É ASSIM MESMO, PRESIDENTE!

O presidente angolano, João Lourenço, pediu hoje no Dubai que sejam honrados os compromissos de financiamento prometidos no passado aos países em desenvolvimento para a adaptação das suas economias às alterações climáticas. Honrem os compromissos tal como o MPLA (há 48 anos no Poder) honrou a promessa de acabar com os pobres de Angola que, actualmente, só são 20 milhões. É assim mesmo, Presidente!

No seu discurso nos Emirados Árabes Unidos, onde decorre a COP28, João Lourenço juntou a sua voz à do Presidente do MPLA, à do Titular do Poder Executivo e à do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (apartidárias) e disse:

“Consideramos importante que se defina nesta COP28 [28.ª conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas] um roteiro em que fiquem estabelecidas as etapas a percorrer, de modo que sejam honrados os compromissos assumidos na COP de Glasgow [em 2021], em que ficou definido o objectivo de se duplicar o financiamento às medidas de adaptação até ao ano de 2025”.

O “financiamento climático para o período pós 2025” deve ter em conta “todo um conjunto de factores que não debilitem e nem fragilizem as economias dos países em vias de desenvolvimento, que não estão capazes de abdicar de um momento para o outro dos recursos naturais fontes de divisas, designadamente o petróleo”, afirmou o chefe de Estado de um dos maiores produtores de ouro negro do mundo e sem o qual já estaria extinto o seu dono, o MPLA. Mas é tudo uma questão de dólares, não é Presidente?

O general João Lourenço realçou a “necessidade do cumprimento das reiteradas promessas de contribuições financeiras e acesso aos financiamentos em condições abonatórias para os países menos industrializados, menos desenvolvidos, com destaque para os pequenos Estados insulares”, que são também os mais ameaçados.

Por isso, o líder do MPLA (que para inglês ver gosta de ser tratado como presidente de Angola) espera que “a crescente sensibilidade dos povos e nações do mundo para as questões que se prendem com o clima” pode levar a que, desta vez, as metas sejam “encaradas com mais empenho e mais determinação”.

No entanto, mesmo sem canais de financiamento adequados, “fazem parte das prioridades centrais em todos os programas e estratégias de desenvolvimento sustentável que delineamos na República de Angola, a questão das alterações climáticas”, afirmou o governante, que recordou a Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas 2022/2035. Isto já para não falar da “climatização” dos caixotes de lixo e das lixeiras onde se alimentam muitos dos 20 milhões de angolanos pobres.

“Realçamos a nossa aposta nas energias renováveis, que representa um dos principais pilares da adaptação às alterações climáticas” e “estamos decididos a alterar a matriz energética nacional, privilegiando as fontes de produção de energias limpas com a construção de aproveitamentos hidroeléctricos e de parques fotovoltaicos”, uma área que representa mais de 65% da energia produzida no país.

“Com o programa em curso de extensão da rede nacional de transporte de energia das principais fontes de produção localizados na bacia do Baixo Kwanza para as províncias do leste e do sul do país, a nossa ambição para os próximos quatro anos é a de descontinuar a utilização das centrais térmicas que ainda alimentam algumas parcelas do território nacional”, explicou João Lourenço.

Por outro lado, o país (referia-se obviamente e de forma eufemística ao seu reino) está “a construir novas e a ampliar antigas barragens hidroeléctricas, que têm proporcionado ao país um aumento significativo da sua capacidade de produção de energia e gerado um excedente que pode atender as necessidades dos países da SADC [Comunidades dos Países da África Austral, na sigla inglesa], sobretudo com a conclusão do aproveitamento hidroeléctrico de Caculo Cabaça e o início das obras do projecto binacional da barragem hidroeléctrica de Baynes sobre o rio Cunene”, que junta Angola e a Namíbia.

“Angola tem vindo a ser vítima do fenómeno de seca severa no sul do país, com efeitos devastadores sobre a vida das populações e da vida animal”, em particular no sul do país, recordou João Lourenço que, presume-se, esteve quase tentado a dizer que a seca nuns lados, ou a chuva noutros, se devem às mãos invisíveis dos opositores…

“Em virtude das consequências das alterações climáticas, Angola teve que procurar soluções endógenas urgentes para salvar populações inteiras dos efeitos da seca”, disse, destacando a construção de um canal de 165 quilómetros de extensão e várias albufeiras de retenção na região do Cafu, na província do Cunene, uma infra-estrutura que resolveu o problema e ajudou a criar condições para o desenvolvimento da agricultura familiar, exemplificou.

É claro, ou não fosse João Lourenço um MPLA de palavra, que lhe cortaram a fala quando ia explicar aos presentes que a infra-estrutura que tinha como objectivo combater a seca severa e beneficiar no total de 230 mil habitantes e 2554 mil cabeças de gado naquela região sul do país, e que foi inaugurado em Abril de 2022 por ele próprio, mas menos de um ano depois o Sistema de Transferência de Água do Rio Cunene através do Canal do Cafu… colapsou (foto).

Folha 8 com Lusa

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