MPLA ATIRA A PEDRA E ESCONDE A… PATA!

O MPLA, a virgem das virgens, “não tomou conhecimento” nem forneceu material de propaganda ou meios financeiros para a passeata que terminou, no sábado, em Luanda, com actos de vandalismo e violência, disse à Lusa o porta-voz do partido no poder em Angola desde 1975, Rui Falcão. Aliás, nesse dia, o MPLA nem sequer estava em Angola, portanto…

Cerca de 14 mil motoqueiros desfilaram no passado sábado, em Luanda, numa passeata “em louvor dos feitos” do Presidente angolano, João Lourenço, também presidente do MPLA e recandidato ao cargo nas eleições gerais de 24 de Agosto, organizada pela Associação de Jovens Unidos e Solidários (AJUS), cujos dirigentes são militantes de uma seita desconhecida em Angola e que se chama Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

A iniciativa, realizada no mesmo dia em que João Lourenço presidiu a um megacomício que marcou o arranque da campanha eleitoral, terminou com distúrbios e actos de vandalismo, alegadamente devido ao facto de a organização ter falhado nos pagamentos aos jovens participantes, o que a AJUS desmente.

Além de uma viatura incendiada, na Ilha de Luanda, os motoqueiros queimaram também material de propaganda política com a efígie de João Lourenço.

No entanto, o porta-voz do MPLA, Rui Falcão, nega que o partido tenha fornecido materiais, sublinhando que “os meios de campanha não têm qualquer semelhança com os usados na dita passeata”.

Em resposta às questões colocadas pela Lusa, Rui Falcão garantiu que o secretariado do Bureau Político “não fez qualquer contacto” com os envolvidos e que a estrutura de coordenação da campanha “não tomou conhecimento de qualquer passeata”.

“Não faria qualquer sentido autorizar a sua realização no preciso momento em que estávamos a preparar o lançamento da nossa campanha com um comício gigantesco” presidido pelo candidato do MPLA, comentou e onde o partido que terá, ao que tudo indica, juntado mais de 20 milhões de pessoas, pelo que não sobraria nenhum angolano para participar na dita passeata.

A polícia angolana nunca se pronunciou oficialmente sobre a ocorrência, porque – compreende-se – se o MPLA não estava em Angola, a Polícia Nacional (do MPLA) também não estava.

Nas redes sociais, há relatos que apontam para três mortos e um número indeterminado de feridos e detidos que a polícia não confirma nem desmente, optando por não responder às questões. Refira-se, em abono da verdade, que se há mortos isso não foi provocada pela Polícia que, como diz Rui Falcão, também “não tomou conhecimento”.

Kundi Paihama, Bento Bento, Rui Falcão e Francisco Furtado

Dizia o do ex-ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria… do MPLA, na altura governador do Huambo, Kundi Paihama (já falecido), que a história de Angola era rica em exemplos e actos indeléveis de heroísmo e valentia protagonizados por milhares de patriotas angolanos, e pelo sacrifício dos melhores filhos desta pátria.

Sim, era o mesmo Kundi Paihama que disse: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”. Sim, é o mesmo Kundi Paihama que afirmou: “Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”. Sim, é o mesmo Kundi Paihama que aconselhou os angolanos de segunda a comer farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.

Como sempre fazia quando falava do aniversário do início da luta armada de libertação nacional, em representação do “querido líder” José Eduardo dos Santos, Kundi Paihama disse que “é graças a este heroísmo que da luta armada de libertação nacional contra o regime colonial português que hoje honoramos a memória dos nossos heróis preservando a paz e democracia”.

De acordo com o ex-ministro do farelo, foi a partir da inspiração e coragem e determinação desta acção que se considerou que a via armada era a única solução para derrubar o regime colonial, generalizando-se aos poucos em todo o território nacional, gerando um amplo movimento de libertação nacional.

Talvez tenha sido a partir dessa inspiração que o MPLA também resolveu matar milhares e milhares de outros angolanos, como fez Agostinho Neto nos massacres de 27 de Maio de 1977.

Mais uma vez os especialistas (muitos são portugueses) contratados pelo regime angolano dizem a João Lourenço que a vitória eleitoral não está garantida. O MPLA está cada vez mais nervoso e procura soluções radicais. Iremos assistir a uma reedição da estratégia seguida em 2012?

Pouco antes das eleições de 2012, em várias províncias, nomeadamente Benguela e Kwanza Sul, a população começou a debandar para as matas temendo, como diziam, o regresso da guerra.

Mas, afinal, quem falava em guerra? O próprio regime que estava então a movimentar as Forças Armadas Angolanas (FAA) por todo o país, justificando com uma normal movimentação de efectivos. A população não acreditava. E era isso mesmo que o MPLA pretendia.

Na capital mas com repercussão nacional, Bento Bento, pedia aos militantes do seu partido para que controlassem “milimetricamente” todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem “surpreendidos”. Hoje o general Francisco Furtado, ministro de Estado e chefe da Casa Militar de João Lourenço, avisa que quem criticar o MPLA “vai levar no focinho”.

De acordo com o então primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidira enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando à desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.

Era caso para dizer: Que bandidos são estes tipos da oposição. E na altura (como hoje) Francisco Furtado ou Rui Falcão ainda não descobriram que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Isaías Samakuva e Abílio Camalata Numa, Adalberto da Costa Júnior têm em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…

Dizia Bento Bento que a direcção do MPLA “tinha dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA estava prestes a levar a cabo um plano B”. Tinha? Será que agora não tem? Francisco Furtado sabe, com certeza.

Este plano previa, segundo os etílicos delírios de Bento Bento, “uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia”, sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas. Aí estava o espírito da guerra, tão querido ao MPLA.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, ténue e embrionária, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA a governar o país.

Para além do domínio total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA sempre apostou forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.

No início de 2008, circularam notícias convenientemente plantadas que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.

Disparate? Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Bento Bento, Luvualu de Carvalho, Francisco Furtado e Rui Falcão afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo ou do regresso à guerra civil.

Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié, Benguela ou Huambo.

Bento Bento, foi um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos e, agora, Francisco Furtado e Rui Falcão reforçam os snipers de João Lourenço nesta matéria, não tardarão – se assim for conveniente – a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, vai “levar no focinho”.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados, ou a armar-se, que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus mercenários para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.

O regime reeditará em 2022, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas do seu plano de 2008 e de 2012.

“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008.

Na de 2012 manteve-se o conteúdo e só a embalagem mudou qualquer coisa. Pouca coisa, aliás. Na de 2017 apenas deixou de aparecer a chipala de José Eduardo dos Santos.

No terreno está a onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes. Para além da apertada vigilância sobre os dirigentes da cúpula da UNITA (incluindo escutas telefónicas), foram reactivadas as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro, bem como as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais, as quais podem contar – se for necessário – com armamento ligeiro.

Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

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