O Governo angolano previa um crescimento ligeiro de 0,6% da economia, mas espera agora que se mantenha estagnada até ao final do ano, face aos resultados negativos do sector não petrolífero, disse hoje o ministro da pasta, Sérgio Santos. Há um mês o ministro Manuel Nunes Júnior dizia outra coisa. Ainda não será este ano que, figurativamente, as couves serão plantadas com a raiz para baixo.
Sérgio Santos, em declarações à imprensa no final da reunião da Comissão Económica do Conselho de Ministros, disse que para o desastre económico contribuiu também a revisão os efeitos da segunda época agrícola do ano passado. Pena é que ninguém valorize os nossos políticos agricultores que, por exemplo, plantam mandioca e colhem… automóveis topo de gama.
“Fizemos uma revisão da programação macroeconómica executiva e alinhamos a meta de crescimento económico ao OGE (Orçamento Geral do Estado). Estamos na expectativa de sair da recessão económica deste ano e passarmos para um período de estagnação”, referiu Sérgio Santos.
O governante disse que políticas activas estão a ser adoptadas, principalmente no sector petrolífero, que tem um peso muito grande no volume da produção (exportação, entrada de divisas) nacional. E, é claro, a fatal dependência do petróleo (que tanto gosta de azucrinar os peritos do MPLA) é uma situação nova pois só existe há… 45 anos.
“Estamos a trabalhar com o sector privado para aumentarmos a produção e por isso mesmo a nossa expectativa, se atingirmos a estagnação será muito positivo”, referiu Sérgio Santos, em declarações emitidas pela rádio (pública) do MPLA.
O ministro da Economia e Planeamento frisou que a inflação, cuja taxa atingiu no primeiro trimestre 24,2%, continua a gerar o crescimento geral de preços, sendo o crescimento económico “o caminho definitivo para aumentar o volume de bens e serviços disponíveis no mercado”.
Por outras palavras, Sérgio Santos (tal como os seus antecessores) conhece bem – a partir do remanso do seu gabinete – a estrada da Beira. No entanto, quando entra no país real, e olha à sua volta conclui que afinal foi “enganado” e que está tão-só na beira da estrada.
“E é isso que se pretende saber com as medidas que estamos a adoptar no sentido de aumentar o crédito para a economia e muito brevemente teremos a reserva de segurança alimentar a actuar no mercado para a estabilização dos preços”, salientou. Será? Seja como for, com a inflação em alta e o kwanza a furar o fundo, quem paga a crise são todos aqueles que continuam (sem grande sucesso, diga-se) a aprender a viver… sem comer.
O governante garantiu que há, em relação ao poder de compra e ao controlo da inflação, programas e metas concretas, “para reverter num curto prazo a tendência de inflação que existe”. Boas contas fazem as zebras do MPLA. Ou será que são burros de pijama às riscas?
“Queremos crer que o sector não petrolífero vai continuar a crescer com grande dinamismo, portanto, para o sector petrolífero, que sofre os efeitos da pandemia, o que está previsto nos próximos trimestres é que a produção recupere e chegue a 1,2 milhões barris/dia. Até Março estava em 1,132 milhões barris/dia”, adiantou.
“Se recuperarmos, com o facto de o preço do petróleo também estar a aumentar, agora encontra-se em 69 dólares por barril, nós poderemos perfeitamente chegar à estagnação ou até mesmo ao crescimento”, prognosticou.
Sérgio Santos realçou que economistas estimam um crescimento de 1%. “Se calhar estão a apostar no sucesso de todas essas medidas”, disse, mas o Governo prefere ser moderado.
“E achamos que, no mínimo, vamos ter estagnação, a menos que aconteça mais um efeito extraordinário e nos coloque outra vez no estado de recessão”, acrescentou.
É a Covid-19, é a chuva, é a seca. Nunca é o MPLA
No passado dia 23 de Abril, o Governo assumiu que a pobreza multidimensional no país se tenha “agravado para mais de 54%”, sobretudo devido às “dificuldades impostas pela Covid-19”, que se juntam ao “excesso de chuvas, à seca e outras calamidades”. Para dizer que toda esta “pobreza multidimensional” tem na sua origem outras causas, estamos cá nós. É essas devem-se a um vírus para o qual não existe, por enquanto, cura. Trata-se da pandemia MPLA-45.
