ELOGIO COBARDE E ASSASSINO

O Presidente do MPLA, de Angola (não nominalmente eleito) e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, destacou hoje a liderança do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, na construção da paz no país, exortando as novas gerações a não repetirem os erros do passado. Está lançada a principal candidata à anedota do ano, na vertente da hipocrisia.

João Lourenço, que – como candidato único – foi reeleito na sexta-feira como presidente do MPLA, discursou hoje ao longo de quase uma hora e meia num acto de massas no Estádio 11 de Novembro, na pele de líder do partido que governa Angola há 46 anos e recordou o papel desta força política, que comemorou na sexta-feira o seu 65.º aniversário, em Angola e no continente africano. Justo seria, diga-se, referir também que o MPLA teve um papel relevante, quase único, também na América, Europa, Ásia, Oceânia, Antárctica e o mais que existe…

Sublinhando que foi o MPLA que “verdadeiramente” lutou pela independência de Angola e resistiu às forças invasoras do apartheid, salvando África do seu “pior inimigo” – o regime do apartheid – disse também que foi este o partido que está por detrás da construção da paz. Está, aliás, por detrás igualmente da descoberta da roda, do Raio X, da Penicilina, do computador, da máquina a vapor, da pólvora, do telégrafo ou do caminho marítimo para o Huambo.

“Essa paz foi construída pelos angolanos em geral, mas tinha de haver um líder e esse líder apoiava-se na força de um partido político”, afirmou referindo-se a José Eduardo dos Santos, que esteve ausente do VIII Congresso do MPLA, que terminou sexta-feira, e cujos familiares e colaboradores próximos estão a contas com a justiça de João Lourenço.

João Lourenço salientou que o ex-Presidente, enquanto chefe de Estado e comandante em chefe das forças armadas “foi magnânimo e com esse comportamento garantiu que a paz alcançada a 4 de Abril de 2002 perdurasse até aos dias de hoje”, uma paz que “tem um começo, mas não pode ter um fim”.

Atribuiu também ao MPLA e aos seus sucessivos governos o mérito da reconstrução do país, devastado por um longo conflito interno que durou 30 décadas, auto elogiando-se também pelo pedido de perdão, este ano, aos familiares das vítimas dos conflitos políticos, na qualidade de chefe do Estado angolano, num processo que continua a reconciliação nacional iniciada em 2002.

“Tínhamos o dever de nos reconciliarmos com todos os angolanos”, realçou João Lourenço, dizendo que evocar a história não é para andar para trás e repetir os erros do passado.

“Devemos de vez em quando, não com outros objectivos, mas apenas com intenção de dizer as novas gerações para lhes dizer: não façam o que nós fizemos. O que fizemos de bem, repitam e multipliquem, o que fizemos de errado, não façam porque as consequências podem ser muito graves”, vincou o político, acrescentando que “a luta continua, mas de outra forma”, indo agora no sentido de aprofundamento da democracia, o que deve ser feito “com sabedoria” e “com segurança”.

O actual Presidente da República do MPLA (se fosse de Angola teria, necessariamente, outro comportamento), João Lourenço, qualificou no dia 23 de Maio de 2018, em Luanda, José Eduardo dos Santos, famigerado “escolhido de Deus” e “arquitecto da Paz”, como exímio diplomata, “que conduziu, com mestria e saber, o processo de reconhecimento, pela comunidade internacional, do Estado angolano, fundado a 11 de Novembro de 1975”.

João Lourenço discursava na 8ª Reunião de Embaixadores de Angola no Exterior, que pretendia alicerçar uma diplomacia mais eficiente e virada para a promoção da boa imagem do país, para a captação do investimento privado estrangeiro e para a sua eleição como destino turístico.

Nesse discurso, o Chefe do Estado do MPLA enalteceu, também, o seu antecessor, em toda a sua acção, “que permitiu à Nação angolana sobreviver perante a hostilidade do regime do apartheid e dos seus aliados e afirmar-se como Nação solidária com os povos oprimidos da África austral e do resto do Mundo”.

“Quero, por isso, realçar o facto de que, ao longo de toda a nossa história, ter sido crucial o papel desempenhado por exímios diplomatas angolanos, dentre os quais quero destacar a figura do Presidente José Eduardo dos Santos”, disse o Presidente João Lourenço, 41 anos depois do ingresso de Angola na ONU.

Custa a compreender a dificuldade que o mundo tem em reconhecer o papel único – como muito corrobora João Lourenço – de José Eduardo dos Santos, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Esperemos que, tão rapidamente quento possível, a Academia Sueca não se esqueça de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz. E se tal não for possível, atribuam-no ao seu “filho”, João Lourenço.

