ESCRAVOCRATAS COM FERRARIS, ESCRAVOS COM CANGULOS

Angola deixará de importar milho para abastecer o stock da Reserva Estratégica Alimentar (REA), em 2023, como resultado do programa de fomento agrícola lançado há um ano pelo Executivo, garante o ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes.

O projecto, que envolve os Ministérios da Indústria e Comércio, da Agricultura e Florestas e o Grupo Carrinho, abrange 58 mil famílias que se dedicam a agricultura familiar em todo o território nacional.

Em Maio do ano passado, o Presidente da República, João Lourenço, aprovou mais um crédito adicional no OGE para a Reserva Estratégica Alimentar (REA). Foram, na altura, 55.4 milhões de dólares que se juntaram aos 44,8 milhões aprovados em Janeiro e aos 15,5 milhões autorizados em Dezembro do ano anterior.

Este valor autorizado em Maio de 2022 tinha como finalidade, tal como o montante aprovado no princípio do ano, “fazer face às despesas de reabilitação e expansão das infra-estruturas de apoio à gestão da Reserva Estratégica Alimentar (REA), programa gerido pela Gescesta, empresa dos grupos Gemcorp e Carrinho. Os amigos servem mesmo para isso…

A Carrinho é uma empresa familiar angolana que, diz, está empenhada em desenvolver a primeira estrutura organizacional verticalmente integrada do sector alimentar, gerindo todas as etapas do processo: a originação (este termo não existe na língua portuguesa), o transporte, o armazenamento, a transformação e a comercialização.

A Carrinho garante que tem a maior estrutura de armazenamento do país com uma capacidade de 100 mil toneladas de cereais e 55 mil m3 de tanques de armazenamento de produtos oleaginosos.

«Com 17 fábricas somos um dos parques industriais mais completos do mundo, o que nos permite processar arroz, trigo, milho e refinar óleo, para além da produção de mais de 20 bens de consumo”, afirma a empresa, acrescentando que o seu departamento de logística tem capacidade para transportar por via aérea, marítima e ferroviária mais de 1.4 milhões de toneladas de produtos na África Subsariana.

ENGENHEIROS DO MPLA COM ASSESSORIA BRASILEIRA

Em 1993, “a vontade de superação da Dona Leonor Carrinho, fez com que no meio da adversidade que a família estava a viver, surgisse a capacidade de visionar uma oportunidade: a abertura do Bar. Criado como meio de subsistência para os seus filhos, no quintal da sua própria residência, o bar era gerido pela Dona Leonor e contava com o apoio dos seus 3 filhos e de uma sobrinha”.

A primeira oportunidade (1994 – 2002). O acordo informal entre a Sonangol e Leonor Carrinho, estabeleceu que os quadros técnicos que se deslocassem ao Lobito, passariam a ter as refeições no bar da Dona Leonor, o que veio a tornar-se no primeiro acordo de negócio, cujo rendimento anual veio ascender cerca de USD: 120 000,00.

O acordo com a Sonangol contribuiu sobremaneira para a elevação da reputação da cozinha de Leonor Carrinho, o que permitiu o alargamento do atendimento ao público lobitanga, expandindo, assim, o negócio. Foi, igualmente, nesta altura que a Empresa Nacional de Electricidade (ENE) passou a integrar a lista de clientes, consolidando as suas aspirações empreendedoras.

O Bar Império foi uma das peças fundamentais no que é hoje o Grupo Carrinho, pois, este foi o passo que acabou por mudar toda a história da organização. A família Carrinho interessou-se em explorar um outro bar, que na altura se encontrava disponível, levando Leonor Carrinho a tomar a decisão de no ano de 2002 investir 10 000 USD na abertura do Bar Império. Este bar é propriedade dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB), razão pela qual não foi possível a sua aquisição, mas antes o estabelecimento de um contrato de cedência de exploração.

