O Presidente do MPLA, da República e Titular do Poder Executivo sempre que fala de Angola garante com uma impoluta convicção que o Governo usará todos os recursos ao seu alcance para auxiliar empresas, trabalhadores, famílias e todos quantos precisarem de ajuda.
É com certeza por isso que todos os angolanos dormem mais descansados sempre que ouvem João Lourenço. De barriga vazia (enquanto não aprenderam a viver sem comer) mas descansados.
Se João Lourenço o diz é porque assim vai ser. Não sabemos se tal se conseguirá através de menos despedimentos, se por meio de mais um cobertor para os sem-abrigo ou, quiçá, pela oferta de uns tantos títulos da dívida pública, mesmo que considerados lixo.
Há hoje quem diga que João Lourenço pode vir a ser uma espécie de Marcelo Caetano. Embora nos pareça que está mais perto de Salazar, talvez se aproxime de outra emblemática figura do prostíbulo português – José Sócrates. Vejamos. Recordam-se da mensagem de Natal de 2008? Sim, essa mesmo em que José Sócrates teve uma conversa em família, ao estilo de Marcelo Caetano?
O então primeiro-ministro português sublinhou que o ano de 2009 (ao tempo que isso foi!) ia ser “difícil e exigente para todos” (isto é como quem diz… sempre para os mesmos), razão pela qual o dever do seu Governo era “não ficar à espera que os problemas se resolvam por si próprios”. Hoje João Lourenço diz a mesma coisa.
“Pela minha parte, e pela parte do Governo, quero garantir-vos que não temos outra orientação que não seja defender o interesse nacional neste momento particularmente difícil. E defender o interesse nacional é usar todos os recursos ao nosso alcance, com rigor, sentido de responsabilidade e iniciativa, para ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades, e para incentivar o investimento económico que gera riqueza e emprego”, disse então (Natal de 2008) José Sócrates. Hoje João Lourenço diz a mesma coisa.
Digam lá que o homem não falou bem? É claro que não sabe o que diz e nem diz o que sabe. Se assim não fosse diria, desde logo, que o Governo iria responsabilizar os empresários que, devido à suposta generalização da crise, contratam directores para descobrirem a melhor forma de porem as suas empresas também em crise.
Além da garantia de acção perante a crise, usando para tal todos os meios possíveis ao alcance do Estado, José Sócrates pretendeu também deixar uma mensagem de “esperança” em relação ao futuro e de “confiança” face aos próximos desafios resultantes da “grave crise económica e financeira” mundial.
Foi no Natal de 2008. Uma mão cheia de nada. Muitos portugueses estavam nessa altura como estão hoje e estarão nos próximos anos. Isto é, estão como o tolo no meio da ponte. Não sabem para que lado devem ir. E é nessa altura que descobrem que afinal nem ponte existe. Foi Sócrates em Portugal, é hoje João Lourenço em Angola.
Sócrates frisou (Natal de 2008) que “os portugueses podem contar com a determinação do Governo” no presente “momento difícil da Europa e do mundo”. “Os angolanos podem contar com a determinação do Governo” no presente “momento difícil de África e do mundo”, adapta e actualiza hoje João Lourenço.
“Determinação no apoio à economia. Determinação, também, na defesa e na promoção do emprego. Mas, determinação, sobretudo, na protecção das famílias, especialmente às famílias de menores rendimentos, protegendo-as das dificuldades que sentem e ajudando-as nas suas despesas principais”, acrescentou José Sócrates, de alguma forma antecipando o que diria hoje, em 2021, João Lourenço.
E depois das palavras, José Sócrates voltou a olhar para o lado e a assobiar, dizendo que são as regras de uma economia de mercado. Para nós a diferença só está no facto de que João Lourenço não olha para o lado. Olha para o umbigo.
“Foi por isso que criámos as condições para que baixassem os juros com a habitação, generalizámos o complemento solidário para idosos, protegemos as poupanças, aumentámos o salário mínimo e actualizámos os salários da função pública acima da inflação”, disse, ainda (Natal de 2008) José Sócrates em referência a medidas tomadas pelo Governo.
João Lourenço, contudo, não vai tão longe. É que habitação, complemento solidário para idosos, poupanças, aumento de salário são projectos que só chegarão a Angola quando o MPLA comemorar 100 anos de governação ininterrupta. Já só faltam 55.
“O país precisa de atitude, de empenhamento e de determinação”, salientou José Sócrates. João Lourenço diz: “Vamos trabalhar com mais determinação, de forma mais abnegada e organizada”.
Foi com certeza por isso que o então primeiro-ministro português substituiu o primado da competência pelo da subserviência, o profissionalismo pela bajulação. Foi por isso que o Governo valorizou quem não erra, esquecendo-se de verificar que os que não erram são os que nada fazem. Foi por isso que entre um competente e um néscio com uma boa cunha, ou cartão do partido, escolheu o néscio.
É com certeza por isso que o nosso primeiro-ministro (Titular do Poder Executivo), João Lourenço, substituiu o primado da competência pelo da subserviência, o profissionalismo pela bajulação. É por isso que o Governo valoriza quem não erra, esquecendo-se de verificar que os que não erram são os que nada fazem. É por isso que entre um competente e um néscio com uma boa cunha, ou cartão do MPLA, escolhe o néscio.