | Mafrano | Márcio Roberto | Maria Manuela Rocha | Marco Gouveia | Marcolino Moco | Mário de Carvalho | Miguel Neto (Nível) | Milanda | Nazário Muhongo | Orlando Castro | Paulino Maria Baiona | Patrício Wanderley Quingongo | Paulo Faustino | Sandra Poulson | Sebastião Ló | Sedrick de Carvalho | Shafu Duchaque | Tomás Lima Coelho | Tony João | Ventura de Azevedo | Victor Torres | Virgínia Coutinho | Wilton Fonseca | Wylsony dos Santos | Xavier de Figueiredo.

A este propósito é relevante, obrigatório, recordar a Obra de Tomás Lima Coelho “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, uma Obra exemplar que colocou Angola como o primeiro dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa a possuir um acervo desta natureza.

“Quando em 2016, ano em que foi apresentado pela primeira vez o meu livro “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, queria dar o trabalho por concluído, houve alguma insistência por parte da editora e de alguns amigos para continuar e acedi prolongar as pesquisas e recolha por mais dois anos”, recorda o escritor angolano Tomás Lima Coelho, explicando que, “assim, recolhidos em 2016 e 2017, irão juntar-se à nova edição do livro mais 445 novos nomes e respectivas obras, e mais algumas centenas de livros publicados neste período por autores e escritores já referenciados na primeira edição: ficarão assim listados 2.225 autores e escritores”.

Tomás Lima Coelho salientou que “obviamente também aproveitei para limar e corrigir alguns erros e imprecisões que constam da primeira edição, ao que se junta o facto de ter conseguido ainda obter bastantes fotografias e outros dados bio-bibliográficos que nela faltavam”.

Com a modéstia típica dos que fazem História, Tomás Lima Coelho disse esperar “ter contribuído, ainda que de forma modesta, para a preservação da memória de tudo o que foi produzido em livro por angolanos desde o longínquo ano de 1642 até ao final de 2017, reconhecendo, todavia, que poderá dar-se o caso de haver nomes e obras que possam ter escapado à minha pesquisa”.

Em matéria de agradecimentos, Tomás Lima Coelho fá-los a “Manuel Secca Ruivo, o primeiro amigo a acompanhar os meus passos e a quem muito devo, à Editora Perfil Criativo, na pessoa do João Ricardo, que acreditou em mim e no meu trabalho, ao Armindo Laureano pelo inexcedível acompanhamento que fez e que permitiu que o meu trabalho chegasse a Angola, à família que aturou as minhas ausências diárias, e aos muitos amigos e amigas que, generosamente, me foram ajudando a completar a obra fornecendo títulos, fotografias, datas e locais de nascimento dos autores e outros detalhes. Um agradecimento muito especial à Maria Vieira, por tudo”.

“Este trabalho é obra de quase uma década de pesquisas diárias, feitas com muita paciência e persistência, muitas vezes incomodando amigos para chegar a outros”, recorda Tomás Lima Coelho a propósito desta obra.

Folha 8 com Lusa

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