O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou hoje a casa atelier de Binelde Hyrcan, numa acção para dar visibilidade à criação de jovens artistas angolanos e em que no final molhou os sapatos no mar da Ilha de Luanda. Era para visitar o novo sistema de abastecimento alimentar gratuito lançado pelo MPLA para da dar uma ajuda aos 20 milhões de pobres, mas o seu protocolo disse-lhe que não tinha a indumentária necessária para ir às… lixeiras.
Depois de uma breve passagem por um centro comercial do centro de Luanda, de um almoço rápido e de um encontro restrito com o arcebispo Filomeno Vieira Dias, Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se com um dos mais conceituados jovens artistas plásticos angolanos, com prestígio sobretudo no Mónaco, França e Portugal: Binelde Hyrcan.
Binelde Hyrcan, além de pinturas e outras criações da sua autoria, junta outros jovens ligados a áreas como o cinema, o teatro ou a arquitectura, envolvendo-se em equipa em projectos de recuperação de bairros degradados de Luanda.
“Ele já expos em Serralves, é polivalente (pintura, desenho, instalações, ópera, filmes, documentários). Tem ideias originais, como seja a de ter ido a pé de Lisboa até Paris. Mobiliza um conjunto de jovens para manterem a cultura viva”, salientou o chefe de Estado português no final de uma vista de cerca de duas horas, em que terminou a beber uma cerveja Cuca.
“É uma cerveja leve, como a Laurentina de Moçambique, ou algumas do Brasil”, elogiou Marcelo.
Mas Marcelo Rebelo de Sousa elogiou sobretudo a ideia deste grupo de jovens, impulsionado por Binelde Hyrcan, de reabilitação urbanística de zonas antigas da capital angolana, “juntando realidades novas”.
“Estamos perante um animador cultural, além de um criador cultural, que viveu bastante tempo no Mónaco. Mostra uma geração diferente a recriar Angola e Luanda. É o que eles estão a fazer”, acentuou o chefe de Estado português.
Após a visita ao ateliê e antes de se reunir com os chefes de Estado da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe, Marcelo Rebelo de Sousa ainda arranjou tempo para ir a uma praia da Ilha de Luanda, que estava deserta por causa das restrições de confinamento impostas pelas autoridades angolanas para o combate à pandemia da Covid-19.
O Presidente da República portuguesa (nominalmente eleito, ao contrário do seu homólogo angolano) percorreu em passo rápido o extenso areal da praia, de fato e gravata, com parte da comitiva oficial portuguesa, jornalistas, seguranças e polícias angolanos a correrem atrás de si.
Aproximou-se tanto do mar que veio uma onda e molhou-lhe os sapatos. Nada que o tivesse incomodado.
O Presidente das República prometeu regressar em 6 de Janeiro próximo para o casamento do jovem artista angolano. Nessa altura conta dar um mergulho no mar da Ilha de Luanda. Por agora, os mergulhos estão proibidos.
Angola, diz a propósito de tudo e de nada o Ti Celito, é um “portento de força e de futuro, à escala regional e global”, salientando que os dois países vivem um momento “motivador” após “demasiados anos de sensação de compasso de espera”. Estará ele a falar dos nossos 20 milhões de pobres?
Em 2019, numa entrevista ao semanário económico angolano Vanguarda, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que a visita que iria realizar na altura a Angola demonstrava que o trabalho que tem sido feito pelos dois Estados tem resultados “acima das expectativas”. Estaria a falar no elevado índice de mortalidade das crianças angolanas?
“O que mais importa é que se vive um momento motivador nas relações entre Angola e Portugal, depois de anos, demasiados, de sensação de compasso de espera, de adiamento, de falta de mais próximo contacto”, sublinhou Marcelo, destacando o facto de não existirem áreas tabu entre os dois países.
Quererá isto dizer que Marcelo estaria atento (minimamente que seja) ao facto de em Angola poucos terem muitos milhões e muitos milhões terem pouco ou… nada?
Segundo o chefe de Estado português, o nosso “Ti Celito”, a referida visita de Estado simbolizava também o reconhecimento do papel da “notável” comunidade portuguesa presente no país, razão pela qual a deslocação estender-se-á também às províncias de Benguela e da Huíla, onde existe uma forte marca colonial portuguesa.
“A visita [a Benguela e à Huíla] corresponde a uma forte vontade minha de não ficar só em Luanda, mas, também, de uma proposta angolana, permitindo abarcar uma visão mais rica e variada desse portento de força e de futuro que é Angola, à escala regional e global. E, nessa realidade, não só cabe como desempenha um papel muito importante a notável comunidade portuguesa dispersa por todo o território angolano”, afirmou na altura.
Será que, por falar da comunidade lusa, Marcelo se recorda dos níveis de desenvolvimento – sobretudo em matéria de auto-suficiência alimentar – que Angola tinha na época (1973/1974) em que era colónia portuguesa? Se se recorda poderia lembrá-lo ao seu anfitrião…
Em 2019, questionado sobre que áreas se pode dar mais um salto qualitativo na cooperação bilateral, Marcelo respondeu que passam “por todas as que forem possíveis”, das sociais às culturais, das económicas às financeiras.
Sobre a Presidência de Angola da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Marcelo indicou ter “elevadas expectativas”, sobretudo no reforço já lançado pela “intensa” liderança de Cabo Verde, um tema que disse constituir um “debate estimulante” em que “nenhuma ideia deve ser excluída”.
Em relação à liderança de João Lourenço em Angola, cuja dinâmica é vista internacionalmente como um “comboio em andamento”, o presidente português destacou que Portugal estará sempre do lado do desenvolvimento angolano. O que Marcelo queria dizer é que Portugal estará sempre ao lado MPLA, desde logo porque para os dirigentes políticos lusos (a começar nele próprio) Angola é do MPLA e o MPLA é Angola.
Quanto à simpatia específica por João Lourenço (também foi assim quanto a José Eduardo dos Santos), importa não esquecer que Marcelo Rebelo de Sousa felicitou o seu homólogo pela eleição (não nominal) ainda os resultados não tinham sido divulgado…
“Onde estiver o comboio angolano, aí está Portugal. Onde estiver o comboio português, aí está Angola. Um e outro sempre em posições de destaque”, respondeu, considerando, por outro lado, “ser difícil não criar empatia” com João Lourenço e com a “primeira-dama” angolana, Ana Lourenço, cuja relação “anda paredes meias com a amizade”.
Aliás, já era assim quando João Lourenço era vice-presidente do MPLA sob a presidência de José Eduardo dos Santos e, também, quando João Lourenço era ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos.
“Falamos muito à vontade e sobre tudo o que pode ser importante para os dois povos. Só assim nasce a total verdade na compreensão mútua. E muito tenho aprendido com o que oiço e reflicto acerca deste importante momento angolano e do fundamental impulso dado pelo senhor Presidente João Lourenço”, acrescentou Marcelo.
Bem que poderia ter corroborado o prazer que tem igualmente quando fala com o Presidente do MPLA, João Lourenço, ou com o Titular do Poder Executivo, João Lourenço…
Folha 8 com Lusa