Mesmo sem votar, os angolanos já “votaram” no MPLA

A voz da porta do MPLA, eufemisticamente designado porta-voz ou secretário do Bureau Político do MPLA para a Informação, Hidulika Kambami (Albino Carlos, em português) manifestou-se confiante na vitória do seu partido nas próximas eleições gerais em Angola, agendadas para 2022. “O povo angolano vai renovar o seu voto de confiança no MPLA”, disse em entrevista ao site “Fonte de Notícias”.

Em relação ao possível entendimento entre a UNITA (partido dirigido, segundo os sipaios do MPLA, por um estrageiro), o Bloco Democrático e o PRA-JA, Hidulika Kambami disse que essa aliança “é sinónimo da vitalidade” do sistema democrático angolano. A voz da porta do MPLA afirma (depois de ler a ordem superior de serviço) que “em Angola não é preciso fomentar actos de subversão da ordem constitucional para se chegar ao poder”, numa clara alusão aos últimos acontecimentos na localidade de Cafunfo, província da Lunda Norte. Aliás, foi mesmo isso que fez o herói nacional do MPLA, Agostinho Neto, quando mandou assassinar milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.

De acordo com o Governo, um grupo de cidadãos tentou, na madrugada de 30 de Janeiro, tomar de assalto (ou seria a salto?) a esquadra policial da vila de Cafunfo. Da acção, que as autoridades classificaram de “rebelião armada”, resultou a morte de alguns supostos invasores, bem como o ferimento de outros e de agentes das forças da ordem e segurança.

A este propósito, Hidulika Kambami sublinhou que o quadro político vigente em Angola “permite o exercício de todos os direitos, liberdades e garantias aos cidadãos”, desde que – acrescente-se – sejam do MPLA e que mesmo assim provem que não têm coluna vertebral e que têm o cérebro no local recomendado pelo Bureau Político, ou seja, nos intestinos.

“Advogo o direito à manifestação, mas condeno veementemente todos os actos de subversão da ordem constitucional”, diz Hidulika Kambami, citando vários gurus do MPLA, desde Joseph Goebbels (Hitler) a António Ferro (Salazar), passando por Lúcio Lara (MPLA) .

“A soberania nacional é uma questão sagrada”, disse a voz da porta, esquecendo-se de dizer que isso só vale se a soberania for assegurada pelo MPLA. Ainda em relação ao assunto, o secretário do Bureau Político para a propaganda acrescentou: “Mas para a UNITA e seus apoiantes de última hora, o que conta é somente tirar o MPLA do poder. Estão obcecados pelo poder da vingança”. Quem diria?

Quanto ao combate à corrupção que supostamente está em (re)curso em Angola, Hidulika Kambami disse que, quando se trata de defender os superiores interesses de Angola e dos angolanos, “o Presidente João Lourenço revela-se um homem determinado, corajoso e sempre imbuído de sentido de Estado”, razão pela qual (como todos sabem) amplia a tese de que o MPLA é Angola e Angola é (e é mesmo) do MPLA.

“Para o MPLA, a soberania nacional e os interesses do Povo angolano são sagrados. Nós vamos é incrementar o combate à corrupção, que é um combate de todas as forças vivas da Nação. Já não é apenas uma luta do MPLA”, destacou.

Soberania escancarada aos estrangeiros

Os sucessivos erros na política, tomados por agentes com responsabilidade pública, pagam-se caro, principalmente, quando depois de alcandorados ao topo da magistratura republicana, quer seja através de indicação ideológica, golpe militar, nomeação monárquica ou eleição, lesam, caprichosamente, terceiros de boa-fé (populações e povos).

Um alto dirigente político, comprometido com o país e a cidadania tem no ponteiro da sua bússola, um único objectivo de nobreza: implantar um verdadeiro projecto de sociedade, oposto aos vulgares, sarcásticos e sanguinários projectos de poder.

Angola, o nosso belo e pujante país, com potencialidades capazes de conferir dignidade a cada um dos seus cidadãos, que, em 1975, sonhou em ser, verdadeiramente, independente, política e economicamente dos estrangeiros, em homenagem à soberania e orgulho angolano, navega em águas turvas, com a recorrente falta de educação, saúde, emprego, desenvolvimento económico e estabilidade social, fruto de uma gestão absolutista, com laivos de fascismo, ditadura, monarquia, socialismo barroco e neocolonialismo.

O país nunca esteve tão mal, como nos últimos anos, fruto de uma visível falta de estratégia republicana, responsável pelo aumento da fome, miséria, inflação, desemprego e elevada frustração dos jovens, descrentes nos políticos e política, por isso uma grande maioria desejosa em imigrar para o exterior do país.

Muita dessa frustração reside no facto de estar a viver-se uma espécie de colonialismo económico, depois de João Lourenço ter dado carta-branca aos estrangeiros de poderem constituir empresas a 100%, acabando com a lei anterior, que impunha empresas mistas: 51% (estrangeiro) e 49% (angolano), visando ajudar a criar uma classe empresarial nacional forte.

