João Lourenço, líder do MPLA, partido no poder em Angola há 46 anos , mas também Presidente da República, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, disse hoje, na província do Cunene, que o país está no bom caminho e que a economia começa a diversificar-se, tornando-se independente das receitas petrolíferas. Tem razão. Quando o MPLA comemorar o centésimo aniversário no Poder (só faltam 54 anos) os angolanos poderão começar a viver como… pessoas.
João Lourenço, que falava na cerimónia de lançamento da pré-campanha do MPLA (partido no poder desde a independência do país, em 1975), frisou que as políticas governamentais têm conseguido promover um bom ambiente de negócio para o país, reconhecido internacionalmente por organizações credoras (que são aquelas a quem se pediu fiado), nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), bem como por agência com a responsabilidade de avaliar o estado das economias dos países.
“Essas agências que têm essa responsabilidade e que não são amigas de ninguém, quando dizem que a economia A ou a economia B vai bem, não é porque são amigos desse país, não é porque foram corrompidos, porque eles não aceitam ser corrompidos, são imparciais, são sérios, fazem o seu trabalho e anunciam os resultados”, disse. Isto é, em português, são aquelas que o Governo – por incompetência própria – escolheu e que, com juros, nos vão dar um frango depois de nós lhes darmos todo o galinheiro
João Lourenço, vestindo o fato de presidente do MPLA mas tendo na mala os fatos de Presidente do país e Titular do Poder Executivo, afirmou que a tarefa de criação de bom ambiente de negócios é antiga, “só que não se fazia”, mas o Governo que lidera (sendo que ele próprio foi ministro de outros governos doMPLA) está a “conseguir de facto dar passos importantes na diversificação da economia”.
“A nossa economia começa a diversificar-se, a dependência da nossa economia das receitas de petróleo começa a reduzir-se gradualmente. Há dias foi anunciado que a nossa economia cresceu 0,7% o ano passado, mas esse crescimento deveu-se sobretudo graças ao crescimento daquela parte da economia que não tem nada a ver com o petróleo nem com o gás, não tem nada a ver com a [petrolífera estatal] Sonangol”, referiu. É obra!
Segundo o líder do MPLA e Presidente angolano, a economia cresceu nos sectores da agricultura, pescas, turismo, indústria extractiva, indústria transformadora, rochas ornamentais. Faltou acrescentar que também cresceu na produção de frangos, loengos e similares, na capacidade de fazer chover quando chove, de pôr os bagres a voar e, é claro, na produção industrial de peritos que para contarem até 12 têm de se descalçar…
“Sobretudo com destaque para a agricultura, foi a principal responsável do crescimento global da economia angolana em 0,7% em 2021”, sublinhou. João Lourenço não explicou, mas subentende-se, que foi graças ao MPLA que os agricultores angolanos começaram a plantar as couves com a raiz para baixo.
“Portanto, estamos no bom caminho, por tudo isso que acabo de vos dizer, significa dizer que o executivo suportado pelo MPLA está com boas políticas de defesa da economia e consequentemente de defesa do cidadão”, acrescentou.
João Lourenço afirmou que o mandato de cinco anos que termina foi difícil, com “grandes desafios por enfrentar”, marcado pela pandemia de Covid-19, que na prática consumiu dois anos, deixando o país “quase parado” no período de confinamento, em que as pessoas não podiam sair de casa nem podiam ir trabalhar.
“Felizmente, encontrámos energias. Quando digo encontrámos não digo que eu encontrei, não! Encontrámos, estou a falar no plural e muito bem, todos nós juntos, governantes e governados, tivemos a sabedoria de encontrar as melhores soluções para ultrapassarmos esses mesmos desafios”, salientou.
O presidente não estava a falar no plural. De facto estava a falar na primeira pessoa do singular, no “eu”. Isto porque é ele que manda e todos os escravos obedecem. Os que teimam em mostrar que não têm o cérebro onde o MPLA quer que tenham (no intestino) estão condenados a entrar na cadeia alimentar dos jacarés que, ao contrário das ordens superiores do MPLA, não se transformaram em vegetarianos.
Uma questão de memória
Em 1973 (ainda o MPLA não tinha comprado Angola) as principais exportações de Angola eram o petróleo (30%), café (27%), diamantes (10%), minérios de ferro (6%), algodão (3%) e sisal (2%).
Angola já foi nos anos 70, em pleno domínio colonial, um dos maiores produtores e exportadores de algodão, situação que – como muitas outras – não soubemos preservar e até ampliar, sobretudo graças a quem nos gere desde 1975, o MPLA..
Angola foi, até ao início dos anos 60 do século passado, essencialmente um reservatório de matérias-primas por explorar, como um diamante em bruto que esperava a lapidação. Mas em 1961 as coisas mudaram e as indústrias até aí adormecidas começam a acordar para o mercado. Com o território aberto para os investimentos nacionais e estrangeiros (não havia FMI ou Banco Mundial) o caminho começou a desenhar-se. As primeiras indústrias a ganhar relevo – ainda que progressivamente – foram as do ferro e do petróleo, que conseguiram um lugar de destaque junto dos chamados produtos tradicionais, como o café e os diamantes.
