POLÍCIA MATA MAS A CULPA É DOS ARRUACEIROS

O ministro do Interior de Angola, Eugénio Laborinho, informou hoje, em Luanda, que o polícia que matou a tiro uma vendedora ambulante, na sexta-feira, de seu nome Raquel Kalupe, está detido, e refutou excessos na actuação policial. Se matar, a tiro, uma indefesa cidadã, zungueira, não revela “excesso na actuação policial”, revela apenas que as armas foram feitas para matar e os polícias formatados para puxar o gatilho. Simples.

Eugénio Laborinho reagiu hoje à morte de uma zungueira, na sexta-feira, no distrito urbano da Maianga, província de Luanda, quando efectivos dos serviços de fiscalização tentavam ordenar a venda naquele local. E, como se sabe, para ordenar a venda nada melhor que usar balas reais como instrumento de persuasão.

O governante do MPLA considerou que não há excessos na actuação da polícia, mas sim o desrespeito da população pela polícia. Exactamente. E se a isso se acrescentar que a população, no caso a zungueira, em vez de se desviar dos tiros (para o ar) se atirou provocatoriamente contra a bala…

“Não há excesso da polícia, a nossa sociedade é que tem que respeitar, porque um órgão de polícia, um policial em pleno exercício das suas funções tem que ser respeitado, porque é um agente policial que está aí para manter a ordem e a segurança públicas e qualquer um desses cidadãos sabe que a polícia está aí a cumprir o seu papel”, disse Eugénio Laborinho com a assertividade típica do seu ADN simiesco.

O titular da pasta do Interior defendeu a necessidade do resgate de valores, num trabalho conjunto entre as autoridades e os cidadãos, desde que os cidadãos aceitem pacificamente serem mortos primeiro e detidos depois, bem como serem culpados até prova em contrário. É que essa ideia de que até prova em contrário todos somos inocentes só existe nos países sérios, com governantes íntegros, o que manifestamente não é o caso do reino do MPLA, onde pontificam ministros como Eugénio Laborinho.

O passivo das atrocidades do consulado do homem forte do interior é longo e engloba, também, um crime de genocídio: Cafunfo, em 30 de Janeiro de 2021, na Lunda Norte. Foram mais de 180 assassinatos de manifestantes indefesos, que gritavam por melhores condições, numa zona mineira, rica em diamantes, mas com os cidadãos votados desde 1975 a uma pobreza e miséria extremas.

“O resgate de valores é que tem que ser respeitado e voltar, porque é um trabalho conjunto, porque um polícia é um cidadão, o polícia vem do povo, é filho de um cidadão normal, ele vem do nível camponês, operário, intelectual, etc.”, afirmou Eugénio Laborinho.

Segundo o ministro, a polícia nacional (do MPLA) é moderna, realçando que todos os anos é feito um trabalho do ponto de vista cívico e patriótico dos polícias. E, como todos sabemos, o patriotismo passa por matar primeiro e interrogar depois, de modo a cumprir o exemplo do único herói nacional do MPLA, Agostinho Neto, quando justificou os massacres de milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977 dizendo que “não iam perder tempo com julgamentos”.

“Não podemos negar que não haja de facto um ou outro excesso, mas também, tendo em conta algumas nuances no meio de tudo isso, a nossa população tem que respeitar a polícia”, frisou Eugénio Laborinho.

“Abrimos um inquérito para poder apurar a responsabilidade daquilo que ocorreu, só apelamos à nossa população para ter um bocado de mais calma e que respeite as autoridades policiais, respeitar a ordem”, acrescentou. Para o ministro do Interior, oriundo da mais nobre casta esclavagista do MPLA, “não é aceitável que uma vendedora ambulante venda no passeio, venda nas pedonais, nas pontes aéreas”. Se ainda fosse nas pontes… subterrâneas!

“Então nós temos que manter a ordem, e vamos ser um bocado contundentes nisso, porque o país tem que ter ordem. Se não tiver ordem não sei onde é que estamos, não podemos copiar países africanos que nós conhecemos (…), por exemplo, não podemos chegar ao ponto de uma cidade de Lagos [Nigéria], não é possível isso. Angola é diferente, Angola é Angola, Luanda, Cabinda, Malanje, etc. cada um sabe o seu papel”, sublinhou.

Eugénio Laborinho confirmou a morte de uma pessoa no incidente, desmentindo informações que teriam morrido mais pessoas.

“Isto é falso, é preciso ter em conta que o polícia está armado, do ponto de vista psicológico uma pessoa que é agredida, que lhe pegam na farda, rasgam-lhe a farda, pode perder o sentido, é bom que se cuide isto para não haver exageros, porque um polícia armado, muitas vezes pode ser um homem amado, querido, às vezes perde o sentido”, salientou Eugénio Laborinho.

“É preciso ter cuidado, esse é um trabalho profundo que nós temos estado a levar a cabo junto dos nossos centros de instrução sobretudo e também dizer que, muitas vezes, os nossos policiais sabem como lidar com o povo, nós temos exemplos, e também o povo tem que saber lidar com os policiais, são filhos”, apelou.

Eugénio Laborinho disse que o inquérito foi instaurado no mesmo dia da morte, que o polícia está detido e que as autoridades vão ajudar a família da vítima, nomeadamente com o funeral.

“Sobretudo vamos ajudar no óbito, vamos cumprir com todos os formalismos, preparar as condições de dar a ajuda necessária para que o Ministério do Interior, a Polícia Nacional, cumpra com todos esses pressupostos do ponto de vista social, para que, de facto, honremos com o compromisso e a senhora que foi vítima desse incidente seja enterrada condignamente”, referiu.

