A província do Cunene terá a partir do Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2020 uma rubrica específica que contempla recursos destinados a atender à problemática da seca e da fome que afecta milhares de pessoas e animais desde Outubro de 2018 na região. Fome? Mas se João Lourenço diz que não há fome em Angola, das duas uma: Ou o Cunene não é Angola, ou o Presidente é mentiroso.
A informação foi avançada à Angop pelo governador do Cunene, Virgílio Tyova, explicando que a inscrição da referida rubrica foi já autorizada pelo Presidente da República, João Loureço, para cobrir exclusivamente os programas emergentes de combate às duas situações.
“Ao invés de se declarar uma calamidade natural no Cunene, porque já se sabe que todos os anos isso ocorre, o Chefe de Estado autorizou que no orçamento do próximo ano haja verbas para dois programas permanentes de emergência, que vigorarão entre três a quatro anos”, disse Virgílio Tyova.
Segundo Virgílio Tyova, o Programa de Emergência Contra a Seca vai suceder às acções emergências em curso para mitigar os efeitos deste fenómeno, que já afectou directamente 857.443 pessoas, 171.488 famílias, 907.572 bovinos e 436 localidades.
De Outubro do ano passado à presente data, morreram 19.539 animais, em todo o Cunene, entre bovinos, caprinos e suínos, motivo pelo qual o governador provincial aplaudiu essa medida do Presidente da República, sublinhado ser altura de se acabar com o sofrimento dos habitantes locais.
“No próximo ano vamos ter o mesmo problema, então não podemos estar mais nas correrias, sabendo que teremos o mesmo nível de seca e fome. O valor canalizado para estes dois programas será essencialmente para providenciar mantimento num banco alimentar” – avançou Virgílio Tyova.
Com isso, adiantou Virgílio Tyova, vai-se poder comprar milho, massambala, massango e peixe seco, que são a base da dieta alimentar da maioria das populações que vivem no meio rural, permitindo uma capacidade de resposta imediata às necessidades das populações.
Na ocasião, o governador provincial do Cunene esclareceu que a rubrica autorizada pelo Presidente da República nada tem a ver com os 200 milhões de dólares autorizados, em Abril, para a construção das três barragens hídricas, respectivos canais adutores de água e 89 chimpacas, para acudir à seca.
“Os furos de água podem avariar e os camiões podem gripar, daí que precisamos fazer uma gestão. E para tal, precisamos ter recursos para fazer a gestão dos equipamentos e dos meios de captação, transporte e distribuição de água durante três anos, pelo menos”, afirmou Virgílio Tyova.
Desde que o Cunene enfrenta problemas de seca e cheias, a contar do período pré-independência, esta é a primeira vez que o Executivo Angolano autoriza e/ou disponibiliza valores para a materialização de projectos e acções tendentes a combater o fenómeno na província.
Recorde-se que o Presidente da República, João Lourenço, mentiu quando, na entrevista à RTP por ocasião de visita de Marcelo Rebelo de Sousa, disse que não há fome em Angola, retratando que o que há, apenas aqui ou ali, é uma ligeiríssima má-nutrição. E com ele mentiram também o Presidente do MPLA, João Lourenço, e o Titular do Poder Executivo, João Lourenço.
Provavelmente João Lourenço deve ter feito estas declarações depois de um frugal e singelo almoço, do tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005.
Compreende-se (isto é como quem diz!), que tenha arrotado esta (e outras) mentira em solidariedade com os nossos 20 milhões de pobres que, por sua vez, arrotam à fome e morrem a sonhar com uma refeição.
Em 2018, os próprios dados governamentais davam conta que Angola tinha uma taxa de desnutrição crónica na ordem dos 38 por cento, com metade das províncias do país em situação de “extrema gravidade de desnutrição”, onde se destacava o Bié, com 51%.
As províncias do Bié com 51%, Cuanza Sul com 49%, Cuanza Norte com 45% e o Huambo com 44% foram apontadas, na altura, pela chefe do Programa Nacional de Nutrição, Maria Futi Tati, como as que apresentavam maiores indicadores de desnutrição.
“São cerca de nove províncias que estão em situação de extrema gravidade de desnutrição, sete províncias em situação de prevalência elevada e duas províncias em situação de prevalência média”, apontou Maria Futi Tati, em Junho de 2018.
Por sua vez, um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) indicava que, em Angola, 23,9% da população passa fome.
Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos”.
Reparou Presidente João Lourenço? 6,9 milhões?
Falar hoje de fome em Angola é propagar uma mentira para a qual apenas contribuiu o anterior rei-marimbondo mas que, como garante João Lourenço, já “faz parte da história”. Vejamos. O ministro da Agricultura e Florestas de Angola, Marcos Alexandre Nhunga, disse no dia 12 de Setembro de 2018 que o país tem alguma “população considerável que não passa fome como tal”, mas que “se encontra numa situação difícil”.
Sendo Marcos Alexandre Nhunga ministro de João Lourenço, tem com certeza toda a razão. Mesmo assim… “Não passa fome como tal”? Ou passa fome ou não passa, dizemos nós. Essa coisa de “fome como tal” não existe. Queria o ministro dizer que passa fome às segundas, quartas e sextas e come qualquer coisa às terças, quintas e sábados? E que “como tal” aos domingos faz jejum?
Marcos Nhunga falava aos jornalistas depois de questionado pela agência Lusa sobre o relatório de segurança alimentar e nutrição elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o qual indica que, em Angola, 23,9% da população passa fome. Passa forme. Não “fome como tal”.
“É uma realidade, mas não temos essa realidade. A FAO divulga os seus dados e não queremos fazer comentários. Mas a FAO, quando divulga, tem dados com base num levantamento a nível mundial”, afirmou o governante. E o que é que um levantamento a nível mundial afecta, “como tal”, os dados relativos a cada país?
Repetimos e repetiremos sempre. Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos”.
Marcos Nhunga sustentou que a constatação é diferente da que pode parecer… “como tal”.
“[Angola] ainda tem alguma população considerável, que não digo que passem fome como tal, mas que está numa situação difícil. Exactamente por isso é que o governo quer melhorar e está a fazer intervenções no meio rural no quadro da actividade produtiva, para que possa resolver os problemas ligados à fome e à pobreza”, disse o ministro.
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