Irene fala de massacre?

Irene Neto, filha do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto, e mulher do empresário Carlos São Vicente, afirma-se vítima de um “massacre judicial e mediático” e apelou à libertação do marido, que disse estar “preso injustamente”. Será que, como habitualmente, vai acusar o Folha 8 e fazer queixa à ERCA?

Em comunicado, a médica, também membro do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder há 45 anos) lamenta a falta de solidariedade dos camaradas de partido, sobretudo – calculamos – daqueles que ajudaram o seu pai a massacrar milhares e milhares de angolanos do genocídio de 27 de Maio de 1977, e afirma estar actualmente sem meios para pagar as suas despesas quotidianas, depois de ver as suas contas congeladas.

Em relação ao marido, que se encontra em prisão preventiva na cadeia de Viana por suspeita dos crimes de peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influências (acusações estranhas já que, até agora, só envolveram figuras do… MPLA), envolvendo uma conta de 900 milhões de dólares (cerca de 770 milhões de euros) também congelada na Suíça, Irene Neto afirma ser “um cidadão honrado e cumpridor das leis angolanas” que está preso apenas por ter tido “sucesso”.

Irene Neto tem razão. Carlos São Vicente “cumpriu as leis angolanas”. Tal como Isabel dos Santos e todos os dirigentes do MPLA que se limitarem a fazer o que a lei do partido permitia, até porque está no seu ADN. Ou seja, roubar o erário público, fazendo da corrupção a mais nobre qualidade de um partido revolucionário.

Irene Neto acusa as autoridades (do MPLA) de alimentarem “um circo mediático” contra a sua família e diz que o marido é vítima de um julgamento “criado artificialmente e alimentado por sectores bem identificados”… do MPLA.

Estamos em crer que, nesta altura, Irene Neto (tal como a Fundação Agostinho Neto) já terá apresentado mais uma queixa à Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) contra o Folha 8, acusando-nos de liderarmos o “massacre mediático” contra o clã Neto.

No episódio anterior, que agora pode ser reeditado quase “ipsis verbis”, o Folha 8 foi alvo de uma queixa da Fundação Agostinho Neto junto da ERCA por alegadamente instigar “o ódio incendiário” e ofender o primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto, tendo o regulador considerado que as nossas práticas editoriais atentam contra “a honra e dignidade dos obreiros da independência nacional, nomeadamente do Presidente – fundador da República de Angola António Agostinho Neto”.

Em causa, na deliberação do Conselho Directivo da ERCA do MPLA, estava a “ocorrência de alguns factos susceptíveis de esclarecimentos como a comparação do antigo Presidente a personalidades consideradas defensoras da escravatura, feita pelo Folha 8”.

O alegado artigo do Folha 8 onde Agostinho Neto teria sido apontado como escravocrata, não passou de um post (publicação) no Facebook publicado no dia 17 de Junho em que não é feita qualquer referência directa a Agostinho Neto.

O ‘post’ diz que “vários países estão a retirar dos espaços públicos as estátuas de assassinos, ditadores e defensores da escravatura. Em Angola está a demorar para que isso aconteça” e foi publicado ao lado de uma foto com um busto do primeiro presidente onde se lê “Assassino Agostinho Neto”, tendo uma grua como pano de fundo.

Na queixa, a Fundação alega que “há mais de 30 anos” o Folha 8 acusa, sem provas, Agostinho Neto de criminoso, ditador e assassino, pretendendo “impor a sua narrativa tirana, desrespeitando a figura do primeiro Chefe de Estado e violando a lei aplicável sem qualquer reacção da ERCA nem do Governo”. Por aqui se vê como o clã Neto está dotado de poderes divinatórios. Repare-se que, apesar de só termos 25 anos de existência, “há mais de 30 anos” que acusamos Agostinho Neto. É obra!

“O Folha 8, com rigor, não faz jornalismo e, por esse facto, urge aplica a lei e ser imediatamente encerrado”, pediu a Fundação na queixa dirigida à ERCA e assinada pela presidente do Conselho de Administração, Irene Alexandra Neto, filha do ex-presidente falecido em 1979.

“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse nos seus tempos áureos o pai de Irene Neto. “É legitimo que a Fundação defenda o seu patrono e que o MPLA defenda o seu presidente, mas é também legítimo que as pessoas que não se revêm em Agostinho Neto assumam que não lhe reconhecem os valores humanistas de grande libertador e combatente da liberdade”. É igualmente legítimo que Irene defenda o seu marido e que tente, segundo as suas palavras, evitar que lhe façam o que o seu pai fez a milhares e milhares de angolanos – o massacrem.

Por sua vez, das três “acusações” que supostamente o Folha 8 fez ao sogro de Carlos São Vicente (assassinos, ditadores e defensores da escravatura) o Bureau Político do MPLA só contesta a terceira. Assim, dá como provadas e inquestionáveis as duas primeiras: Assassino e ditador. Finalmente.

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