O VAZIO TOMOU POSSE…

Sim, o vazio tomou posse, e a covardia de um Tribunal Constitucional sob as ordens do regime decidiu confiar o país ao cidadão João Lourenço que nunca conseguiu ser o presidente de todos os angolanos, aquele que nunca tentou ficar e subir acima a confusão partidária, através de um golpe constitucional cujo culminar do que espera o povo angolano nos foi oferecido hoje por este discurso vazio.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Este vazio que nos foi servido pelo chefe impostor não deve surpreender ninguém, porque apesar de roubar a eleição, não teve a menor palavra de compaixão para com todos os angolanos sem distinção partidária, nem a coragem de dizer realmente que aprendeu as lições de incompetência de seu primeiro mandato.

Este discurso aparentemente vazio sobre os grandes temas que um verdadeiro estadista deveria abordar para apaziguar o país não é realmente vazio, contém muitas promessas estranhas que devemos levar a sério pelas consequências de cada palavra dita.

Este discurso vazio contém a promessa de uma vida melhor para o exército e para a polícia nacional que lhe permitiu roubar a eleição presidencial pelas medidas de intimidação recomendadas para reprimir violentamente todas as manifestações de contestação dos resultados, no dia do juramento.

Gostaria também de dizer que o que me choca não é a comédia que os ciber-seguidores do partido no poder se alegram com o reconhecimento dos americanos ou outros ocidentais, não, é sobretudo o comportamentos dos nossos, os que votaram na FPU, que pensam e acreditam que para chegar ao poder, que Adalberto da Costa Júnior e os seus aliados se aventurariam a chamar o povo para as ruas e ser massacrado como o regime havia programado, poder que colocou o país à mercê da agonia, e que os medíocres decidiram preservar pela força das armas e da justiça

Sim, é frustrante e questionável se os deputados da oposição devem ou não sentar-se na Assembleia, mas para mim esta questão não se coloca, e estou orgulhoso da campanha de proximidade que os dirigentes da FPU têm efectivamente levado a cabo antes e depois das eleições, sem cobertura da mídia pública.

Perante o discurso do presidente dos angolanos do MPLA, o resto do povo não deve desanimar ou baixar a guarda porque a luta real só continua, ou seja, os partidos políticos continuarão a liderar a batalha pela mudança no Parlamento que é o seu espaço jurídico-legal, o restante da população e sociedade civil também em seus respectivos espaços de expressão, portanto o espaço público.

Não é pela frustração nem pela desmoralização que conseguiremos desconstruir este monstro (MPLA) que já derrotamos pela verdade das urnas, apesar da tomada de reféns de todas as instituições pelo MPLA, conseguiremos apropriar-nos da nossa dignidade como povo somente através da determinação e a partir de agora… sem tréguas!

Eleições angolanas? Foi um referendo ganho pelos Cabindenses

Digo-o com tanto orgulho porque todo o trabalho para despertar a consciência da juventude de Cabinda que cada um de nós teve que fazer no seu canto, deu frutos, o povo soberano ouviu-nos como um simples líder de opinião, um opinião contrária à da resistência armada, e assim venceremos.

Estou ainda mais orgulhoso, sobretudo porque o povo de Cabinda recusou-se a ouvir as vozes que pronunciaram o boicote, e foi votar contra o regime do MPLA, e o poder do seu voto apagou definitivamente o poder do MPLA em Cabinda sem armas de guerra, mas pelo poder soberano do voto.

Esta vitória dos Cabindenses contra o MPLA deve ser aplaudida pelo seu carácter histórico, porque num país de direito, este poder não se envergonharia de nomear o cabeça-de-lista que ganhou as eleições no círculo provincial para o cargo de governador de Cabinda, com o projecto pelo qual foi eleito.

A todos, por todo o trabalho realizado, gostaria de dizer que não devemos falhar, mas redobrar os nossos esforços e não baixar a pressa, deixando-vos meditar nesta citação de Franklin Roosevelt, que dizia que na política nada acontece por acaso. «Sempre que um evento ocorre, pode-se ter certeza de que foi planejado para se desenrolar dessa maneira.»

Viva o povo de Angola e que Deus abençoe o povo de Cabinda

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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