Agora assiste-se à implantação de latifundiários estrangeiros, com a aquisição das melhores e grandes extensões de terras aráveis, compra de fábricas, supermercados, armazéns de comida e lojas retalhistas, tudo na mão de quem é ajudado pelos respectivos países, com financiamentos bonificados, para investir no estrangeiro, no caso Angola.

O caso da venda de terras, sem rigor, coloca em risco a soberania de um país e Angola não fugirá à regra, muito em função das medíocres opções neoliberais adoptadas por um péssimo programa económico que violenta, diariamente, a vida dos autóctones angolanos.

Muitos Estados, estrategicamente, pela falta de zonas aráveis, adquirem, em países cujos líderes não tem uma real visão nacionalista, grandes e significativas extensões de terras aráveis, onde implantam métodos avançados de produção agro-pecuária, virados para a exportação, que não é mais do que uma verdadeira reserva alimentar, para os seus respectivos países, contando com a mão-de-obra barata dos angolanos, que passam a trabalhar como escravos do século XXI, na própria terra, comendo fuba podre, peixe podre e ganhando 50 angolares (20 mil kwanzas/mês), com o beneplácito do executivo angolano. Uma vergonha! Um crime de lesa pátria!

O Presidente da República, na senda de adoptar as políticas do Fundo Monetário Internacional, se não for mais cauteloso, poderá estar a ser usado como peão, para venda das principais empresas públicas, minas, terras, do país ao desbarato ao capital estrangeiro, que com forte poder económico, poderão, num curto espaço influenciar e depois deter o poder político do país.

O MPLA, aliás, já deu o mote, mostrando ao país não ter pejo em oferecer a nacionalidade, por dá cá aquela palha, a estrangeiros, muitos dispostos a trabalhos sujos, como os traficantes de armas; o francês Pierre Falcone, o russo Gaydamak, ou o burlador bancário polaco, Tomaz, responsável pela falência do banco BANC, nomeado coordenador do CAP (Comité de Acção do Partido) do MPLA de Belas, em Luanda.

E com o domínio destas duas importantes ferramentas: Economia e Política, não espantará ver; “chilatos” (filho de angolana com chinês); “libatos” (filho de angolana com libanês); “francolatos” (filho de angolana com francês); “inglato” (filho de angolana com inglês); “tugato” (filho de angolano com português); “maliatos” (filho de angolana com maliano); “polatos” (angolana mais polaco), etc., num futuro breve a concorrer para os mais relevantes postos de comando no país.

Actualmente, nos programas exibidos nas cadeias de televisão e rádio, sobre a diversificação da economia, veem-se, para tristeza dos autóctones, fábricas, obras de construção civil, minas e fazendas agro-pecuárias, maioritariamente dominadas ou pela nova casta do MPLA ou por estrangeiros, que se gabam de abocanhar a maioria dos financiamentos bancários. Os conflitos de terras, um pouco por todo mundo e em África, em particular, resultam das más políticas de determinados líderes de países africanos complexados e sem um verdadeiro projecto de sociedade, capaz de guindar os seus cidadãos a patamares de desenvolvimento digno.

O Quénia, cujas plantações de chá e flores contribuem, grandemente, para o seu Produto Interno Bruto, com mercado seguro, na Inglaterra e Holanda, conhecido como país das túlipas, estas chegam, diariamente, deste país africano, produzidas por latifundiários estrangeiros.

O Zimbabwe é dos maiores produtores de tabaco, também, flores, e vive situação igual, pois as melhores terras ou estão na mão de estrangeiros ou de brancos locais, que discriminam os seus irmãos de raça preta, factor que esteve na base do conflito de terras, por sinal, muito mal gerido pelo ex-presidente, Robert Mugabe, cujas opções políticas levaram o país à fome e miséria, sem precedentes, que levou ao seu derrube.

A Europa, a China e a Índia, por exemplo, não têm muitas terras aráveis bastantes, para a sua auto-suficiência alimentar, logo, a estratégia é a de comprarem grandes extensões, no nosso continente, no fito de não lhes faltar os produtos nas suas terras e, quando surgem, verdadeiros líderes, comprometidos com o orgulho e futuro dos seus povos, ou morrem cedo, como Nelson Mandela, ou são assassinados, como Tomas Sankara.

Por esta razão, os cidadãos, enquadrados ou não nos partidos políticos, na sociedade civil, organizada deverão iniciar debates sérios, sobre o rumo actual do país, a estratégia que está a ser seguida de desmonte da economia nacional, a fome, a miséria, o desemprego, a luta contra os pobres, para se aferir da importância e urgência da realização de uma verdadeira revolução social, capaz de nos devolver, a independência nacional, as nossas línguas, as nossas tradições, os nossos costumes, a nossa gastronomia, os nossos nomes, o nosso orgulho de ser angolana e angolano.

Pensemos nisso. Pensemos país, para não acordarmos, um dia, e nada mais nos pertencer, numa reedição das tenebrosas noites dos cinco séculos de colonização, mas agora, devido às políticas erradas de uns poucos, partidocratas no poder.

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