Foi partindo das relações que se foram estabelecendo com diferentes personalidades (todas do MPLA) que afluíam ao Bar Império, que surge a oportunidade de trabalhar com a Odebrecht. Tendo, este período sido determinante pela aprendizagem que a relação obrigou e que, em consequência, proporcionou várias oportunidades de investimento noutros negócios, que, entretanto, grande parte deles acabariam por ser descontinuados.

No ano de 2005, a empresa Leonor Carrinho & Filhos Lda., conhece a Odebrecht, que é reconhecidamente tida como a escola de gestão dos precursores do projecto Carrinho. O alinhamento com a cultura empresarial da Odebrecht que obrigava a pensar na eficiência, proporcionou excelentes oportunidades de negócio, acabando por aumentar exponencialmente o volume de vendas. A Odebrecht revelou-se crucial, pois proporcionou oportunidades fora de Benguela.

A aplicação dos métodos inovadores de gestão da Odebrecht, apontados pelos altos dignitários do MPLA como a “pedra filosofal” do mundo empresarial, permitiu a Leonor Carrinho gradualmente, integrar na sua carteira de negócio 34 cozinhas, espalhadas por todo o país.

A logística de montagem de 30 lojas da rede de supermercados “Nosso Super” no país, foi feita em prazo recorde, com o apoio da frota de camiões da Leonor Carrinho, tornando-se numa das empresa, em Angola, que mais frete de transportes terrestres contratava, razão que levou a empresa, acidentalmente, a entrar no negócio de transporte de mercadorias.

Entre 2008 – 2009, no auge das 34 cozinhas, da logística do “Nosso Super”, da Camargo Corrêa, da Queiroz Galvão entre outros, a Leonor Carrinho vendia 43M USD/ano. Nesta altura iniciou-se o fim da era da Odebrecht, com a crescente crise mundial que se começou a sentir em Angola. A relação com a Odebrecht existe até hoje através da BIOCOM.

Nem tudo foi um mar de rosas, diz a empresa no seu site “made in Brasil”, referindo que existiram adversidades que abriram caminho para os avanços que se obtiveram e à vista de todos. Neste período, com a redução das obras do programa de investimentos públicos, reduziu também o volume de negócios, foi nesta época que a dura realidade levou a empresa a aprender como lidar e superar as adversidades. E exemplificam:

Falhanço da primeira tentativa de abertura das lojas Bem Barato, que tiveram de encerrar alguns meses depois, por falência; A extinção do negócio próprio da empresa de fretes com camiões.

No entanto, depois de protelar por muitos anos fazer, formalmente, negócios com entidades públicas, a Leonor Carrinho decidiu integrar na sua carteira de clientes de Catering as Forças Armadas de Angolanas (FAA). Por consequência, entre 2012 – 2014, surgiram oportunidades de fornecimentos de cabazes e viaturas às FAA.

A relação com entidades públicas ganhou um impulso com o acordo de fornecimento ao MININT (Ministério do Interior), proporcionando a expansão dos negócios com as entidades públicas, possibilitando a evolução da cadeia de abastecimento, a qual teve um grande impacto no desenvolvimento da divisão de logístico da empresa.

Em 2015 dá-se a reabertura da rede de lojas Bem Barato, com uma diferente dinâmica, que a permite ser o único actor genuinamente angolano, entre os cinco maiores distribuidores de bens alimentares da cesta básica em Angola.

O acontecimento mais relevante foi a transformação da empresa de um grupo comercial para um grupo industrial, com a inauguração do Complexo Industrial Carrinho composto por 17 fábricas, o que permitiu a aceleração da implementação da sua visão de integração vertical, desde a tal coisa a que os brasileiros chamaram de “originação” à comercialização.

Dispondo de 17 fábricas, assume ser um dos complexos industriais mais completos do mundo, o que nos permite processar arroz, trigo, milho e refinar óleo, para além de transformar e embalar mais de 20 bens de consumo diversos.

E assim o MPLA mostrou como lhe foi possível transformar um cangulo num Ferrari, tal como lhe foi possível – com total êxito – transformar os vários Ferraris que tinha em… sucata.

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