O ferro principalmente, uma vez que se começou a investir em novas infra-estruturas, nomeadamente transportes (como os caminhos-de-ferro), indústrias extractivas e transformadoras. Foi no início dos anos 60 do século XX que o Planeamento Mineiro deu os seus primeiros passos em Angola, sob o impulso do engenheiro José Quintino Rogado, Catedrático de Preparação de Minérios do Instituto Superior Técnico e Director Técnico da Companhia Mineira do Lobito.
Nessa época surgem as primeiras tentativas de modelização dos recursos minerais metálicos a partir da geo-estatística. A importância da Companhia Mineira do Lobito na economia de Angola era extremamente significativa: o valor médio anual da produção de minério de ferro no período 1968/1973 correspondia a 22.8 % da indústria extractiva e a 9.4% do total das exportações, o que levava a que este produto se posicionasse em terceiro lugar (a seguir ao café e aos diamantes) no ranking da economia de Angola, durante a derradeira fase colonial, em que a produção dos concentrados de ferro cresceu ao ritmo de 23% ao ano.
A Companhia Mineira do Lobito foi fundada em 1957 e logo assumiu a extracção de ferro na Jamba, Kassinga e Chamutete. Esta companhia cedeu depois as actividades à Krupp alemã, que também funcionava com capitais da Greg-Europe Belga e do Japão.
Referem ainda os dados disponíveis que a quantidade de exploração anual, incluindo a produção geral nas províncias de Malange, Bié, Huambo e Huíla, atingia a média de 5,7 milhões de toneladas em 1974. A maior parte do mineral era exportado para o Japão, Alemanha e Grã-Bretanha, que pagavam a Angola 50 milhões de dólares norte-americanos ao ano, a preços constantes.
O potencial mineiro do Moxico também alimentava nesta altura a indústria extractiva do país. Cobre, ouro, volfrâmio, diamantes, manganês e urânio eram transportados pelos Caminhos-Ferro-de Benguela para o porto de Lobito.
O Moxico nasceu à sombra do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e cresceu como entreposto comercial até se tornar no mais importante centro da região. Na época colonial, a capital da província, o Luso (actual Luena) albergava uma das estações principais do CFB. As locomotivas, que transportavam milhares de toneladas de materiais, metais preciosos e produtos agrícolas entre o porto do Lobito, na costa Atlântica, e povoação fronteiriça de Luau, na parte oriental do país, faziam escala no Luso para se abastecer e depositar mercadorias. Ao mesmo tempo, Kassinga, na província de Huíla, era a jóia da coroa da metrópole na época colonial. As minas desta cidade do sul de Angola abasteceram a Siderurgia Nacional com 985 mil toneladas de minérios para transformação.
Rica em ferro e manganês, os minerais eram transportados pelo ramal ferroviário até ao porto do Saco-Mar. E daqui seguiam para a Siderurgia Nacional, no Seixal, nos arredores de Lisboa. O Porto do Saco-Mar, concluído em 1967, possuía uma ponte constituída por betão assente sob fiadas de estacas. Mais tarde, seguiu-se a construção de um local com profundidade suficiente para receber navios de grande porte.
A Siderurgia Nacional (Portugal) era quase sempre o destino dos minerais angolanos. Inaugurada em Agosto de 1961, o complexo industrial produzia 230 mil toneladas de gusa (produto resultante do minério de ferro pelo carvão ou calcário num alto forno), 140 mil de escória, usada em aplicações como balastro de estradas, construção civil e fabrico de cimentos. Na área da aciaria, a produção anual era de 300 mil toneladas de aço bruto, e na laminagem, onde era transformado o aço, produzia-se 150 mil toneladas de aço para betão.
Sem os minérios de Kassinga a produção em Lisboa nunca teria atingido estes valores. Quase dez anos depois, no início da década de setenta a taxa de crescimento da economia angolana atingia níveis elevados fruto das modificações verificadas entre 1960 e 1972, a progressão da produção das indústrias extractivas nos dez anos anteriores. Esse crescimento foi particularmente visível – entre 1960 e 1972 – nos diamantes, ferro e petróleo, sendo que entre 1962 e 1968, a taxa de crescimento das indústrias extractivas foi de mais de 170% (cerca de 28% por ano) com preponderância para o ferro.
E mais: entre 1968 e 1969 as vendas de ferro duplicaram. Foi neste sector — onde se encontrava o essencial dos investimentos estrangeiros multinacionais — que houve a maior expansão no período de 1960-72. Por exemplo, entre 1960 e 1972 a produção de minério de ferro passou, em números redondos, de 660 mil toneladas a 4.830 mil toneladas. O ferro estava em alta: durante esse período o minério era o principal produto exportado de Angola sendo que um importante conjunto de minas de ferro estava localizado nas Províncias do Huambo e Huíla, dentro da bacia do rio Cunene.
A última mina em exploração situava-se em Kassinga, Huíla, tendo cessado a extracção durante a guerra civil. Nessa altura as plantações existiam sobretudo na parte noroeste de Angola com especial destaque para a produção do café, seguida do algodão e do açúcar. As minas existiam sobretudo na parte noroeste de Angola, para a extracção de diamantes, e na parte sul de Angola – planalto de Huíla e Cuando Cubango – para a extracção de minério de ferro. Em 1973 as principais exportações eram ainda o petróleo (30%), café (27%), diamantes (10%), minérios de ferro (6%), algodão (3%) e sisal (2%).
Enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tômbwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
E depois chegou o MPLA e é o que se vê: Vinte milhões de pobres.
Folha 8 com Lusa
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