Segundo o ministro Sérgio Santos, que admitiu um “aumento da população em condição de vulnerabilidade no país” (pobreza em português acessível), os dados sobre a pobreza em Angola estão a ser permanentemente actualizados.
“Os dados mais recentes da pobreza multidimensional, publicados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística), davam um nível preocupante de pobreza em Angola na ordem de 54%, sabemos que este número poderá ter-se agravado, sobretudo no último ano”, afirmou o ministro.
Para Sérgio Santos, a Covid-19 contribuiu para o “aumento do grau de vulnerabilidade” (repita-se: pobreza em português acessível) de muitas famílias no país, que perderam o seu rendimento em consequência da pandemia, agravado com “situações preocupantes como excesso de chuvas ou a falta delas”. É a Covid-19, é a chuva, é a seca. Nunca é o MPLA.
As “calamidades naturais poderão também ter tirado rendimento a muitas famílias, portanto esses dados têm de ser permanentemente actualizados”, apontou.
O ministro falava no final de cerimónia de apresentação do programa sobre o “Reforço das Sinergias entre a Protecção Social e a Gestão das Finanças Públicas”, orçado em 1,8 milhões de euros, financiados (é claro!) pela União Europeia (UE).
O governante considerou que o programa visa melhorar a condição de vida dos angolanos, porque o “nível de vulnerabilidade no país ainda é elevado” e, com a crise da Covid-19 e outras situações, a população vulnerável tem estado a aumentar.
“Por isso, queremos agradecer aos nossos parceiros de desenvolvimento, porque a preocupação principal do nosso Governo é com o bem-estar social, o que queremos com todos os programas que temos é melhorar a condição de vida dos angolanos”, assinalou Sérgio Santos.
O programa lançado em Luanda, implementado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), prevê fortalecer a capacidade das instituições públicas para aumentar o orçamento e melhorar a prestação de serviços de protecção social em Angola.
Sérgio Santos reiterou o agradecimento do Governo angolano para com as Nações Unidas e a UE “neste momento que é difícil para todos os países do mundo”, considerando o momento “muito importante” na cooperação com os parceiros internacionais porque, notou, é preciso “fazer tudo para não deixar ninguém para trás”, para apoiar as populações, “principalmente aquelas mais vulneráveis”.
O envelope de financiamento da União Europeia “é destinado para oito países do mundo, Angola foi seleccionada como sendo um país preocupado com o desenvolvimento social, alinhado com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável”.
A “melhoria de sinergias” entre os vários departamentos ministeriais dedicados aos três pilares da protecção social em Angola, nomeadamente a protecção social de base, segurança social e complementar, consta entre as “acções imediatas” a serem desenvolvidas.
“Pensamos que com este esforço financiado pela UE vamos poder, até ao final do projecto, em 2022, trazer coisas concretas para melhorar as sinergias dos nossos programas na área social”, frisou.
Um dos produtos concretos desta sinergia, sublinhou Sérgio Santos, vai ser a melhoria das estatísticas.
“Portanto, aos beneficiários dos programas sociais, queremos promover maior digitalização, capacitação dos técnicos que trabalham com a protecção social e melhor alinhamento dos programas por forma a optimizarmos os poucos recursos que temos”, rematou.
Entretanto, o ministro da Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, disse na mesma altura à agência de informação financeira Bloomberg que a economia deveria crescer 1% este ano e que as taxas de juro poderão descer quando a inflação abrandar. Por outras palavras, quando forem plantadas com a raiz para baixo… as couves vão sobreviver.
A economia vai crescer 1% este ano depois de cinco anos de contracção, graças ao crescimento em sectores como a agricultura e a construção, com várias reformas lançadas para diversificar a economia, disse Manuel Nunes Júnior, salientando que uma recuperação nos preços do petróleo também ajudou a estabilizar as reservas totais do país para cerca de 15 mil milhões de dólares, cerca de 12,5 mil milhões de euros, o equivalente a um ano de importações. Pouco mais de um mês depois, Sérgio Santos diz o contrário. É o MPLA no seu melhor!
Folha 8 com Lusa