Angola tem um governo sério? Só pode ser gralha

João Lourenço já disse que viu roubar, participou nos roubos, beneficiou dos roubos. No entanto, garante que apesar disso tudo não é ladrão… Em Abril de 2020 o Jornal Expansão revelou que o presidente da Assembleia Nacional (AN), Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” recebia um subsídio de renda de casa de 17 milhões de kwanzas por mês.

Segundo o director do Gabinete de Comunicação e Imagem da Assembleia Nacional, foi tudo uma gralha da AN. Mais ou menos como dizer que “Nandó” tinha dormido com o José Maria quando ele dormira com a Maria José.

“Quanto a um possível subsídio atribuído ao presidente da Assembleia Nacional, o que ocorreu foi uma gralha técnica que resultou na inserção do montante ao qual está referenciado como sendo subsídio de renda de casa, quando deveria ser serviços de manutenção e de conservação”, referiu a anedótica nota da AN.

Assim, a pedagógica nota da Assembleia Nacional integrará, com efeitos retroactivos a 1975, a jurisprudência do MPLA. Por exemplo: a Polícia matou a tiro um jovem de 16 anos que com os irmãos circulava nas ruas da capital de um país que também eles julgavam ser o seu.

O que se passou foi “uma gralha técnica que resultou na inserção” de balas nas armas quando, segundo as instruções do ministro Eugénio Laborinho, deveriam ter sido municiadas com rebuçados e chocolates.

Também é falso que João Lourenço tenha visto roubar, tenha participado nos roubos, tenha beneficiado dos roubos. Tudo não passou de “uma gralha técnica que resultou na inserção” errada dos verbos ver, participar e beneficiar.

João Lourenço esbanja para seu proveito próprio (e respectivo séquito bajulador) dinheiro que é tirado do erário público? Esbanja. Se não esbanja, alegaremos que se trata de “uma gralha técnica que resultou na inserção” errada dos verbo esbanjar.

O reino João Lourenço é um dos mais corruptos do mundo e com lugar de destaque mundial a nível da mortalidade infantil? É. No entanto, se não for… alegaremos que se trata de “uma gralha técnica que resultou na inserção” errada da… verdade.

Na Angola de João Lourenço, 68% da população é afectada pela pobreza, a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico. Esta é a verdade. Mas se der para o torto, alegaremos que se tratou de “uma gralha técnica que resultou na inserção”… de qualquer coisa.

Na Angola de João Lourenço apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, há falta de pessoal e carência de medicamentos. É verdade. Mas se der para o torto, alegaremos que se tratou de “uma gralha técnica que resultou na inserção” de dados referentes ao Burkina Faso.

Na Angola de João Lourenço 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos, que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos. É verdade. Mas se der para o torto, alegaremos que se tratou de “uma gralha técnica que resultou na inserção” indevida de dados… verdadeiros.

Na Angola de João Lourenço o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder. É verdade. Mas se der para o torto, alegaremos que se tratou de “uma gralha técnica que resultou na inserção” de elementos que não foram visados pela censura da PIDE… ou do MPLA (a escola foi a mesma).

A paciência tem limites (não é gralha)

Recordar-se-á João Lourenço que o seu partido/Estado garantiu que “o seu Governo tinha o propósito de materializar o estabelecido nos instrumentos jurídicos, nacionais e internacionais, aplicáveis à protecção e à promoção dos direitos inalienáveis da pessoa humana e da criança em particular”?

Como anedota até não esteve mal. Mas a questão das nossas crianças não se coaduna com os histriónicos delírios de um regime esclavagista que as trata como coisas.

O Governo de João Lourenço é signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança e por isso Angola adoptou e incorporou na legislação nacional os princípios estabelecidos naquele instrumento jurídico internacional, no que diz respeito à garantia da sobrevivência e ao bem-estar das crianças.

Assinar convenções, o governo assina, não é senhor general João Lourenço? Cumpri-las é que é uma chatice. Por alguma razão, por cada 1.000 nados vivos morrem em Angola 156,9 crianças até aos cinco anos, apresentando por isso uma das mais altas taxa de mortalidade.

O Governo garante que tem adoptado medidas administrativas, legislativas e de outra natureza, com vista à implementação dos direitos da Criança universalmente reconhecidos e plasmados na Constituição da República, sem distinção de sexo, crença religiosa, raça, origem étnica ou social, posição económica, deficiência física, lugar de nascimento ou qualquer condição da criança, dos seus pais ou dos seus representantes legais.

Muito gostam os auxiliares do Titular do Poder Executivo, como Eugénio Laborinho, de gozar com a nossa chipala, fazendo de todos nós um bando de zungueiros malfeitores e matumbos. Como se não soubéssemos que as nossas crianças são geradas com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome.

O Governo do reino nababo afirma igualmente que a materialização dos Planos de Reconstrução e Desenvolvimento Nacional, associados às Políticas e Programas de Protecção Social, têm favorecido a melhoria das condições de vida da população e, consequentemente, das crianças angolanas.

Convenhamos, por último, que João Lourenço apenas está a fazer o que sempre fez, embora agora tenha todos os poderes. Ou seja, preocupar-se com os poucos que têm milhões para que tenham mais milhões. Quanto aos milhões que têm pouco ou nada, que aprendam a viver sem… comer.

Folha 8 com Lusa

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