Ao excluírem sistematicamente o “escolhido de Deus”, o “arquitecto da Paz”, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando regime do MPLA, sob comando do general João Lourenço, espirra o mundo apanha uma grave pneumonia. O MPLA através dos impolutos órgãos de comunicação social, vai com certeza – se acaso ela se voltar a esquecer – declarar a Academia Real Sueca “persona non grata”, prevendo-se a promulgação de um decreto, com efeitos retroactivos, em que se corta todo o tipo de relações com aquela instituição.

Todo o mundo sabe, ou devia saber, que José Eduardo dos Santos foi a figura africana do ano durante 38 anos, assim como João Lourenço já tem o mesmo estatuto há quatro anos.

A Academia Sueca parece, contudo, esquecer pontos fundamentais, tão assertivamente evidenciados por João Lourenço que, aliás, espera incluir no seu próprio currículo. Nós ajudamos:

“O Presidente João Lourenço é o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos”;

“João Lourenço (não foi, mas poderia ter sido) foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado. João Lourenço só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos”.

E nestes quatro anos já é possível, e justo, dizer que:

– Foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar;

– O divino carisma de João Lourenço já o tornou o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela, Martin Luther King e até mesmo Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi.

Também concordamos que, em alternativa e em função do que já fez nos últimos quatro anos, João Lourenço merece um Prémio Nobel que, contudo, ainda não existe. Ou seja, um Nobel que distinga quem é o principal responsável por Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países menos corruptos do mundo, por ser um dos países com melhores práticas democráticas, por ser um país sem assimetrias sociais, por ser o país com o menor índice de mortalidade infantil do mundo.

Escrever sobre João Lourenço abordando tanto a sua divina e nunca vista (nem mesmo pelo Vaticano) qualidade de Presidente da República como a de simples, honrado, incólume, impoluto, honorável e igualmente divino cidadão, tem tanto de fácil como de complexo. Fácil porque basta conjugar o verbo elogiar. Complexo porque não há qualificativos que cheguem…

Por outras palavras. Fácil, porque se trata de uma figura que lidera o top das mais emblemáticas virtudes da humanidade, consensualmente (desde a Coreia do Norte à Guiné Equatorial) aceite como possuidora de uma personalidade até hoje acima de qualquer outra.

Não admira, pois, que seja considerado com toda a justiça não só pai da nação do MPLA, de África, do Mundo e de tudo o mais que se vier a descobrir nos próximos séculos. Isso foi mais ou menos o que João Lourenço disse de Eduardo dos Santos, dirão os leitores. É verdade. Mas se ele disse isso do anterior Presidente, imaginem o que dirá de si próprio quando se olha ao espelho…

A complexidade de se escrever sobre João Lourenço resulta, afinal de contas, da soma dos factores que já o tornam unanimemente como a mais carismática, impoluta, honorável divina etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Quem com ele conviveu na infância e na juventude reconhece-lhe o mérito de, ao longo dos anos, se ter mantido fiel a si mesmo, mostrando já desde pequeno (talvez até mesmo antes de nascer) a sua faceta de futuro cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Dizem os muitos milhões de amigos que tem espalhados por todo o universo conhecido, que sempre foi amigo dos seus amigos, que nunca esqueceu de onde veio e muito menos de onde nasceu e com quem conviveu nos bancos da escola.

Sempre disponível para ajudar quem a si recorre nas mais variadas circunstâncias, João Lourenço é o rosto da generosidade, da determinação, do carisma que caracterizam um ser impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade.

Mas há mais. Para além da sua faceta enquanto cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. e figura da história da humanidade, é igualmente um homem (talvez o único) de paz e de uma só palavra, discreto a ponto de se recusar a dar ordens para que seja escolhido como vencedor do Prémio Nobel da Paz, preferindo passar os louros da sua excelsa, impoluta e honorável governação para os seus colaboradores.

A sua dedicação à família, caso a merecer estudo científico por ser único desde a pré-história, é assumida sem grande alarido, mas com uma total devoção.

Homem de uma só palavra, cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade, João Lourenço carrega consigo o segredo de ser amado por 99,6% dos angolanos….

Embora seja um cidadão carismático, impoluto, honorável, divino etc. etc. etc. figura da história da humanidade, dizem os seus impolutos colaboradores que é uma pessoa normal, de carne e osso.

E é aqui que reside o busílis. Assim não será eterno.

Folha 8 com Lusa

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